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Infantil-->" A REVOLTA DOS BRINQUEDOS" -- 28/08/2004 - 22:57 (RUBENS NECO DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

"A REVOLTA DOS BRINQUEDOS "

PSEUDONIMO: NECO

Acordamos bem cedinho, era véspera de Natal. Tínhamos que ser bonzinhos principalmente naquele dia, pois à noite iríamos receber nossos presentes. Estávamos eufóricos. Eduardo meu irmão mais novo tinha pedido uma bicicleta. Eu um videogame. Minha irmã Clarice pediu uma boneca Barbie. Tomamos café e nos reunimos com outras crianças para irmos á missa. A alegria era imensa, todos comentavam o que iriam ganhar.
- Eu vou ganhar um robô que fala e anda.
- Eu um triciclo á motor.
- Eu uma aeronave com controle remoto.
- Eu vou ganhar uma bonequinha que anda e fala.
E assim durante a missa ninguém estava prestando atenção ao que o padre estava falando. As horas demoravam a passar, a espera era angustiante, mas enfim a noite chegou, fomos dormir mais cedo do que de costume, somente para acordar e encontrar embaixo da árvore de natal o novo presente. Eu sonhava com o Papai Noel, quando fui acordado por Eduardo que chorando dizia:

- Não ganhamos nada. Não tem presente! Papai Noel esqueceu de nós.
- Impossível. Esperamos o ano todo, com certeza Clarice levantou mais cedo e retirou os brinquedos somente para nos assustar.
- Não Henrique, ela ainda dorme. Eu olhei o quarto dela e não encontrei nada. Vamos falar com papai.
Entramos no quarto de nossos pais e pulamos na cama. Eles acordaram assustados, mas antes que falassem alguma coisa, despejamos nossa ira sem que eles entendessem o que tinha acontecido, pois falávamos ao mesmo tempo:
- Não tem presente. Papai Noel se esqueceu de nós.
Minha mãe ainda com olhos inchados nos abraçou dizendo que era bobagem, ela tinha visto o Papai Noel entrar pela janela e tinha colocado os presentes, e que eles estavam lá na árvore. Ficamos em silêncio por alguns segundos e saímos.
- Será que sonhamos, Henrique?
- Pode ser Edu. Vamos ver outra vez.
Saímos correndo e ao olhar para traz pude ver meus pais rindo de nós, mas não encontramos nada, gritamos e corremos novamente ao encontro de papai e mamãe que vinham em nossa direção e mesmo á distância notaram que os presentes não estavam ali. Ficaram inconformados, olharam atrás das cortinas, do sofá, abriram as portas dos armários, olharam no quintal. Eu, em minha santa inocência, pensei que fosse uma brincadeira de meus pais, mas fiquei tenso quando meu pai pegou o telefone e ligou para a polícia fazendo uma queixa de roubo. Demos todo apoio. Como é que um ladrão entra em nossa casa e leva o que o Papai Noel nos deu? O larapio tinha que ser preso mesmo. Mas alguma coisa estava estranha. Minha mãe que tinha saído de camisola á procura dos brinquedos, estava conversando com os vizinhos do outro lado da calçada com vários coleginhas em sua volta. Ouvimos choros e lamentos. Ao sair para a rua verifiquei que as crianças estavam espalhadas pelas calçadas e jardins, mas nenhuma estava com brinquedos nas mãos. Se era um dia de Natal, cadê os brinquedos novos?
Logo veio a notícia. Todos os brinquedos tinham sido roubados durante a noite. Mas percebemos que a coisa era ainda pior. Nossos brinquedos antigos também tinham desaparecido, não sobrou nada. Corremos para nossos quartos e abrimos nossos armários, caixas, olhamos em baixo da cama e nada. Todos os brinquedos tinham sumido. Ficamos desesperados. Reunimos todas as crianças na praça e fizemos uma conferência. Todos falavam ao mesmo tempo, era uma verdadeira confusão, ninguém entendia nada. A polícia começou a investigar o roubo. Os pais reunidos também faziam o que podiam para acalmar seus pimpolhos que não entendendo nada os culpavam pelo sumiço dos brinquedos. A notícia chegou aos jornais e televisão local despertando nos fabricantes de brinquedos uma ótima oportunidade para vender o que tinham nos estoques. Em pouco tempo carregaram carretas e dirigiram-se para o nosso bairro. Quando os caminhões chegaram na praça cheios de brinquedos, foi uma verdadeira festa porque os pais não mediram esforços para comprar novos presentes e imediatamente entregar aos filhos desconsolados. À noite as carretas deixaram a cidade completamente vazias. Todos felizes, pois os fabricantes contavam seus lucros e as crianças por ganharem brinquedos novos.Os pais estavam mais conformados e tranqüilos vendo seus filhos correndo de um lado para o outro, jogando bola, andando de bicicleta, skate, brincando de bonecas e aeronaves. Eram tantas brincadeiras que o clima na cidade viveu uma verdadeira confraternização de Natal. Fomos dormir tarde, mas já na expectativa do dia seguinte para continuarmos as brincadeiras. Para evitar surpresas, escondemos os brinquedos embaixo dos cobertores para dormir juntinho de nós, e com os brinquedos que não podiam ser guardados, amarramos no pé da cama. Ao acordarmos ficamos atônitos, os brinquedos tinham desaparecido outra vez. E tudo recomeçou. A polícia foi chamada novamente e os pais se reuniram para procurar o ladrão. Eduardo inocentemente achou um culpado. As crianças se reuniram a sua volta para ouvir o que ele tinha á dizer:
- Eu sei, quem roubou os brinquedos. Todos ficaram em silêncio.
- Fala logo Edu. Estamos desesperados para saber quem foi.
- Quem é que consegue durante uma só noite entregar em milhares de casas ao mesmo tempo presentes para todas as crianças. Quem é que entra e ninguém vê. Sai sem deixar rastros?
Todos já sabiam a resposta, mas não ousavam pronunciar seu nome. Edu observando os coleginhas incrédulos, disse em voz alta.
- Foi o Papai Noel. Ele deve estar descontente com as crianças. Por isso resolveu recolher todos os brinquedos. Ele esta triste com algumas crianças que não obedecem a seus pais, que brigam na escola, não se alimentam direito, não conseguem acompanhar o desempenho escolar, não lavam as mãos antes das refeições, fazem xixi na cama.
Esse comentário foi uma verdadeira ducha fria nas crianças, que correram para suas casas para contar aos seus pais o que haviam descoberto. Os pais, preocupados em manter o bom nome do velhinho, insistiram para que a polícia continuasse a investigar o fato. Não foi difícil encontrar as primeiras pistas, haviam pedaços de brinquedos espalhados por uma trilha que levava a um sítio abandonado nos arredores da cidade. Foram encontradas também rodinhas de caminhão, braços de bonecos, molas, pilhas, faróis de carrinhos, entre outros pedaços. As crianças começaram a acompanhar os policiais que estavam a pé, pois iam recolhendo tudo pelo caminho. A população da cidade interessada em encontrar os culpados saíram em romarias até o local onde terminavam as seqüências de pedaços de brinquedos. Rapidamente cercaram o sítio. A polícia chamou reforços. A televisão não perdeu a oportunidade de transmitir ao vivo o acontecimento. Com certeza os meliantes estavam cercados e teriam que devolver todos os brinquedos. As crianças estavam aliviadas, não era o papai Noel que tinha levado os presentes. Mas quem teria sido?
Eles estavam dentro daquele galpão enorme abandonado. A polícia com um megafone solicitava que os ladrões saíssem de mãos para cima e entregassem os brinquedos, pois as crianças estavam ali fora esperando por eles. Insistiu para que saíssem, mas a ordem não foi obedecida. E assim prepararam a invasão do galpão. O clima ficou tenso, os pais protegeram seus filhos, todos estavam curiosos para saber quem tinha conseguido numa única noite roubar tantos brinquedos ao mesmo tempo. A ação policial teve início, os homens armados deram o primeiro passo, entraram no terreno que dava acesso ao galpão. Os policiais não conseguiam ouvir nada. De repente a grande porta se abriu. Todos ficaram em silêncio. A porta recuou, as crianças com olhos arregalados, esconderam-se atrás de seus pais que também estavam ansiosos para desvendar aquele mistério. Então saiu um triciclo, que em seu guidão trazia uma bandeira branca, ninguém entendia nada.
- Será que é de controle remoto? Perguntou Edu para seus irmãos. O triciclo aproximou-se dos policiais, e com uma voz firme pediu para que todos o ouvissem. Eles queriam ser independentes dali para frente, os brinquedos estavam reunidos discutindo sobre o futuro. Os policiais entreolharam-se e perguntavam se estavam sonhando.
- Um triciclo falante! Querendo reivindicar liberdade.
- Sim. É o que queremos. Falou o líder dos brinquedos. Neste momento alguns brinquedos apareceram nas janelas, outros olhavam pelas frestas das portas querendo ouvir o que seu líder discutia com a polícia e com a população. O triciclo falante solicitou que fosse constituída uma comissão de crianças para reunir-se com os brinquedos para a tomada de uma posição definitiva com relação à liberdade deles. Edu rapidamente se propôs a fazer parte desta comissão, que foi aceita pelo triciclo e solicitou vinte crianças que após uma hora de discussão formaram um grupo que sob comando do triciclo entraram no galpão. Edu viu seu robô ali gesticulando e apontando para ele, falava para os outros brinquedos:
- Foi ele. Foi ele sim, que me quebrou e me abandonou debaixo da cama, nem olhava mais para mim.
Do outro lado uma bicicleta somente com uma roda saiu reclamando de Henrique que não quis participar do grupo de negociação. A bicicleta pediu a palavra e com voz cheia de emoção disse:
- Caros amigos, o irmão dele tirou a minha roda traseira impedindo que eu pudesse rodar. Colocou em outra bicicleta que estava encostada também com seus pneus furados há anos. É somente tristeza que estas crianças nos trazem.
O triciclo vendo que o ambiente estava ficando pesado tomou a palavra, olhando para os meninos que estavam sentados em círculo no maior silêncio, e pôs-se a falar:
- Vocês estão vendo. Os brinquedos velhos estão tristes porque as crianças os abandonaram. Então seqüestraram os brinquedos novos que vocês ganharam no Natal para evitar que eles sofram também no futuro. Quando vocês ganham ficam contentes, mas no mesmo instante nos batem, puxam nossos braços, desmontam nossas pecas, tiram nossas cabeças, separam as pernas, jogam no chão, tiram as pilhas, trocam pedaços de uma para outra, jogam água, tomam banho e nos colocam juntos de qualquer coisa e alguns até ficam enferrujados. Nos guardam embaixo dos cobertores nos deixando sufocados, jogam para cima e para baixo. Estão vendo aquela boneca? Está procurando sua cabeça de louça há anos. Aquele robô perdeu sua perna dentro de uma gaveta. Aqueles brinquedos que estão lá em cima, choram de saudades das crianças que há muito tempo os abandonaram. Os brinquedos novos também estão tristes, porque sabem que após uma hora estarão sendo destruídos ou abandonados.
As crianças ficaram horas escutando os lamentos dos brinquedos, e resolveram discutir o assunto com outras crianças que tinham ficado do lado de fora. Os adultos foram impedidos de entrar no galpão. Por três dias e três noites as crianças debateram o assunto e saíram do galpão. À frente Eduardo e o Triciclo comandando as crianças e os brinquedos. Os pais, a polícia, a imprensa, todos ansiosos aguardavam o desenrolar do caso. Edu pediu a palavra, todos ficaram em silêncio, e começou a ler o comunicado que tinha elaborado entre as crianças e os brinquedos. Onde um ajudaria o outro e viveriam em harmonia. As crianças deveriam cuidar da manutenção e da limpeza, além da proteção e do conforto dos brinquedos. Enquanto eles ficariam responsáveis pela boa educação, pela aventura, pela criatividade e imaginação, pela alegria e inocência. Após a aprovação dos pais que aceitaram em ajudar que o contrato celebrado entre as partes fosse cumprido, todos deram as mãos, os brinquedos saíram no colo das crianças para viverem um novo tempo.






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