O QUARTO PODER II
O poder da mídia é tão grande que é costume ela ser confundida com o próprio Judiciário. Pessoas, a maioria de natureza simples, lhes conferem atribuições de polícia. É comum, em instituições públicas de atendimento, algum descontente temperamental ameaçar fazer queixas ao “Ratinho”, à Márcia Goldsmith, à Globo, etc.. A atitude do pobre coitado é, em parte, compreensível, pois sua descrença no poder público desenvolvida pela longa experiência cultivada por frustrações aliada à confiabilidade que lhe desperta o glamour carismático dos apresentadores dos programas sensacionalistas e de noticiário, leva-o à ação desesperada de socorrer-se daqueles que lhe dão mais esperança.
O “metier” sensacionalista da mídia é um dos mais notáveis e produtivos no tocante a dividendos de ordem financeira. Para começar, a audiência é garantida e o esforço é mínimo. O retorno econômico proporcionado pelos patrocinadores diante de uma boa audiência (melhor diria grande audiência, ou seja, de ordem quantitativa) é óbvio. Aos apresentadores acresça-se o ganho político. Muitos terminam vitoriosos em pleitos para mandatos no Congresso ou até no Executivo. Sua fala firme, os comentários vigorosos, o jeito austero, procurando denotar atitudes corajosas e altruístas já demonstram um ensaio claro de suas pretensões políticas. Tornam-se ídolos, sem dúvida alguma e colhem os frutos com certeza. Em contrapartida, se por um lado inspiram confiança, paternalismo e autoridade aos incautos, aos detentores de cargos públicos impõem um grande temor. Pelo crédito de sua inegável popularidade, ninguém se arrisca a tê-los como inimigos. E assim vivem na impunidade, na licenciosidade e no inequívoco desrespeito à nobreza de sua própria função, como ditadores invulneráveis. Os infelizes que neles confiam muitas vezes acabam mal. Encorajados pela sua aura de poder, acabam por fazer denúncias perigosas, exporem-se e às suas famílias e depois que a matéria deixa de ocupar o cume do noticiário, caem no esquecimento e na mira dos revanchistas.
Agosto de 2003
Daniel Carrano Albuquerque
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