A trilha comprida que leva uma estrada perdida,
na limpidez do sol que se esvai
horizontalmente no espaço tangível
sumiu-se sob os meus pés.
Cansada da longa viagem que fiz não sei onde,
só então verifiquei a flutuação do meu ser,
levado nas ondas do som e da luz,
envolvido mornamente pelo suave bafejar do irreal.
O vácuo me amparou na caminhada solitária
e disse comigo, feliz:
— E agora que sou, que faço, que quero?
Longe, uma voz respondeu sussurrante:
“Mísero mortal que te fazes eterno,
olha para trás, na distância do movimento, resolve tua sorte e sê maldito!”
Sorri e não me voltei,
porque sabia que não poderia ver,
que nada havia para ver, que teria amargura n’alma, que seria obrigado a chorar.
Mas nem por isso olhei para a frente
porque sabia que teria a mesma ilusão
e choraria.
Fechei-me em mim mesma,
na terrível ignorância do que é,
do que não é, esperando escapar do sofrimento angustioso do conhecimento ilusório do mundo.
Nada adiantou.
Não pude fugir:
dentro de mim estavam também passado e futuro,
todo o movimento energético,
toda a consciência existencial,
tudo o que é ou pode ser,
tudo o que absolutamente não é,
tudo,
tudo,
tudo,
o ser e o não-ser,
a me espreitarem,
a me oprimirem,
a me fazerem chorar.
09.11.57.
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