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Cronicas-->Leny, Fela e Dzi -- 02/11/2012 - 16:07 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Leny, Fela e Dzi

Leny Andrade esteve no Casa do Dedé, em Ribeirão Preto, na última quinta-feira.  Entrou no bar por volta das 23h00, lentamente, enquanto o maestro João Carlos Coutinho e o contrabaixista Jacaré já introduziam os acordes da primeira música do show. Não lembro que música era, pois, desse momento em diante, minha atenção foi tomada pela figura dessa cantora tão pouco celebrada no Brasil.  O samba-jazz correu solto, e eu hipnotizado pela figura com jeito de vozinha e vozeirão inexplicável para os seus autodeclarados 1m48cm de altura.

            Parêntese: Samba-jazz? Sempre tive dificuldade de definir que gênero seria esse. Uma estratégia para tentar fazer o brasileiro consumir a Bossa Nova com outro rótulo? Não é um absurdo, pois a música que encantou o mundo nos anos 1950 e 60 só funcionou aqui no Brasil com a classe média, no melhor estilo zona sul, e hoje nem com ela. Creio que João Gilberto tem culpa grande nesse cartório. O jeito pernóstico do autor de Desafinado está eternamente associado ao ritmo que ele ajudou a inventar.   De todos os totens da Bossa, foi ele quem conseguiu chegar ao século XXI. Não temos a sedução de Vinícius, não temos a maestria Jobim, mas nos restou o mau humor de João Gilberto. Parece melhor mesmo chamar Bossa Nova de Samba-jazz ... Fecha parêntese.

            Leny chegou ao palco com pinta de quem não daria conta de cantar, 68 anos muito bem aproveitados. Bastou livrar o microfone do pedestal e, estalando dedos da mão esquerda para marcar o ritmo, soltar a voz que vem sabe-se lá de onde, para que eu não pudesse mais tirar os olhos do palco. Leny nos laça, enlaça, enreda com sua capacidade de entortar a boca e endireitar a melodia. Babamos todos. 

            Lá pela terceira música, tentei entender de onde vinha aquele magnetismo e saquei: Leny não é apenas ela.  É muito mais. Sua garganta é, hoje, o canal certo para a manifestação concreta de Deodato, Donato, Cartola, Vinícius, Jobim e outros tantos que se materializam quando ela abre a boca. A baixinha entrou no Casa do Dedé e eles todos, sem cerimônia, entraram com ela.   Leny Andrade é uma legião, uma entidade musical. 

            Na última quinta, a Bossa Nova inteira se apresentou em Ribeirão Preto para duzentos privilegiados.  Valeu, Dedé!

            Parêntese final: Assim como muitos de minha geração, não me lembrava de Leny.  Estranhei isso, mas não muito. Em 2011, descobri fatos mais graves que essa amnésia. Por acaso, conclui que não conhecia Dzi Croquettes e nunca tinha ouvido Fela Kuti. Os Dzi foram bem escondidos pela ditadura. Fela fez sucesso num mundo menos interconectado. Leny, apesar de entranhada na Bossa Nova, era uma criança quando começou a conviver com os boêmios do Beco das Garrafas; morou muito tempo fora do Brasil: México, EUA... De qualquer forma, falha minha, falha nossa. E boa notícia: nunca é tarde para conhecer arte da boa. Então, entre aí no Youtube e digite: Fela Kuti, Dzi Croquettes e Leny Andrade.  Fecha parêntese e texto.

Jefferson Cassiano é professor e publicitário. Ocupa a cadeira 31 da Academia Ribeirãopretana de Letras

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