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Artigos-->O QUARTO PODER VII -- 10/08/2003 - 22:12 (DANIEL CARRANO ALBUQUERQUE) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Há um quadro de “pegadinhas” em que o transeunte é abordado e acaba entrando em conflito com um brutamontes que ameaça esmurra-lo. Num desses, a vítima foi um senhor de uns sessenta e cinco anos. O constrangimento daquele idoso foi notável e me deixou perplexo. Duvido muito que ele tenha autorizado aquela gravação, pois tenho a certeza de que ele desejaria não passar por tal humilhação. Aliás, qualquer pessoa, mais ainda um homem daquela idade. Que papel diante da esposa, filhos, netos, etc.! Muitos não tem tempo, disposição, dinheiro ou mesmo conhecimento de seus direitos jurídicos para tomar a iniciativa de entrar com uma ação na Justiça. E a TV se aproveita disso. A imaginação sádica dos organizadores desse maldito quadro não para e teria que perder muito tempo com esse tipo de canalhice para poder descrever todos os quadros esdrúxulos e criminosos que já se fizeram.

Um outro tipo de atração de que dispõe a mídia para exercer seu poder maléfico é o das telenovelas. Pouquíssimas pessoas se dão conta disso. As da TV Globo, as mais populares, são as mais admiradas e daí sua grande força. Não se pode negar sua qualidade no que diz respeito à confecção, o extraordinário trabalho dos atores, a atuação dos diretores, cenografia, sonoplastia, etc.. Mas não se tem o cuidado, o qual deveria ser da altura da sua audiência, de evitar influenciar as pessoas no que tange a comportamentos, principalmente quando se sabe que a maior parte dos que estão à frente do aparelho de televisão são crianças e adolescentes, os mais vulneráveis. “A arte imita a vida e a vida imita a arte.” É uma frase conhecida e que traduz uma verdade. Da dramaturgia se utilizaram diversos tipos de poderes com fins de doutrinação. Políticos, religiosos, econômicos, etc.. A ditadura stalinista, e a nazi-facista, entre outras, reforçou com enorme sucesso seu poderio, utilizando em sua propaganda os recursos da cinematografia. Os Estados Unidos deve muito às produções de Hollywood, o seu fascínio sobre o resto do mundo. Os ganhos não se limitam unicamente à bilheteria. Há uma fórmula perfeita para se doutrinar u’a massa, com os meios do cinema, teatro e congêneres. O drama é facilmente polarizado com o bem e o mal. A identidade dos personagens de cada lado, ou seja, a sua posição naquele eixo é logo marcada e o espectador é induzido na escolha a quem haverá de amar e admirar e quem deverá odiar e repudiar. O bom passa a ser o ídolo, e desse modo alguém a ser imitado. São geralmente pessoas atraentes e de voz agradável. Também são inteligentes e espertos. A bondade, esse critério que reúne solidariedade e compaixão e que sabemos que tem uma conceituação pleomórfica vai aos poucos deixando lugar para outras “qualidades”. Vi, certa vez, numa novela exibida no horário das 6 horas, uma cena em que os “mocinhos” esmurravam um homem amarrado com fins de conseguir uma confissão. A vítima sangrava pela boca e desfaleceu depois de falar. Ou seja, entrou em coma. Quero dizer, em alguns minutos, num horário totalmente aberto à exibição para crianças, fez-se a apologia da tortura, através de um dos maiores e mais importantes meios de comunicação do mundo. Num outro espetáculo no horário nobre, havia uma personagem que optou por manter-se virgem até estar convicta de que faria a escolha certa. O autor maquiou o personagem como u’a moça histérica, mal cuidada, mal vestida, beata, “demodé” e absolutamente ridícula. Dessa forma associou aquele tipo de opção a uma personalidade neurótica, o que certamente induziu a conceitos distorcidos entre as pessoas influenciáveis, alterando suas vidas. Durante toda a minha infância, tomei como vilões os índios norte-americanos e acostumei-me a vibrar cada vez que um deles era derrubado do cavalo. Seu povo e suas terras foram invadidos. Sua nação exterminada e sua gente massacrada. Hollywood transformou-os em bandidos. Quem de nós não torceu para o sucesso dos americanos – os bonzinhos – contra os japoneses nos filmes da Segunda Grande Guerra? E contra os mexicanos? Nas telenovelas nacionais, o autor é o dono absoluto do bem e do mal. Estipula os critérios sobre os quais acharemos esse ou aquele procedimento ridículo ou louvável. Na novela que ora é exibida no horário das 21 horas pela TV Globo, u’a mulher assume um relacionamento extraconjugal com o esposo de sua criada. Quem somos nós para julgar tal comportamento? Sabemos que é a arte imitando a vida. A “priori”, considero sobretudo desleal a atitude da adúltera. Mas na vida real, deixamos o julgamento para a consciência da pessoa implicada. Mas o autor julga. Ele passa ao telespectador sua opinião de maneira sutil, porém a mais convincente possível. A mulher volta de seus encontros com uma alegria que dificilmente acontece com uma pessoa que se encontra em situação emocional tão desfavorável. Por mais agradável que tenha sido o programa, há conflitos reais em sua esfera psíquica e afetiva que muitas vezes chegam a anular o prazer recem-conquistado. O autor ainda usa do recurso de um fundo musical que confere poesia, serenidade e felicidade à cena, além dos visuais. Numa dessas novelas, u’a mulher que se estereotipa todo o tempo como uma pessoa culta e inteligente, bonita, charmosa e bem sucedida, diz numa frase que não se arrepende de tudo que fizera, mas sim do que não fizera. Um adolescente que estará diante de um traficante naquele momento a lhe oferecer cocaína e que se encontra indeciso, certamente, ao assistir àquela cena, deixará pender o fiel da balança para o lado pior. E quantos milhares de adolescentes não foram surpreendidos naqueles poucos segundos naquela situação? Será que o grande autor não pensa nisso? Enfim, é a cultura da irracionalidade e da irresponsabilidade. É uma ditadura, pois os costumes que antes eram passados de pais para filhos, entre gerações, de acordo com a moral de cada povo, variando de cultura para cultura e de família para família, agora nivela-se, seguindo a batuta de uns poucos escritores de telenovelas e de roteiros de filmes. Um poder sob o qual nossa sociedade se encontra massacrada, embora não se aperceba. E não se levanta uma voz sequer de um dos poderes que nos representa, para corajosamente, opinar sobre essa grave questão.



Agosto de 2003

Daniel Carrano Albuquerque

E-mail: notdam@bol.com.br

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