SÍSIFO
O meu destino é semelhante àquele
imposto ao legendário rei coríntio,
que carregava ao ombro para o monte
pedra que despencava em avalancha.
Buscava novamente a rocha bruta,
subia o monte e, mal chegava ao cimo,
de suas mãos sangradas escapava
o mineral, que ao solo retornava.
E assim jamais o seu suplício ao fim
chegava, mesmo exausto, quase morto.
O meu suplício é semelhante ao dele
- a cada "não" que tu me dizes, subo
minha montanha, carregando pedras,
que se desprendem de meus ombros, rolam
ladeira abaixo, e volto a ti, pedinte.
E tu de novo dizes "não", sorrindo.
Apanho minha rocha, subo o monte.
Se conseguir chegar ao cimo e lá
deitar a pedra, ao chão fincá-la, o "sim"
de ti terei.; porém fui condenado
a carregar meu fardo vida afora
e vê-lo escorregar pelas escarpas.
E quando quase morto me encontrar,
sabendo, embora, que somente "não"
a mim dirás, ainda assim direi:
"Melhor este suplício, a ser feliz
longe dos olhos teus, vizinho à morte".
|