Esbarram as tuas mensagens em meus soluços
E te componho em transe a secreta mágica da forma
Forma que desconheço, apenas calculo
Desenho no nada as linhas e te monto
Feito quebra-cabeças, no adivinho dos traços
De uma foto inexistente, demasiado clara
Necessária e a um só tempo decomposta
O que me ajuda é a tua fala, e quando me dizes
Percebo. É assim que consigo vê-la.
Permite que te assanhe as têmporas
Retoque e risque e delineie a figura
Inteira, sóbria, esguia, adjetiva.
Interessante esse gesto com gosto secreto
Composto de retas e ondas fluentes
Sorrio às vezes quando a concebo
Talvez exagero, mas é meu jeito.
Mal vi tua cor, ignoro teu cheiro
Pressinto que queres que a pinte inteira
Dá-me a senha, a letra primeira
Façamos a forca, matreiro brinquedo
Rabisco tua carta com régua e compasso
Transfiro em ângulos vales, montes, aclives
Retoco mil vezes, coloro e dou pronto
O mapa do teu corpo, me apronto e viajo.
Teu mundo em meus dedos, sou anjo bem louco
Meu lápis aceso, madeira em brasa
Pintar os teus olhos os detalhes molhados
Desmancha o papel, por isso atormento
Recomeço do nada toda vez que imagino
Me vejo despido da arte nem digo o que sinto.
Oposto ao real, só conheço teu íntimo.
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