Querida Janete
"SER MÃE" E AMOR DE MÃE
1. Também gostei muito de teu poema "Denúncia". Li agora. É um belo trecho
sobre alguns dos principais destaques do amor cego das mães, bem escrito e
ao nível da observação do meio social ambiente.
2. Li também a mensagem da Gislaine.
3. Você me pede para entrar no debate. Acho que não sou aquela pessoa
habilitada que poderia trazer novidade ao debate. Mas você pede. E eu
obedeço.
4. Sou um homem, sou pai, observei de perto durante anos o ofício de ser mãe
em casa de família com o binóculo de minha cultura.
5. Vou dividir minhas observações falando de sua "denúncia" e do comentário
da Gislaine.
6. No que toca à sua parte, direi que o texto que publica em Usinadeletras
me parece muito límpido. Não tem nada de problemático Ele se limita
cadenciadamente a mostrar ao leitor, e em verso, o que o próprio leitor tem
como verdadeiro, porque o sabe também da observação colhida no dia a dia. É
um texto que leva o leitor a se associar à homenagem e embalo de admiração
que faz socialmente a epopéia de vida da maternidade humana. É um texto que
mostra a dedicação e a vivência das mães, as quais levadas pelo amor, tentam
educar, proteger e acompanhar os filhos na vida. Tudo em função de um "cego
amor", como você se expressou.
7. Por sua vez, o texto da Gislaine, se bem entendi, é de natureza
problemática. Ela problematiza porque quer discutir mais fundo o "ser mãe".
Acredito que a essência da mensagem dela é a seguinte. Ela vê no "ser mãe"
uma dupla referência: a) por um lado, "ser mãe" significa a capacidade
biológica da mulher em conceber,gestar uma criança e botá-la no mundo. b)
por outro lado, além da função biológica, "ser mãe" é também um exercício
baseado numa cultura social. É um ritual social e cultural. c) isso
significa que, colocada no mundo,a criança deverá ser acompanhada, educada,
orientada, pelo menos durante o período da infância e da adolescência. No
âmbito de uma cultura social.
8. Ainda dentro da interpretação que faço do discurso da Gislaine, parece
que ela quer dizer que temos até hoje visto, de "uma certa maneira cultural",
a função da mãe. Mas poderíamos vê-la de outra maneira, questionando o
núcleo significativo do "ser mãe"
9. Quando ela fala de des/construir o "ser mãe", deve referir-se ao fato de
que há uma variedade enorme de culturas nas várias sociedades, desde as
primitivas, até às sociedades tradicionais, até às sociedades variadas de
ocidente a oriente, até ás sociedades civilizadas e industrializadas, onde
certamente teremos muitos dados, muitos modelos, muitos elementos, muitos
comportamentos, muitas emoções, muitas atitudes até as aparentemente frias,
na relação da mãe com sua cria.
10. Em resumo: a) fenomenologicamente, em nossa vida humana, temos a mãe em
sua primeira manifestação, biologicamente parindo; b) e em segundo lugar,
existe socialmente "o conceito" de olhar a mãe. Há até uma forma brasileira,
ou argentina ou peruana ou mexicana ou norte-americana, ou africana, ou
japonesa de descrever e de entender o ofício da mãe na família e na
sociedade.
11. Mas...Janete...Como será isso de "ser mãe" num mundo que não é o
nosso...???
12. Aqui, acho eu, entra a desconstrução ou construção ( de que fala a
Gislaine). Há que ir atrás de um conceito mais profundo, talvez mais
específico (mais amplo e quem sabe, mais verdadeiro) sobre a "mãe" humana,
vista desde um universo maior...
13. É tudo. Desculpa. Tudo está em aberto, como todos os conceitos. Acredito
que só a Gislaine pode explicar o próprio discurso. Acho entretanto que deve
ser por aí ou... arredores...rsrsrs..
Brasília, 8 de maio de 2006. João.
|
