Usina de Letras
Usina de Letras
113 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62239 )

Cartas ( 21334)

Contos (13264)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10368)

Erótico (13570)

Frases (50636)

Humor (20031)

Infantil (5436)

Infanto Juvenil (4769)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140810)

Redação (3307)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6194)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Fragrância Feminina na Poesia - Auta de Souza. -- 03/08/2003 - 10:41 (Fernanda Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fragrância Feminina na Poesia



Auta de Souza





Auta de Souza nasceu em Macaíba, pequena cidade do Rio Grande do Norte, no dia 12 de setembro de 1876.

Era filha de Eloy Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina de Souza, sendo irmã de dois políticos e intelectuais, Henrique Castriciano e Eloy de Souza.

Ficou órfã de mãe, antes de chegar aos 3 anos de idade. Quase dois anos mais tarde, mais precisamente em janeiro de 1881, perderia também o pai.

Em virtude da morte dos pais, Auta e os quatro irmãos mudam-se para Recife, onde vão morar com os avós maternos, no velho sobrado do Arraial.

Quando então, com 10 anos de idade, assiste a morte trágica do irmão Irineu. Era um 15 de fevereiro de 1887, quando o irmão subiu ao andar superior do sobrado com uma lamparina de querosene. Houve uma explosão do candeeiro e Irineu foi envolvido pelas chamas.

Estudou no Colégio São Vicente de Paulo, coordenado por religiosas francesas. É no Colégio São Vicente que aprende e domina o francês, o que lhe possibilita a leitura no original de autores como: Vitor Hugo, Chateaubriand, Fénelon, Lamartine

Em 1890, aos 14 anos de idade, surgem os primeiros sinais da tuberculose. A avó Dindinha, após levá-la aos médicos de Recife , sem encontrar qualquer alternativa de cura, resolve retornar com toda a família para Macaíba(RN).

Auta então, abandona os estudos, indo em busca da cura no interior. O avanço da doença obriga-a a buscar cidades do interior de clima mais seco. Auta em companhia da avó Dindinha, começam a peregrinar por vários lugares: Fazenda Jardim, Araçá, Angicos, Nova Cruz, Utinga, São Gonçalo, com intervalos em Macaíba e Natal, e ainda na Serra da Raíz, na Paraíba...

Em 20 de junho de 1900, publica O Horto, seu primeiro e único livro de poemas, que foi prefaciado por Olavo Bilac. Em sessenta dias, a edição estava esgotada.

A tuberculose, no entanto, não arrefece. Aos 24 anos, no dia 7 de fevereiro de 1901, em Natal, morre Auta de Souza.

Nove anos após a morte da poetisa, em 1910, saía a segunda edição, em Paris, com ilustrações artísticas de D. Widhopff. Em 1936, a terceira, no Rio de janeiro, com prefácio de Alceu de Amoroso Lima.

Antes da publicação de O Horto, parte de seus poemas foram publicados em jornais como A Gazetinha, de Recife, O Paiz, do Rio de Janeiro, e A República, A Tribuna, o Oito de Setembro, de Natal, e nas revistas Oásis e Revista do Rio Grande do Norte. Nas edições seguintes de o Horto, foram incorporados as publicações, alguns poemas inéditos deixados pela escritora.

Na poética de Auta de Souza, podemos observar um acentuado lirismo e leves traços simbolistas. Em função da sua história de vida, temas como a morte e o universo infantil, são fartamente observados.





Livros publicados:



Horto. Prefácio de Olavo Bilac. Rio de Janeiro: 1900.

Horto. Ilustração e Capa de D.O. Widhopff. 2 ed. Paris: Tipographie Aillaud, Alves & Cia, Boulevard Montparnasse, 96, 1910.

Horto. Prefácio de Alceu de Amoroso Lima. 3 ed. Rio de Janeiro: Tip. Batista de Sousa, 1936.

Horto. 4a. ed. Natal: Fundação José Augusto, 1964.





Um Pouco da Poesia de Auta de Souza



SAUDADE

A ela, a Eugênia, a doce criatura que me

chama irmã.



Ah! se soubesse quanto sofro e quanto

Longe de ti meu coração padece!

Ah! se soubesses como dói o pranto

Que eternamente de meus olhos desce!



Ah! se soubesses!... Não perguntarias

De onde é que vem esta sombria mágoa

Que traz-me o peito cheio de agonias

E os tristes olhos arrasados d’água!



Querem que a lira de meus versos cante

Mais esperança e menos amargura,

Que fale em noites de luar errante

E não invoque a pobre noite escura.



Mas... como posso eu levar sonhando

A vida inteira n’um anseio infindo,

Se choro mesmo quando estou cantando

Se choro mesmo quando estou sorrindo!



Ouve, ó formosa e doce e imaculada,

Visão gentil de eterna fantasia:

Minh’alma é uma saudade desfolhada

De mãe querida sobre a cova fria.



Ah! minha mãe! Pois tu não sabes, santa,

Que Ela partiu e me deixou no berço?

Desde esse dia a minha lira canta

Toda a saudade que lhe inspira o verso!



Depois que Ela se foi a Mágoa veio

Encher-me o coração de luto e abrolhos.

Eu sofro tanto longe de seu seio,

Eu sofro tanto longe de seus olhos!



Ó minha Eugênia! Estrela abençoada

Que iluminas o horror deste deserto...

De teu afeto a chama consagrada

Lança à minh’alma como um pálio aberto.



Quando beijares teus filhinhos, pensa

O que seria d’eles sem teus beijos;

E, então, compreenderás a dor imensa,

A amargura cruel destes harpejos!



Junta as mãozinhas dos pequenos lírios,

Das criancinhas que tu’alma adora,

E ensina-os a rezar sobre os martírios

E a saudade infinita de quem chora.





RENASCIMENTO

A Olegária Siqueira



Manhã de rosas. Lá no etéreo manto,

O sol derrama lúcidos fulgores,

E eu vou cantando pela estrada, enquanto

Riem crianças e desabrocham flores.



Quero viver! Há quanto tempo, quanto!

Não venho ouvir na selva os trovadores!

Quero sentir este consolo santo

De quem, voltando à vida, esquece as dores.



Ouves, minh’alma? Que prazer no ninhos!

Como é suave a voz dos passarinhos

Neste tranqüilo e plácido deserto!



Ah! entre os risos da Natura em festa,

Entoa o hino da alegria honesta,

Canta o Te Deum, meu coração liberto!





AO MAR

A D. Martha e D. Amélia Pacheco



Ontem à tarde, ao pé de ti sentada,

Eu pus-me a contemplar-te, ó Mar bravio!

Pensava que acolhida em tuas ondas

Talvez minh’alma não sentisse frio!



Contei-te, uma por uma, as cruas dores

De minha vida, toda de saudade;

Quis afogar as minhas mágoas fundas

No leito azul de tua imensidade.



Como seria bom morrer aí,

Moça, inocente, tendo n’alma em flor

Um mundo virgem de sagradas crenças,

Todo banhado no ideal do Amor!



Tu dar-me-ias, então, a sepultura

Nessas espumas murmurosas, belas...

E à noite, se mirando em tuas águas,

Me cobriria o Céu de mil estrelas.



Ao pé de ti, como um soluço brando,

Sinto fugir-me, pouco a pouco, a vida...

Chorai, vagas, por mim! dobrai finados

Bem como os sinos de risonha ermida!



No mausoléu augusto do Oceano

De outros dobres minh’alma não precisa;

Por súplica mortuária só deseja

O soluço do vento que desliza...



Dezembro de 1893.





MEU SONHO

A Yayá e a Maria Leonor Medeiros



Eu tenho um sonho que no Céu mora

Feito de luz e feito de amor,

Um sonho róseo como uma aurora,

Um sonho lindo como uma flor.



E eu vivo sempre, sempre sonhando,

O mesmo sonho de noite e dia,

O mesmo sonho suave e brando

De minha vida toda a alegria.



Quando soluço, quando minh’alma,

Cheia de angústia, fica a chorar.

O sonho amado me traz a calma

E, então, minh’alma põe-se a rezar.



Quando, nas noites frias de inverno,

Eu tenho medo da tempestade,

Ele, o meu sonho, consolo eterno,

Transforma as sombras em claridade.



Quando no seio, choroso e louco,

Palpita, incerto, meu coração...

O sonho doce vem, pouco a pouco,

Trazer-me a graça de uma ilusão.



E eu canto e rio na luz dispersa

Deste dilúvio de fantasias...

Minh’alma voa no Azul imersa

Buscando a pátria das harmonias.



Imagem doce, visão sagrada,

Quimera excelsa dos meus amores,

Pérola branca, delícia amada,

Bálsamo puro das minhas dores;



Ele, o meu sonho, farol que encanta,

Guia-me à pátria da salvação,

Sorriso ingênuo, relíquia santa,

Do relicário do coração!





DESALENTO



Quando o meu pensamento se transporta

A’s praias de além-mar,

Sinto no peito uma tristeza imensa

Que manda-me chorar.



É que vejo morrerem, uma a uma,

Santas aspirações,

E voarem com os pássaros saudosos

As minhas ilusões...



Nunca julguei que a terra fosse um túmulo

De sonhos juvenis,

Sorrindo acreditei que aqui, no mundo,

Podia ser feliz...



Enganei-me: - a tristeza, que me oprime

O coração sem luz...

Como o Sol o derradeiro raio

Nos braços de uma cruz...



A trêmula saudade que entristece

E faz desfalecer;

Essa agonia lenta que me inspira

Desejos de morrer... –



Tudo me diz que a vida é o desengano,

A morte da Ilusão,

E o mundo um grande manto de tristezas

Que enluta o coração.



Jardim - 1893.





MINH’ALMA E O VERSO



Não me olhes mais assim... Eu fico triste

Quando a fitar-me o teu olhar persiste

Choroso e suplicante...

Já não possuo a crença que conforta.

Vai bater, meu amigo, a uma outra porta.

Em terra mais distante.



Cuidavas que era amor o que eu sentia

Quando meus olhos, loucos de alegria,

Sem nuvem de desgosto,

Cheios de luz e cheios de esperança,

N’uma carícia ingenuamente mansa,

Pousavam no teu rosto?



Cuidavas que era amor? Ah! se assim fosse!

Se eu conhecesse esta palavra doce,

Este queixume amado!

Talvez minh’alma mesmo a ti voasse

E n’um berço de flor ela embalasse

Um riso abençoado.



Mas, não, escuta bem: eu não te amava.

Minha alma era, como agora, escrava...

Meu sonho é tão diverso!

Tenho alguém a quem amo mais que a vida,

Deus abençoa esta paixão querida:

Eu sou noiva do Verso.



E foi assim. Num dia muito frio.

Achei meu seio de ilusões vazio

E o coração chorando...

Era o meu ideal que se ia embora,

E eu soluçava, enquanto alguém lá fora

Baixinho ia cantando:



“Eu sou o orvalho sagrado

Que dá vida e alento às flores;

Eu sou o bálsamo amado

Que sara todas as dores.



Eu sou o pequeno cofre

Que guarda os risos da Aurora;

Perto de mim ninguém sofre,

Perto de mim ninguém chora.



Todos os dias bem cedo

Eu saio a procurar lírios,

Para enfeitar em segredo

A negra cruz dos martírios.



Vem para mim, alma triste

Que soluças de agonia;

No meu seio o Amor existe,

Eu sou filho da Poesia.”



Meu coração despiu toda a amargura,

Embalado na mística doçura

Da voz que ressoava...

Presa do Amor na delirante calma,

Eu fui abrir as portas de minh’alma

Ao verso que passava...



Desde esse dia, nunca mais deixei-o;

Ele vive cantando no meu seio,

N’uma algazarra louca!

Que seria de mim se ele fugisse,

Que seria de mim se não ouvisse

A voz de sua boca!



Não posso dar-te amor, bem vês. Meus sonhos

São da Poesia os ideais risonhos,

Em lago de ouro imersos...

Não sabias dourar os meus abrolhos,

E eu procurava apenas nos teus olhos

Assunto para versos.





© Fernanda Guimarães

Em 03.08.2003





Fonte de Pesquisa:

Sites da Internet:

http://www.efasfrutal.hpg.ig.com.br/autadesouza.htm

http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/catalogo/auta_vida.html

http://www.secrel.com.br/jpoesia/asouza.html

http://www.fundaj.gov.br/observanordeste/obte023.html

http://geocities.yahoo.com.br/poesiaeterna/poetas/brasil/autadesouza.htm

http://www.editoraideal.com.br/benfeitores/benfeitores_03.htm









Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui