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Artigos-->Literatura Piauiense -- 10/08/2003 - 11:18 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LITERATURA PIAUIENSE



Cunha e Silva Filho*



Publicada pela primeira vez em 1937, a importante obra de João Pinheiro – Literatura Piauiense, Escorço Histórico – tem, agora, uma nova edição (1994) através da Fundação Cultural Mons. Chaves, com texto revisto e grafia atualizada por Magnólia Belarmino. A novidade dessa edição é o texto “Posfácio”, que lhe foi acrescido, escrito por Francisco Miguel de Moura, texto que veio ampliar o original, atualizando-o a partir da conclusão da obra de João Pinheiro.

Francisco Miguel de Moura teve a boa intuição de dar feição expositiva semelhante à de João Pinheiro, prestando, assim, uma espécie de homenagem à iniciativa pioneira de João Pinheiro de sistematizar a história literária piauiense, não meramente como uma monografia ou esboço simplificador, mas como obra de pesquisa e seriedade, pronta a representar, na bibliografia do gênero, a contribuição do Piauí à historiografia literária brasileira. O crítico Afrânio Coutinho a relacionou na II Parte (História da Cultura e da Literatura Brasileira), seção Bibliografia, entre as obras “Regionais” de importância para a nossa historiografia. Ver COUTINHO, Afrânio, Introdução à literatura brasileira, Rio de Janeiro, Editoria Distribuidora de Livros Escolares Ltda., 5ª edição, 1968, p.334. Ela, pois, é base para qualquer tentativa de conhecer autores e obras que contribuíram no passado para a formação do patrimônio cultural do Piauí.

Com todas as limitações que nela possamos apontar do ponto de vista de historiografia literária, como periodização, agrupamentos literários, abordagem histórica, ainda assim ela nos será sempre fonte de pesquisa obrigatória. João Pinheiro se coloca, portanto, como nosso primeiro historiador literário de expressão que preparou o terreno para outros que lhe sucedessem, como foi o caso de Herculano Moraes com A nova literatura piauiense (1975) e a sua Visão histórica da literatura piauiense (1976) e, agora, Francisco Miguel de Moura, com seu Posfácio.

João Pinheiro divide a sua obra em três partes: primeira fase, fase romântica e correntes modernistas. Casa fase é antecipada pela relação de poetas e prosadores que a constituem, recebendo cada um deles um breve comentário crítico. O historiador transcreve ainda trechos antológicos dos autores de maior projeção. Complementa a última parte uma pequena listagem de poetas que, embora precocemente falecidos, legaram uma obra promissora. O historiador encerra seu volume com uma listagem de meia página de autores piauienses vivos que despontavam então no campo da literatura. Podemos, agora, já com suficiente distanciamento crítico, palidamente conferir dessa listagem de vivos quantos alcançaram uma maior projeção. Deles apenas dois se destacariam nacionalmente, Berilo Neves, conhecido ficcionista, e Da Costa e Silva (ainda ali assinalado pelo nome completo) como poeta.

O grande valor, a meu ver, alcançado pela obra de João Pinheiro é pedagógico-instrutivo, porquanto ficamos fascinados com o que representaram cultural, social e literariamente para a geração deles figuras extremamente fascinantes como David Caldas, Clodoaldo Freitas, Hygino Cunha, Abdias Neves, entre outras, nomes que, infelizmente, pelas circunstâncias geográficas, não chegaram ao conhecimento dos grandes centros do país. Percorrer as páginas dessa obra é acreditar nos valor de um Estado reconhecidamente “pobre e atrasado” como me disse uma vez em carta A. Tito Filho.

Quanto ao Posfácio de Francisco Miguel de Moura, o que há de sublinhar de positivo foi haver ele atualizado aquela mencionada listagem de autores vivos com que João Pinheiro finalizou sua obra. De positivo também foi haver os posfaciador incluído o próprio João Pinheiro como figura de escol das letras piauienses, trazendo-lhe os respectivos dados bio-bibliográficos e revelando-nos uma faceta nova dele, a de ficcionista, como podemos ver do trecho de um conto de sua autoria transcrito pelo posfaciador.

Ademais, Francisco Miguel de Moura, servindo-se de conceitos em voga de periodização literária, retomou com muito critério a distribuição de autores e obras que vão do pré-modernismo aos contemporâneos mais velhos, ou seja, aqueles que, segundo o posfaciador, medeiam os sessenta anos e – para nossa felicidade – ainda se encontram vivos. Os outros , os mais novos ou novíssimos, parece concluir o posfaciador, ficarão para outros empreendimentos de atualização, nesse pertinaz labor intelectual que faz dos historiadores e críticos o móvel indispensável ao constante esforço de dar continuidade ao trabalho ingente de nossos predecessores.

Para concluir esta resenha, gostaria de fazer alguns reparos de natureza bio-bibliográfica com respeito a Cunha e Silva. Ele não nasceu em 1904, e sim em 1905, conforme ele mesmo em vida me declarou a propósito de um engano meu semelhante quando de preparação das orelhas que lhe fiz para o livro República dos mendigos (Rio, 1984). Cunha e Silva foi também diretor do Liceu Piauiense. Foi contista bissexto e poeta a partir dos sessenta anos, em geral, sonetista, dado que felizmente consta na apreciação crítica da obra de Herculano Moraes, Visão histórica da literatura piauiense, já citada. Além disso, foi orador de amplos recursos e polemista respeitado, dotado de enorme talento para o sarcasmo; pronto a demolir o adversário no terreno das idéias, sabia encontrar os pontos mais vulneráveis e o retrato mais caricatural do opositor na troca de farpas e catilinárias pulverizadoras de valores consagrados ou não. Haja vista a polêmica que sustentou com Aa. Tito Filho anos atrás. Na história do jornalismo político e doutrinário piauiense a obra de meu pai ainda está a merecer estudos sérios (o que não o fez, não sabemos por que motivos, Celso Pinheiro Filho, na sua História da imprensa piauiense 1972, onde o nome de meu pai é apenas citado de passagem), visto que, em revista e sobretudo em jornais do Piauí, poucos como ele souberam manter uma assombrosa produção – ininterrupta! – durante mais de meio século de jornalismo combativo. Intransigente com a correção linguística, possuía, entretanto, um estilo claro, em linguagem de hoje, diria tinha uma escritura legível, fruto de uma longa prática de redação, aliás, aprendida em muitos anos de leitor voraz da grande literatura universal. Tinha ainda bossa para a apreciação literária, a se ver por alguns comentários que escreveu sobre livros que recebia de escritores. Foi professor de francês durante muitos anos no saudoso Ginásio “Des. Antônio Costa”. Quando muito jovem, pertenceu ao Cenáculo Piauiense de Letras, para cujo ingresso concorreu, segundo me afirmou, com um longo estudo sobre a poesia de Da Costa e Silva, trabalho que infelizmente deve ter-se perdido.

Um último reparo, finalmente, que faria ao Posfácio de Francisco Miguel de Moura, diz respeito à inclusão que faz de nomes que rigorosamente não pertencem à história literária piauiense. O melhor seria ele ter-se apegado tão-somente a critérios estéticos. O posfaciador, todavia, pode argumentar que mais uma vez apenas quis acompanhar a orientação que presidiu o seu antecessor.



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*Cunha e Silva Filho, piauiense, é tradutor, professor, mestre de Língua e Literatura, no Rio de Janeiro, onde reside há muitos anos.

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