Estou em frente do monitor. Minhas mãos estão estacionadas sobre o
teclado . Lembranças mil circulam na mente já cansada. Volto à
infância e recordo-me correndo às margens dos riachos, de onde
pulava baldeando águas claras que logo escureciam. Em volta as
matas, verdadeira residência de passarinhos que gorjeavam, trilavam,
trinavam formando um orquestra afinada, apenas perturbada pelo
arrulhar do pombo e coaxar dos sapo. E era nesse ambiente que
teve início o meu crescimento. Quando os últimos raios do Sol
desapareciam e a luz azulada do luar apontava, é que regressava para
casa. Tinha apenas dez anos de idade. Tudo para mim, era santificado.
O pecado na minha idade não tinha guarida. Apenas uma pequena exceção, fora preso um senhor com uma galinha nas mãos.
O galo não reclamara, porém o dono não se fizera de logrado, levando
o caso a conhecimento da autoridade local, um cabo da polícia, que
apenas teve o trabalho de identificar a ave, através da impressão digital
que ficara no barro do galinheiro. Teve também o caso da Maria que
levou à noite, para sua casa, o padeiro Jesuino. Não sei o que fizeram,
pois nos meus dez anos, a inocência era vital. Volto aos meus quinze
anos, sem o riacho e sem os sons dos pássaros. Apenas estudos. Foi
quando descobrir que a terra era redonda e que não se colocava sal
na água do mar. Foi nessa época que desconfiei dos vôos das cegonhas.
Antes era uma preocupação presente: Se a cegonha tivesse me soltado?...
Ainda nos meus quinze anos descobrir que os adolescentes entendiam
um pouco de música. Descobrir mais ainda, que o homem poderia
ser aprisionado pela mulher: Bastaria à aproximação dos corações. E
agora já adulto, vejo a realidade do aprisionamento que pode ser até
à distância através de ondas. Cresci, mas ainda sou a mesma criança.
Há pouco, em Natal, disputava carreira com caranguejo. E afirmo ,é
a pura verdade, ganhei todas corridas. Logo o crustáceo só tinha
arranco e parava em seguida. Agora estou aqui em frente ao monitor,
e nada vou escrever, pois me falta o essencial: Idéia!
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