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Infantil-->O PEIXINHO -- 27/08/2004 - 13:09 (RUBENS NECO DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“ O PEIXINHO”
RUBENS NECO DA SILVA


Na imensidão do oceano milhares de espécies disputam pela sobrevivência diariamente numa luta desigual, onde o mais forte sempre vence.Uma caverna incrustada numa pedra, semelhante a uma gruta, era a morada permanente de diversas espécies de pequenos peixes que lutavam todos os dias pela sobrevivência e alimentação.
Certa noite acordaram com os gritos do papai peixe, que estava muito alegre com o nascimento de seus filhotes. Era uma espécie exótica, onde o colorido se destacava. A natureza fora excêntrica. Os filhotes que acabavam de nascer tinham um ar esplendoroso, listras por todo o corpo que brilhavam à noite tornando-se um néon. Os outros peixes que ali moravam tinham uma pontinha de ciúme por tamanha exuberância. A gruta ficou mais encantada com tanta beleza, que contagiou a todos. Os pais dos peixinhos passeavam juntos orgulhosos. Entre tantos filhotes recém nascidos um se destacou, parecia ser o mais esperto, era um líder nato, tinha cores diferentes, eram mais reluzentes, olhos grandes meio avermelhados, dando um destaque todo especial, explorava suas belas barbatanas nadando com suavidade, parecia um balé, todos assistiam sua exibição que transmitia grande tranqüilidade, apesar de seus movimentos rápidos. Conseguia fazer um zig-zag como ninguém, subia e descia mostrando aos seus pais que poderia escapar de seus predadores, e por sua agilidade logo foi chamado de Ligeirinho. Porém tanta beleza atraia olhares dos peixes maiores, todos ficavam as espreitas aguardando a hora de deliciar-se daqueles belos espécimes, pareciam ser suculentos, mas todos respeitavam a hierarquia. Na entrada da gruta ficava o Cracatoa, um peixe horroroso, boca grande, dentes afiados e era violento. Não deixava passar nada ao seu redor, sua maior alegria era engolir vivo aquelas maravilhas que acabavam de nascer, mas mesmo com tanto perigo o papai peixe aproveitava a noite para sair e buscar alimentos para todos.
E não permitia que ninguém saísse, fazia muitas recomendações, contava historinhas de peixes que engoliam famílias inteiras numa só bocada, para causar medo aos seus filhotes. Mas não adiantava, Ligeirinho queria sair, conhecer o mar e outras espécies, brigava com seus pais por sua liberdade, pensava:

- Será que nascemos somente para viver nesse buraco? Existe tanta beleza em nossos corpos para ninguém apreciá-las. Papai. Quero sair e ir buscar comida junto com você. Após muita discussão o papai peixe obrigava-o a ficar junto de seus irmãos e sozinho, saia á caça. Ligeirinho ficava na entrada da gruta observando tudo, podia ver naquela imensidão os peixes, tartarugas, estrelas do mar, polvos, e tantos outros brincando e se divertindo, colocou o narizinho para fora, ganhou confiança e entusiasmado começou a nadar em frente à gruta, quando de repente ouviu um barulho, uma grande movimentação na água e gritos de todos os lados.
- Cuidado Ligeirinho, ele vai te engolir, corra!
Numa manobra espetacular conseguiu com seu famoso zig zag entrar na gruta, enquanto ouvia o som de uma grande dentada. Opa! Estava salvo, dessa vez o Cracatoa não teve sucesso. Extremamente nervoso prometeu a todos que riam dele, dizia que não iria descansar enquanto não o tivesse para o almoço, nem que fosse a última coisa que faria.





Papai peixe ficou sabendo da grande habilidade de seu filhote, que por diversas vezes conseguiu escapar do Cracatoa. Ligeirinho continuava insistindo em sair com ele para caçar. Então papai peixe permitiu que ele o acompanhasse.
- Desta vez irás comigo, antes que você coloque seus irmãos em perigo, vamos explorar um velho galeão.
- O que é isso? Perguntou o irreverente filhote.
- É o barco que há milhares de anos afundou. Todos aqui temem e não tem coragem de entrar dentro dele. Novamente o pequenino o surpreendeu.
- Será que tem fantasma? Eu tenho medo papai.
- Deixa de bobagem, lá tem muita comida.
Realmente era fascinante, em todo lugar que passavam viam vários tipos de algas. Papai peixe enchia o papo guardando o alimento. Para Ligeirinho tudo era diferente, nunca tinha visto algo assim, era muita beleza. Curioso questionava seu pai.
- Será que não podemos viver em paz, sem medo de andar por todos esse lugares maravilhosos sem que um peixe maior venha nos abocanhar?
- Não meu filho, aqui precisamos ser muito cautelosos, a lei que impera é a do mais forte.
Desolado, o pequeno peixinho resolveu explorar o fundo do navio. Alguma “coisa” lá em baixo brilhava, reluzia, era lindo. Ligeirinho com suas barbatanas, retirou o limo que o encobria parcialmente e logo avistou um círculo de metal, uma argola.”Uma pulseira!”, pensou ele, com jeitinho passou sua boca por baixo e a levantou, encaixando em sua cabeça como se fosse uma tiara de cabelo. Nadou e mostrou para seu pai, que assim que viu o brilho na cabeça do seu filho resmungou:
- É só que faltava! Criança tem cada uma! Não faltasse tantas cores no corpo agora brilha na cabeça também.
Farto de tantos alimentos, argumentava com o filhote:
- Temos comida para alguns dias, aqui é um ótimo lugar para voltarmos. Retornaram em direção a gruta em silêncio, nadavam com suavidade entre as pedras e as algas marinhas, de longe avistaram sua casa, empolgaram-se acreditando que estavam salvos, mas puderam ver ao longe que os peixes debatiam-se desesperadamente. Um barulho enlouquecedor, uma bocarra aproximava-se deles, seu pai gritou:
- Vá filho! Chegou a nossa hora, não tem mais jeito ele vai nos engolir, não temos tempo suficiente para chegarmos a gruta, estou muito pesado com tanto alimento.
- Eu também papai, não consigo livrar-me dessa argola pesada e não tenho liberdade para nadar com mais rapidez, estamos perdidos.
Todos os filhotes e outros peixes estavam vendo a cena. Começaram a rezar pedindo que um milagre acontecesse, pois só Deus poderia livrá-los do maldoso e horroroso Cracatoa, que além de nadar rapidamente, estava com muita raiva de Ligeirinho que o havia provocado no dia anterior. Pai e filho nadavam juntos numa tentativa desesperada de chegar a gruta.
- Vamos filho, não desista.
Pai à frente e Ligeirinho logo atrás nadavam como podiam, o Cracatoa foi chegando, nadando velozmente, já ia abocanhá-los. Ao longe mamãe peixe encobria os





olhinhos dos irmãos, pois e já era possível imaginar os corpinhos deles dento daquela enorme boca aberta
O fim chegou, ela também virou o rosto e chorou. Ligeirinho ao perceber que tudo estava acabado tentou pela última vez retirar a argola de sua cabeça e realizar o seu famoso zigzag, mas não foi possível, pode lá de dentro ver a boca se flechando, viu seu pai a sua frente olhando para traz, pode ver a expressão de dor e desespero.
Naquele momento, sem pensar, Ligeirinho resolveu pedir em alto e bom tom, como última tentativa, queria atingir o coração do Cracatoa com palavras, e pediu para que ele parasse.
- Pare, pare pelo amor de Deus!
Saiu daquela enorme boca e nadou até a gruta. Um grande silêncio, nadava com todas as suas forças, passou por seu pai que estava parado, mas algo estava errado, tudo estava imóvel, o Cracatoa e tudo mais estava parado.
- O que será que aconteceu? Foi um milagre!
Porém percebeu que a argola brilhava em seu pescoço.
- Será que ela é mágica?
Após colocar o pai em segurança dentro da gruta, começou a dizer várias palavras:
- Desperta, Continua, Agora. Não deu certo, qual será a palavra mágica?
Nesse momento, resolveu dizer:
- Volta, volta!
E tudo voltou, uma cena nunca vista, o Cracatoa mordeu com tanta violência pensando que eles estavam ainda ali, que foi possível escutar seus dentes se quebrando. Novamente olhou para baixo e viu ligeirinho sorrindo e fazendo micagem para ele. O Cracatoa ficou louco arremeteu-se em direção a gruta, Ligeirinho então gritou:
- Pára. E tudo parou. Nadou em direção ao Cracatoa e ficou a uma certa distância. Novamente disse:
- Volta.O Cracatoa que nadava em direção a gruta parou e sem saber o que estava acontecendo olhou para Ligeirinho e iniciou uma luta desesperada para alcançá-lo, mas não era possível. Ligeirinho começou a brincar repetindo por várias vezes.
- Pára, volta, pára, volta, pára, volta. E sempre que dizia volta o Cracatoa ficava ainda mais bravo, porque nadava e tentava atacá-lo, mas não conseguia, quando estava quase alcançando, ele parava tudo e quando recomeçava Ligeirinho estava em outro lugar. Brincou por horas com o Cracatoa e depois de cansado voltou à gruta e o liberou. E ele novamente iniciou um ataque fulminante em direção a caverna do Ligeirinho e chocou-se violentamente com as rochas da entrada do esconderijo, conseguiu colocar a sua boca quase dentro da caverna, mas seu corpo era muito grande e teve que se sujeitar a voltar e esperar uma nova oportunidade.
Ligeirinho passou a dominar e controlar o poder da argola. Sempre que queria passear parava tudo e nadava por todos os lugares. Era impressionante quando ele desafiava os grandes peixes como a baleia, o tubarão, os golfinhos, passava sua calda neles, que não conseguiam reagir, ficavam imóveis. Foi eleito como responsável para buscar alimentos. A população cresceu, Ligeirinho também, e a argola não cabia mais em sua cabeça.




A circunferência mal se encaixava em sua pequena boca, dificultando o comando de parar e o de voltar, mas mesmo assim conseguia viver como queria nadando pelos oceanos, conhecendo todos os lugares que o mar tinha para oferecer. Onde não corria perigo pedia que voltasse, e tudo rapidamente se reorganizava a vida fluía tranqüilamente de maneira que ele poderia brincar com todos, até namorava. Por ser muito bonito as peixinhas não o deixavam em paz, então em cada lugar do mar, tinha uma namoradinha e ia visitá-las, sempre que podia.
Ao regressar de uma viagem pelo oceano, exausto, resolveu descansar, mas logo foi acordado por sua mãe, que aflita lhe dizia:
- Seu pai foi buscar alimento e os pescadores covardemente lançaram uma rede e estão arrastando tudo que encontram pela frente, ao chegar lá em cima ele e os outros vão morrer, pois não conseguirão respirar. Filho faça alguma coisa, salve seu pai e seus amigos.
Mais que de repente Ligeirinho pegou a argola e saiu nadando em direção a superfície. Ele havia crescido, já não podia abrir a boca e equilibrá-la ao mesmo tempo. Sentia dificuldade de falar a palavra mágica para que tudo ficasse imóvel. Nadando em direção aos pescadores que agora já recolhiam a rede para o barco, desesperou-se, mas suas preocupações estavam apenas começando, o Cracatoa estava atrás dele também, Ligeirinho podia ver aquela boca se abrindo para devorá-lo. Olhando os pescadores que continuavam a retirar os peixes da água, conseguiu ver seu pai no fundo da rede, faltando pouco para chegar à superfície, Ligeirinho aproveitando suas últimas forças, nadou para fora d’água, pulou alguns centímetros para fora e nesse momento a argola se deslocou um pouquinho, o suficiente para poder mover os lábios e dizer:
- Pára!
Ao cair, mergulhou dentro da boca do Cracatoa que estava nadando para atacá-lo. No entanto ele também estava imóvel, a argola ficou parada no ar a poucos centímetros acima do nível do mar. Seu pai estava dentro da água vivo, porém imóvel. Todos estavam salvos. Aí começou o drama do peixinho, se falasse Volta, cairia na boca do Cracatoa, seria engolido e nunca mais poderia ver seus pais e conviver com a sua família, não poderia mais estar com as suas namoradinhas, e seus amigos, muito menos passear pelo oceano. O que fazer? Era impossível romper a rede dos pescadores que usavam fios de metal. E para que voltasse ao normal teria que nadar velozmente em direção a superfície, pular alguns centímetros para fora da água e pegar a argola com sua boca.
Seu pai morreria em questão de segundos. Ou deixaria tudo parado, e viveria na solidão de um paraíso onde tudo estava ao seu alcance, mas não poderia compartilhar tantas belezas com ninguém. Seu dilema durou por toda a vida, sua única alegria era visitar seu pai, sua mãe e seus irmãos todos os dias de sua vida.


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