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Infantil-->" O CAOZINHO" -- 28/08/2004 - 22:59 (RUBENS NECO DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“ O CÃOZINHO”
( PSEUDÔNIMO : NECO)


Acordei e mal consegui abrir os olhos. Minhas irmãs estavam ao lado de minha cama numa verdadeira disputa de quem iria me contar primeiro a grande novidade. Entre tapas e beliscões diziam ao mesmo tempo:
-Nasceu, nasceu!
-Sua chata. Eu queria contar para ele.
E saiu chorando a procura de mamãe, dizendo que Kátia havia batido nela. Minha mãe entrou no meu quarto e pediu para que eu me levantasse, caso contrário minhas irmãs se matariam. Mas até então não tinha entendido nada, então questionei minha mãe sobre quem tinha nascido. Ela respondeu-me sorrindo para que eu mesmo fosse ver na garagem.Após me recompor desci. Encontrei novamente Larissa e Kátia brigando. Elas são gêmeas, com apenas quatro anos de idade e são as coisas mais lindas que já vi nestes longos oito anos de existência. Ás vezes brigo com elas, mas é somente para manter a autoridade, senão são capazes de dominar-me.
Enquanto Larissa dizia que queria um, Kátia colocava-se á sua frente dizendo que já havia escolhido o seu. Segurei-as pelas mãos e entramos na garagem. Era um cenário maravilhoso. Laia nossa cachorra tinha dado cria a três lindos filhotes, fiquei emocionado. As duas correram e pegaram os filhotinhos que eram encantadores, e ainda estavam com os olhinhos fechados. Kátia queria saber quem seria o pai e Larissa retrucava dizendo que ouviu mamãe dizer que era o cachorro do vizinho.
-Aquele cachorro malcheiroso que correu atrás de você Lelo?
-Marcelo eu já disse! Já disse a vocês duas que não quero ser chamado de Lelo. Daqui á pouco todos os meus colegas estarão chamando-me por esse apelido, e eu não gosto. Laia começou a latir, era hora de amamentar suas crias. Os pusemos no lugar e acompanhamos a alimentação daquelas fofuras que sugavam Laia desesperadamente.
Os próximos dias foram fantásticos, tínhamos disposição para acordar cedo e dormir tarde, estávamos de férias e foi ótimo, porque pudemos acompanhar o crescimento deles nas primeiras semanas. Porém a alegria durou pouco. Meu pai estava desempregado, e sentiu que haveria dificuldades em mantê-los, afinal eram pequenos ainda, mas já começavam a alimentar-se de rações, além dos cuidados com vacinas, banhos tosas e tudo o que um animal necessita. Foi uma choradeira. Nós já tínhamos nos apegado aos filhotes, mas tivemos que optar por apenas um. Kátia queria ficar com o dela á todo custo. Larissa não perdeu tempo dizendo que era óbvio que o filhote dela é que iria ficar. Olhei para as duas que novamente começaram a discutir e dei uma sugestão.
-Que tal, se pedíssemos para o papai deixar os outros na casa da vovó. Assim aos domingos podemos visitá-los e brincar com eles.
A proposta foi aceita tanto por papai como pela vovó, que jamais recusaria um pedido de seus únicos netos. Escolhemos o mais bonito e esperto de todos eles. Era branco, com algumas manchas pretas e tinha alguns pêlos discretos em tom de marrom claro. Era um magnífico e verdadeiro exemplar da raça Vira-Lata chamado Braque, Larissa escolheu este nome porque achava parecido com o nome de papai que é Basílio.
Os meses passaram, ele crescia depressa, mas era novinho ainda. Comia de tudo. Rasgava o que via pela frente, estragou todo o jardim. As roupas que ficavam no varal eram destruídas em questão de minutos. Meu pai nunca mais conseguiu ler um jornal inteiro. Latia de dia e de noite. Brigava com os gatos que invadiam o quintal e comiam sua comida.
Braque era o nosso mascote. Improvisamos uma coleira e sempre levávamos para passear no bairro. Era quase impossível segurá-lo, pois ele enfrentava todos os cães, não tinha
tamanho que o amedrontasse. Colocava para correr qualquer outro cachorro, mas sabia que estava numa coleira, e sentia-se protegido. Mas logo ele se cansava e não queria mais andar, tentava puxá-lo pelo pescoço, mas empacava e o jeito era pegá-lo no colo e trazê-lo até em casa, e eu chegava quase morto.
As aulas já haviam recomeçado e as meninas estavam cursando a Pré-escola. Às vezes a professora das meninas deixava levar o cãozinho para a escolinha. Ficava num lugar apropriado para que elas pudessem vê-lo de vez em quando. Braque já fazia parte do dia a dia delas. Por muitas vezes minha mãe chegou a tirá-lo debaixo das cobertas, pois até para dormir elas o queriam por perto.
Certo dia, Larissa foi sozinha até o supermercado que era próximo de casa para comprar doces. Braque ficou latindo, queria ir junto. Ela dizia para ele ficar quietinho esperando, pois já voltaria, além do que, ele não podia entrar no supermercado. Braque latia como nunca, estava inconformado por ter ficado sozinho.Tentou por várias vezes pular o portão, até que conseguiu e correu para a rua á procura de Larissa que já tinha adentrado no supermercado. Braque ao chegar no local, conseguia vê-la. E ficou esperando por ela do lado de fora como se fosse um soldado, pois o dono do supermercado com uma vassoura ameaçava-o para que ele não entrasse. Sua atenção foi desviada por um cão que passou por ele, brincaram um pouco e logo o outro foi embora. Braque voltou a olhar para dentro do mercado tentando localizar Larissa. Ele corria de um lado para o outro, olhava por baixo das pernas dos clientes que passavam pelo guichê do caixa, mas era sempre repelido e voltava para sua posição de guarda. Enchia o peito e lá de fora procurava a menina. Outros cães que acompanhavam outros clientes ficavam ali na parte da frente sempre amarrado para não fugir, Braque estava livre e os provocava correndo de um lado outro. As crianças que acompanhavam seus pais ficavam encantadas com Braque, ele era muito dengoso e carinhoso com elas.
O fim de tarde chegou. O cãozinho estava com fome e foi alimentado por várias crianças, davam-lhe doces, água e guloseimas, mas ele não conseguia esquecer Larissa, acreditava que ela ainda estava dentro do mercado e ficava atento para quando ela saísse.
Anoiteceu. O movimento de pessoas no supermercado aumentou e Braque tinha dificuldades em localizar Larissa. Tentou mais uma vez entrar no local, mas foi em vão. O segurança não deixou novamente. Havia mais de dez guichês e todos estavam com movimento muito grande, eram pessoas de todas as idades quase todas brincavam com ele, achavam-no lindo, e comentavam sobre sua postura á espera por alguém. Foi tão insistente que chamou a atenção dos funcionários, que notaram sua presença desde a manhã esperando alguém.Avisaram pelo microfone sobre um cachorrinho que aguardava por seu dono. Os clientes não entenderam nada e não houve manifestação por parte de ninguém, o gerente do supermercado ao ouvir o anúncio desceu e repreendeu todos os funcionários envolvidos, e chutando o cãozinho, para que ele fosse embora, mas não adiantou, Braque não iria abandonar Larissa, voltou e ficou novamente postado com olhar fixo. Ele acompanhava a todos que passavam pelo caixa e saiam dali, na esperança de encontrar a menina.
Vinte e duas horas. As portas começaram a se fechar. À medida que baixavam uma porta, ele corria para a outra não deixando nada escapar. Os clientes acompanhavam todo o drama do cachorrinho. Os funcionários penalizados torciam que seu dono aparecesse, pois eram muitas horas de angustia. Todos clientes saíram e a última porta começou a descer, quando faltavam alguns centímetros para chegar ao chão, ele numa última tentativa abaixou-se e conseguiu entrar sobre os olhares dos funcionários. Correu em todas as direções, latia, pulava, tentando enxergar pôr cima dos alimentos empilhados. Os seguranças não conseguiam pegá-lo, ele driblava a todos deixando-os com cara de bobos. Os caixas aplaudiam e torciam pelo animalzinho que estava á procura de seu dono.Outros funcionários foram obrigados a ajudá-los a pegar o cãozinho e somente assim ele foi dominado. Um dos seguranças muito bravo com a situação, abriu a porta e o jogou com tanta força que ele foi parar no meio da rua. Um carro em alta velocidade freou bruscamente quase provocando um acidente, e buzinando sem parar. Braque levou um susto e correu de novo para calçada com o coraçãozinho batendo forte e com a respiração ofegante. Mas não desistiu, pôs-se de pé, e ficou de guarda novamente. Os funcionários após realizarem os serviços internos, saiam pela porta lateral. Braque percebeu a movimentação e correu nessa direção com novas esperanças de encontrar Larissa. Comovidos brincavam com ele dizendo para ficar tranqüilo, pois seu dono viria procurá-lo no dia seguinte. Todos foram embora, e á distância, podiam vê-lo sentado sozinho com as patinhas dianteiras em pé, tronco e cabeça erguidos como se tivesse de guarda olhando fixamente para aquele prédio escuro e abandonado.
O frio intenso da madrugada veio acompanhado de muita chuva, e todos que passavam pela rua ficavam penalizados com o estado daquele cachorrinho, estava molhado, em pé, olhando para as portas, cheirava e tentava ver por baixo delas, na expectativa de poder encontrar Larissa. Alguns cachorros da noite que por ali perambulavam tentaram desviar sua atenção correndo atrás dele de um lado para outro da rua, mas foi em vão. Ele voltou e novamente ficou de guarda.
Amanheceu, o movimento recomeçou e as portas foram abertas. Ele latiu de alegria, uivava e pulava, na esperança de encontrar quem tinha perdido. As funcionárias do caixa aproveitando que o gerente ainda não havia chegado, deixaram ele entrar e percorrer os corredores. Braque procurou em todos os cantos da loja, subiu e desceu, cheirou, olhou e percebeu que ali, Larissa não estava. Uma lágrima caiu de seus olhos, pela primeira vez todos notaram que ele baixou a cabeça, encolheu o rabinho, encostando-se ao chão foi saindo devagar. Atravessou a calçada em direção a sua casa, andou alguns passos e olhou pela última vez o supermercado onde todos os funcionários estavam na calçada como que se despedindo e torcendo que ele encontrasse seus donos. Caminhou lentamente, estava completamente arrasado. Outros cães tentaram provocá-lo, mas dessa vez não foram bem sucedidos. Ao sair reconheceu sua casa e apressou seus passos. Ao se aproximar ouviu choros de crianças que pediam para seus pais procurar o seu cãozinho. Ele reconheceu a voz de Kátia e Larissa. Começou a latir e pular de alegria e foi ao encontro delas. Foi recebido com festas, ele corria de um lado para outro, uivava e pulava em cima das meninas, principalmente em Larissa, que pensava, nunca mais vê-lo. Braque cresceu, continuava provocando outros animais, porém nunca mais se distraiu ou se distanciou de seus donos.




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