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Cronicas-->Quem quer ser um Epicurista -- 02/11/2012 - 16:09 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quem quer ser um Epicurista

 

Epicuro viveu na virada do século IV para o século III antes de Cristo, no começo do declínio da cultura helênica. Mesmo lá no longínquo 300 a.C. foi capaz de fazer uma leitura de mundo tão coerente que segue atual.  Nós, moradores de Rib City, bem poderíamos adotar algumas de suas orientações.

            Deveríamos começar sugerindo a mudança de nome do Bar do Epicurista, em Ribeirão Preto. Se havia um lugar no qual seria possível esconder-se de Epicuro, esse lugar era um bar. O filósofo acreditava que o melhor lugar para conversar com os amigos era em casa. O bar, além de caro, levava o homem a fugir da felicidade verdadeira, a qual era baseada em três itens bem simples. O primeiro deles era, exatamente, o cultivo da amizade. Fala Epicuro: “De todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição de amizade". Ele levou isso tão a sério que, quando chegou a Atenas, comprou um casarão e lá hospedou todos os amigos que tinha. O Jardim, como era conhecido o lugar, permitia que todos eles saboreassem  refeições frugais (isso mesmo: Epicuro era bem comedido) e trocassem ideias sobre a existência humana.  Os amigos seriam o início do caminho para a verdade individual ou, se preferir, para a felicidade.

            Estar rodeado de camaradas não seria, no entanto, garantia de felicidade se o homem não fosse livre. Não qualquer tipo de liberdade, mas aquela advinda da autossuficiência. Quem trabalha muito, mesmo ganhando uma fortuna, acaba sendo uma espécie de “servo por contrato” e, embora tenha autossuficiência financeira, não seria dono de seu tempo, não seria livre. Autossuficiente é aquele que obtém os recursos necessários para as necessidades básicas,  de maneira que exista tempo e espaço para o terceiro elemento da receita felicidade de Epicuro: a autorreflexão. A ato de pensar sobre si e sobre as questões importantes da vida completaria o quadro de condições necessárias para ser feliz. 

            Curiosamente, Epicuro apontava as relações comerciais como o grande entrave para quem decidisse seguir seus conselhos. A propaganda já era vista como uma artimanha empresarial que tinha o objetivo de substituir o que o homem realmente queria – amigos, liberdade e tempo para pensar – por fetiches em forma de produtos. Em vez de amigos, a roupa bonita que atrairia os amigos; em vez de liberdade, um cavalo melhor que, ao galopar, proporcionasse a sensação de liberdade; em vez de autoconhecimento, uma casa maior que lhe oferecesse espaço para se dedicar a si mesmo. 

            De 300 a.C. até aqui, os filósofos perderam prestígio, ao passo que a propaganda se tornou mais poderosa e implacável, a ponto de mirar suas armas num mercado formado por crianças consumistas que  determinam até qual carro a família deve comprar (Aquele do cachorro que fala, papai! Aquele dos pôneis malditos, mamãe).  A felicidade é, no século XXI, o poder de consumir e satisfazer os desejos a qualquer custo. 

            É uma pena que de Epicuro de Samos só nos tenha sobrado o luminoso de um restaurante de comida nordestina. Em nosso mundo-mercado, as ideias desse filósofo seriam um contra-argumento poderoso. Quem, porém, diante de tantos anúncios e vitrines, quer ser um epicurista de fato?

Jefferson Cassiano é professor e publicitário. Ocupa a cadeira 31 da Academia Ribeirãopretana de Letras

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