Um texto que flui é como uma onda que se espalha sobre a superfície de um lago; elas não voltam mais ao ponto de origem, partem. Daí o cuidado que temos de ter ao falar, principalmente palavras duras, de agudeza infinita. Nem todos suportam uma crítica dita de maneira ferina, ou pior, uma crítica embutida numa ironia.
Tenho comigo que a delicadeza ainda é o melhor remédio. Já reparou nos enamorados? Eles sussurram a linguagem do amor, eles estão juntos e o mundo deles é próximo, cheio de ritmos próprios, cheios de pulsos designados por eles, numa coreografia que cintila aos dois e para o mundo que reconhece ali um par, uma dualidade.
Por isso escrevo: Gosto que os textos fluam, atinjam seus objetivos, encontrem corações afinados, eu quero que meu texto atinja a própria cerne do sentimento. Talvez por isso não consigo escrever pouco, sendo comedido como o boxeador Ernest Hemingway ou tão preciso nas palavras como Virginia Woolf.
Cuidado com o que diz! Você pode dizer: "Querido, não gostei disso que fez. Vamos conversar?" ou pode dizer"Raios, já falei para não mexer aí, porra"e existem mil exemplos disso. Tenho uma experiência disso que vocês não imaginam.Isso resulta de que as palavras são entes vivos. Um escritor amigo meu diz que quando você escreve e cria um personagem, ele cria vida própria. Diz suas próprias palavras, cria seu próprio vocabulário. Surge um ser novo nas letras como se fosse assim um simulacro que acaba se tornando parte de sua vida. O mesmo vale para a fala, o dizer. Quando você fala de maneira delicada, respeitando o outro, isto gera delicadeza de volta. Isso hoje em dia não está muito em voga; vê-se uma profusão de palavrões, de broncas em público, de atritos intermináveis.
Vamos reconsiderar a hipótese de falar com calma? De agir com delicadeza? Esquecer o modelo bombado/siliconado de ser e pensar que o mundo já foi mais aprazível? Que tal? É uma proposta de vida, vejam bem. Uma proposta de trabalho para todos, inclusive para mim. Sim, porque a lição vem para mim também...Óbvio!
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