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cronicas-->Devagar na pisada -- 21/11/2012 - 13:13 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
--Continuamos nossa saga.
--Você quer dizer, a minha saga. Enquanto isto, tome entrevista!
--Vamos fundar um programa nacional de divulgação de suas crónicas!
--Não tinha o "Sítio do Pica-pau Amarelo? "
--Pois é. Lá vem!

Ela, muito séria a princípio, com um olhar danado de engraçado, solta a pérola.

--Pois é: As Crónicas da Casa Vermelha!

E gargalhava. Seu apartamento bem arrumado nesta manhã rescendia a perfume, um suave odor de mato fresco, capim limão. Notei assim que entrei na sala, munido de meu caderno para anotar suas falas.

--Notou o perfume hein?
--Claro!
--Você não é jornalista mas tem um bom faro. Cachorrão!

Dizia isto já com um copo de Dry Martini nas mãos, indicando com o queixo meu lugar de sempre.

--Dry Martini?
--Pelo menos nisto, eu e Audrey Hepburn temos algo em comum.
--Muito bem! Que episódio você se lembra hoje?
--Bem, hoje vou lhe contar um episódio, digamos, sagrado.
--Existe isto também?
--Por quê não existe? Todos podemos transcender. Vocês homens são pão pão, queijo queijo. Nunca existe o meio termo. Nós não: Nós sabemos as nuances de cada cor, sabemos de uma mirada onde podemos conversar e temos um sentido do que vem pela frente que vocês nem arranham!

"Quando conheci o gajo já sabia, antes de chegar sequer perto de alguma coisa, que ali havia um poço de maluquice. Primeiro, o jeito dele se vestir. Sempre com uma camisa azul ou branca. Calça escura, cinto preto. Sempre, dizia ele ser superstição. Nem cantava nem nada, não fazia shows mas tinha de andar sempre assim. Dizia ele que se saísse diferente, por esquecimento, coisa e tal, voltava à sua casa para colocar a camisa certa, o par de meia desenxabido, o tal cinto preto."

"Eu conheci este menino em um bar. Achei que ele fosse um pregador, talvez um crente. Estava lá eu mansamente sentada, tomando minhas providências para melhorar a imagem porque você sabe: Imagem é tudo nesta vida, de modo que lá estava eu reforçando meu olhar matador quando vem o moço e se senta alguns metros adiante. De lado, pede ao garçom...Água mineral. Sem gás. Veja bem, uma hora da manhã, Avenida Paulista, Água mineral com gás. Fui obrigada a suspender a operação olho vivo e fixei minhas pupilas no tal indivíduo. Ele notou, olhou para mim e ofereceu um gole. Naturalmente neguei, porque já sobre minha mesa havia um cálice de vinho tinto que sobrara de minha refeição. Fiz um gesto magnànimo: Ordenei que ele viesse à minha mesa.

--Água? Você deve estar brincando.
--Não. É meu hábito, a esta hora da manhã, nada mais saudável.
--Não acredito. Olhe a hora, meu filho. Uma hora da manhã, você aqui, sentado...
--Pura crença. Acredito que se eu fizer isto, pessoas como eu poderão ser atraídas.
--Posso garantir que sou bem diferente de você. Fique sentado, é uma ordem.

Não o deixei levantar. Ia dar um jeito nesta ordem e virar um certo mundo de cabeça para baixo. Vez em quando eu faço isto, pego um casadinho mal resolvido, um adolescente que ainda não saiu da barra da saia de mamã...

--Quer dar um passeio? Estou de carro, sou independente, você precisa tomar ares novos, veja sua palidez!
--Não gosto de sol.
--Nota-se. Mas, pelo amor de Deus!
--Não chame o nome dele em vão.
--Quer que eu fale o nome do outro?
--Pelo amor de Deus, não!
--Pronto, agora você é quem fala.
--Leve-me com você.

Levei o moço, bêbado de água e natureza. Levei o bom moço, sem cabimento nenhum, carreguei o santinho de pau oco por desvarios que ele jamais pensaria. Ninguém me engana, são os piores, cantam nas igrejas e louvam suas virtudes; no escuro e no breu da intimidade, são os loucos de plantão, são os desejos escusos, fazem o que jamais confessam. Creio que com ele fui visceral, tive vontade de domar sua fera, tive de me controlar para não me tornar mais abismal do que eu realmente era. Ele me chamava de luciferina, ele me agarrava como um animal, subindo nas corcovas do prazer e deixando de lado a água benta de sua pia batismal, junto do deleite que o fazia escravo num momento, que o tornava verdugo ao fim."

"Passamos assim um bom tempo,em encontros nada ortodoxos, em casuais segredos afins. Sei que ele pegou gosto pela coisa, da última vez que o vi, escondida num canto de um bar famoso, lá estava ele, sentado, cigarro na boca, cálice vermelho rubro de um chileno de boa cepa, olhos incendiários pousados na mocinha que bebia, para meu pasmo, um copo de..."

--...Água mineral!
--Pois é, menino, essa deu casamento. Desvirtuei o santinho, ela e ele me convidaram para o sacramento, teve até padre, véu e grinalda. Mandei o presente: Uma caixa de água Perrier.
--Em nome dos velhos tempos.
--...Em nome dos velhos tempos!
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