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Cronicas-->Por Definição -- 05/12/2012 - 17:10 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

--Uma vez corno, sempre corno.

Ele era um bom homem.Esa frase saía de sua boca assim, sem controle, quando ele estava ali no balcão do bar, olhos perdidos...

--Imagine você, dezessete anos. Dezessete anos que eu doei para ela. Tempo que não volta mais, meu amigo.

Ele fora casado com uma mulher que à sua época, fora muito bonita. Segundo consta, ela foi modelo de capa de revista. Tinha um ar misterioso quando jovem e ele nunca entendeu direito o que ela vira nele. Sabe-se lá, dizem que o amor é cego, ele afinal não era de jogar fora; na época, quando começaram a namorar, ele jogava futebol na várzea, tinha pernas fortes, um ar meio blasée de quem vê o mundo com certo enfado, olhos irônicos. Talvez fosse isto que a encantara.

--Tome tento, seu Ramiro. Tem certeza que quer casar com ela?

--Por quê, acha que não tenho competência?

E lá vinha briga na certa, porque os futuros abandonados sentiam é muita inveja do rapaz que conquistara as simpatias de uma verdadeira musa. Os dois viviam namorando nas praças, sob as árvores copadas e sua luz filtrada, no carro que era de seu pai...Era um amor só.

--Essa moça não me engana.

Lá ia Ramiro, de pouco em pouco se enredando, presentinho daqui, beijinho de lá. Ela tinha olhos para ele. Só para ele.

--Quel o quê! Tinha um olho em mim, os outros eram para toda a multidão de invejosos... 

...E toca mais uma. "Corno é, por definição, corno. Sempre será", dizia um Ramiro amargurado, sempre com o apoio de um ou de outro arrependido. Porque assim que se casaram, ele dando um duro danado e achando que estava abafando, ela se aproveitava de sua ausência para lhe fazer crescer certa excrescência frontal. Lhe botava chapéu de couro. Lhe sacaneava; corria o mundo mesmo e sempre, sempre dava um jeito de voltar antes dele chegar com as flores que sempre comprava quando podia. Ela, com o olhar puro das falsas Madalenas, até lhe dava um trato, sabe aquela migalha que se dá a um pobre cão faminto? Para ele, não era migalha, era tudo. Ela, sempre com aquela reserva, o sorriso de lagarto pregado na boca. Ela dizia que não podia engravidar, porque quando jovem teria tido um problema sério que a levara a perder essa fase da vida. Ele, não tem isso, podemos adotar! Daí ela virava fera, não, não quero, você não tem idéia do que penso disso, melhor nem começar a falar, ele concordava e tome trabalho, e tome flores e ela, otário, meu negócio é mais embaixo. Teve uma vez ou outra que ele chegou em casa mais cedo e estranhando não encontrar o anjo torto em casa, vivia se justificando: Ah, deve ter ido ao mercadinho, deve ter ido procurar alguma coisa que está faltando. Talvez tenha ido buscar uma cortina...E uma vez ou outra adormeceu pensando nisso. Veja bem, dezessete anos.

--...Dezessete! Todo este tempo, eu batalhando. Onde ela enfiou o dinheiro, não sei. Sei que não deixava faltar nada em casa. Deve ter gasto com os camaradas que conhecia, de seu tempo de solteira. E eu, trabalhando, cheio de amor para dar! Não adianta, corno é corno, por definição.

Levantava o copo, onde a bebida rebrilhava. Dava um "saúde" ao tempo que passara, que não retorna mais. Dava um viva aos que chegavam, só para começar de novo a ladainha. No fundo, Ramiro era um chato, da pior espécie. 

--Não é à toa que largou dele!

--Dezessete!

--E tome trabalho...

--Viva o Ramiro!

E as risadas ainda o faziam luzir nos olhos. Porque, se com ela era traído, sem ela podia contar agora com os amigos. "Precisamos arranjar uma namorada para ele". "de jeito nenhum, quem fizer isso leva pontos no rosto. Não, não quero. Nem pensar. Dá de viver mais dezessete anos com outra cobra dessas?" Mas Ramiro, não tem mas. Corno é corno. Por definição.Eu acho que ele até que gostava.

--E ponto final.

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