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Cartas-->LEITURA DE SEGUNDA MÃO -- 17/06/2006 - 12:20 (Cheila Fernanda Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LEITURA DE SEGUNDA MÃO

Já faz um tempo que preciso lhe falar sobre sentimentos que aqui dentro estão. Tenho procurado saber quem você era, de fato, mas percebo que das duas uma: ou ninguém diz coisa com coisa, ou passam uma imagem sua do jeito que se forma dentro de cada um. Em outras palavras, o que conheço de você é o que me diziam. E quanta coisa negativa diziam! Como eu era muito jovem e quem me falava eram adultos acima de qualquer suspeita, eu aceitava.
Hoje, tantos anos depois que você se foi, e depois de tantos tropeços em pedras que me machucaram até verter sangue, tento buscar sua verdadeira imagem. Sei que, concretamente falando, é impossível, mas meu coração está como que escaneando coisas que só ele sabe, porque o coração não se preocupa com aparências nem com falas carregadas de mágoas que se depositaram no meu consciente. Sei que são coisas que estão sendo trazidas do meu inconsciente. E, acima de tudo, são coisas que estão nas minhas células, na minha carga genética.
Um pedacinho de você está em mim, minha vó. Até, literalmente, um pedacinho do seu corpo está em mim, pois fisicamente nos parecemos. Agradeço por isso, agradeço por ter gerado meu pai e por tantas outras coisas.
Quem foi você? O que seu coração quando jovem ansiava e o que a mulher conseguiu alcançar? Do que gostava? Como conseguiu encarar uma vida tão difícil?
Quantas perguntas! Quantas! Mas, para mim, no pedacinho que tenho de você, acho que as que se seguem são as mais terríveis: como conseguiu agüentar um filho ser mandado para a guerra? Como seu coração de mãe suportava cada dia a possibilidade de receber a notícia de que seu filho tombara num campo de batalha na Itália? Como sufocava seu grito de dor e dava conta dos que estavam com você e precisavam de uma mãe presente ali e não com a cabeça em outro país?
Infelizmente não tenho qualquer resposta, pois sequer pensava em perguntas quando estivemos em contato. A leitura que eu fazia de você era de segunda mão e meu interesse se desvanecia diante da imagem que eu tinha de uma mulher que era muito brava e que não gostava de mim.
Ah, vó Cotinha! Como alguém com esse nome tão sonoro e delicado poderia ser má?! Garanto que não. Seu silêncio não era pouco caso. Sei que as palavras nem sempre dão as melhores mensagens. Muitas vezes o calar-se é um grito do fundo da alma, mas ninguém escuta...
Saiba, então, minha vó Cotinha, que no meu coração tem um lugar para você, um lugar que sempre foi seu, mesmo quando eu não sabia.
Sua bênção! Ou: bencinha, vovó, que eu dizia quando criança

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