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Infanto_Juvenil-->O GATO MILANÊS E A MENINA DO BRASIL -- 01/03/2007 - 09:09 (Hull de la Fuente) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O GATO MILANÊS E A MENINA DO BRASIL

(Hull de La Fuente)

Menina pegou a boneca Silvy, jogou um beijinho pra mãe que seguia um programa na TV e saiu saltando amarelinha sobre os tapetes do longo corredor do apartamento. A amiga Sarah, filha do Zelador do prédio, já devia estar à sua espera. Enquanto aguardava o elevador, teve a sensação de que era observada. “São os cachorros da velha senhora suíça” – Pensou, sem nem mesmo olhar pra porta da vizinha - “Cachorros feiosos, da cara amassada na vidraça! Fingem que dormem, só para morder o calcanhar das pessoas.”

No térreo, ao sair do elevador, alguém a saudou:

– Salve!

Menina voltou-se na direção da voz e não viu ninguém.

– Quem está aí? Por que você está escondido?

– Não estou escondido, eu estou aqui embaixo, não está me vendo?

– Não estou vendo nada! Se você não aparecer logo eu vou sair. Eu não brinco com quem eu não vejo.

– Seu nome é Menina. Eu sei quem é você.

– Mas eu não sei quem é você. Apareça primeiro – disse, caminhando alguns passos rumo à casa do porteiro e, desta vez, ouviu bem mais de perto, a voz.

– A Sarah não está em casa, eu vi quando ela saiu com os pais.

Menina olhou na direção da voz e quase caiu pra trás. Sobre a mesa do porteiro, encontrava-se sentado um enorme gato de longos pelos brancos, que a olhava divertido. Ele era lindo e tinha os olhos cinza claros. Alguma coisa nele, era familiar à garota.

– Mas você é um gato!!! De onde você saiu? Como sabe que eu vou à casa da Sarah?

– Eu sei por que sei! Todos os dias você vai lá brincar com ela. Sempre neste mesmo horário.

– E por que nunca falou comigo? Como sabe o meu nome? Você existe mesmo?

O gato lambeu por entre as unhas da pata esquerda e, displicente, respondeu:

– Já é primavera. Muitas aves voltaram do Brasil...

– Você é doido, é? O que tem a primavera com isto? Eu perguntei outra coisa. Você não pode ser de verdade. Só o meu gato “Paizinho” sabia falar. E ele era do Brasil, nunca veio a Milão.

– Eu sei! Foi por isso que eu falei das aves. Já é Primavera, as andorinhas voltaram do Continente Sul...

– Nossa! Você fala engraçado, repete as coisas. O meu gato conversava coisas que eu sabia. E ele falava também com os olhos. Eu olhava nos olhos dele e sabia o que ele estava dizendo.

– Eu sei! É Primavera. As andorinhas trouxeram notícias de lá. Meus primos moram lá. Foram levados por “gentes italianas” que imigraram para o Brasil.

– Ah! Entendo. – disse Menina, já começando a achar o gato muito simpático - As andorinhas trazem notícias dos seus parentes... Mas os gatos não comem as andorinhas?

– Não! Quem come andorinha é árabe. Você sabia que na Ásia, até os ninhos das andorinhas, são comidos? Não! Os gatos comem sardinhas e ração para gatos.

– É, mas o meu gato Paizinho caçava tudo, até passarinhos. Ele só não caçava o papagaio da vovó. Ele achava que papagaio tinha cheiro de coco. E gato não come coco.

– Eu já vi um coqueiro, lá na Via Torino. – disse o gato, a lamber, ora uma ora a outra pata - Ele vendia pedaços de coco para os passantes...

Menina procurou lembrar-se do coqueiro da via Torino. O gato só podia estar se referindo ao vendedor de coco.

– Coqueiros não vendem cocos. Aquele é um homem. Eu o vi. Ele vende pedaços de coco. Na Itália não tem coqueiros.

– Como é um coqueiro?

– Coqueiro é como um poste alto, mas é árvore. As folhas do coqueiro são como um espanador, você já viu um espanador? Pois é, o coqueiro é igual, só que é verde como o papagaio da vovó, e é plantado no chão.

– É engraçado.

– O quê?

– Ver uma plantação de espanadores verdes, no jardim...

– Você é que é engraçado! Ninguém planta espanadores nos jardins. Os coqueiros nascem nas praias. Isto é, eu vi uma foto de praia do mar. Nela havia uma floresta de coqueiros. Gato da cidade não sabe de nada. O meu gato era caipira, mas sabia um monte de coisas.

– É! O Mìciolo me contou. Os caipiras sabem das coisas.

– Quem é ”Mìciolo”?

– É o meu primo, o amigo da Rondinella, a andorinha carteira. O nome dele é Miciolo. A Rondinella disse pra ele, que no Brasil, “Mìciolo” quer dizer “Bichano”...
Menina lembrou-se do dia em que Paizinho fugiu, por que ela o levara pra tomar banho no Rio Araguaia. Após várias unhadas para livrar-se dela, o gato embrenhou-se na mata e ficou dois dias sem aparecer.

– Um dia eu levei o meu gato para tomar banho de rio, mas ele não gostou e me unhou toda, não quis tomar banho. Depois ele se meteu na mata. Eu o procurei chamando-o “bichano”.

– É, “as gentes” quando querem agradar um gato falam desta forma. – O gato ficou um tempo olhando a pata que não parava de lamber. Depois prosseguiu a conversa - Quando o Miciolo conheceu a Rondinella, ele aprendeu muita coisa. Até isso, que os gatos de lá, caçam animais. Agora ele vive chamando os gatos da nossa turma, pra caçar pombos na Praça Duomo.

– Uê! Por que você fala assim? Os gatos italianos não sabem caçar?

– Só os gatos “selvàtichi”, caçam.

– O que é “Selvàtichi”?

– Ora! São os gatos que vivem nas matas. Você não sabe?

– Agora eu entendi o que é. Você quer dizer “selvagem”. Gato selvagem caça gente?

– Não!!! As “gentes” é que caçam os gatos. Elas gostam de comer gato com polenta.

–Eca!!! Você está mentindo. Ninguém come gato.

– Não é mentira. Você já foi a Veneza? – Perguntou preocupado porque Menina parecia não acreditar nele.

– Claro que eu já fui! Eu não vi ninguém comendo gato, lá.

– Então você passou pela cidade de nome Vicenza. No caminho de Veneza. Lá eles comem gatos.

Menina aproximou-se dos degraus de mármore da escadaria e sentou-se no segundo deles. Abraçada à Silvy, percebeu que o gato olhava com interesse pra boneca. Preocupada, perguntou:

– Você disse que as pessoas de Vicenza comem gatos, o os gatos de lá comem o quê? O que você come? Você é de Vicenza?

– Eu não! Eu sou um autêntico gato milanês. Nasci aqui perto desta galeria. Na Igreja de San Satiro, isto é, lá em baixo, atrás da capela de Bramante. E olha! Eu não vou atacar a sua boneca. Eu só não compreendo por que as “gentes” brincam com “gentes” de mentira.

– Você é a primeira pessoa que eu conheço que nasceu numa igreja, isto é, primeiro gato. E a Silvy não é gente, ela é uma amiguinha de brinquedo. E você deve dizer: “as pessoas” e não “as gentes”.

Por um momento o silêncio reinou entre os dois. Pra Menina, conversar com um gato era a coisa mais natural do mundo. O gato, também estava tranqüilo perto dela. Penteando com os dedos, os cabelos da boneca, ela pensava em outra coisa: “Por que será que a Sarah não interfonou pra dizer que ia sair?“ Como se lesse o pensamento dela, o gato rompeu o silêncio:

– Ela foi a uma festa de aniversário. Eu ouvi quando a senhora Rita pediu pra ela segurar o presente com cuidado, para não amassar o papel.
Menina não se impressionou com o que o gato disse. A mesma coisa acontecia com o gato Paizinho. Ela não precisava falar. Ele interpretava seus pensamentos. Deixando Silvy sentada no degrau a seu lado, perguntou:

– Como você descobriu que eu sou brasileira? Por que nunca o vi aqui na portaria? Como sabe o meu nome?

– Foi o meu primo milanês quem falou. Aliás, foi a andorinha Rondinella quem disse que o meu primo “brasiliano” disse que você morava aqui.

– Você é complicado pra falar. Os seus primos me conhecem?

– Todos os meus primos que são parentes do seu gato Paizinho, conhecem você e as histórias de vocês, lá na “fattoria”.

– No Brasil o nome é chácara, não é “fattoria”. Então a andorinha Rondinella foi à minha chácara, no Brasil?

_ As andorinhas fogem do inverno aqui e vão para o Brasil. Elas vão a muitos lugares, algumas não voltam mais, ficam por lá mesmo.

_ Ah! – disse num tom baixo – Como é o seu nome? Vamos à minha casa? Vou contar pra mamãe que eu achei você...

O gato voltou a lamber a patinha esquerda e com ar de tristeza respondeu:

– Quando eu vivia com minha dona, ela me chamava “Palla di Neve”... – disse o gato, com um ar melancólico – Não posso ir à sua casa. Eu agradeço. É por causa dos cães da velha surda. A que mora no apartamento ao lado do seu. Eles estão sempre deitados no carpete da entrada. É arriscado. Se os cães me atacam eu vou ter de me defender. E se eu me defendo, a velha surda chama os guardas.

Menina ouviu com atenção as palavras de “Palla di Neve” e exclamou:

– Que nome bonito! “Bola de Neve”! Então era você que estava lá no andar me observando? Você tem razão, Bola de Neve. Aqueles pequineses dormem o tempo todo no carpete. Mas quando eu chego perto, eu vejo que eles estão movendo as pestanas. Eu gosto de cães, mas não gosto daqueles três lá.

Bola de Neve ouviu-a com interesse. A seguir, agilmente, saltou da mesa e a convidou para sair dali da portaria.

– Pra onde vamos? Posso levar a Silvy?

– Vamos conhecer a minha turma. Acompanhe-me, pode levar “sua brinquedo”.

O gato dirigiu-se para a porta de acesso à “cantina”, localizada dois andares abaixo do andar térreo. Sem nenhum receio a garota o acompanhou. Ele saltava os degraus de dois em dois. Menina agia com mais cautela, afinal era a primeira vez que ela ia ao antigo refúgio contra bombardeios. A escada era muito alta e estreita. O velho refúgio fora transformado em pequenos quartos onde eram guardadas as coisas que começavam a não ter mais serventia. Lá embaixo era um verdadeiro labirinto. Bola de Neve, entretanto, a conduzia como verdadeiro conhecedor do lugar. Menina olhava para todos os lados, tinha medo de encontrar ratos e baratas. A iluminação do refúgio era feita por lâmpadas presas a fios aparentes, agarrados ao teto. Ainda assim era um pouco escuro. Finalmente, Menina viu no final de um dos corredores, uma saída que levava aos fundos da igreja onde a amiga Sarah fora crismada. Antes de chegarem lá, já se ouvia o rumor de miados em vários tons. Curiosa, a garota perguntou:

– São seus amigos? É aqui que você mora?

– Espera! Logo você vai ver!

Os miados ficaram mais altos. No cubículo seguinte, onde não havia porta, Menina viu uma cena incrível. Quatro gatos, usando coletes e gravatas borboleta, jogavam carta em volta de uma velha cadeira. Sobre a prateleira superior de um armário de madeira, dois outros, dormiam. Na prateleira do meio, estava um gato cor de caramelo. Vestia colete de veludo verde e tocava um pequeno violino de plástico, sem cordas. Ao lado dele, uma gata de pelos cinza. Ela usava colar de contas, uma flor rosa ao pescoço e tocava um pandeiro. Um dos gatos que jogava cartas, ao ver Bola de Neve, gritou:

– Oi chefe! Estou ganhando todas. Apostei que você traria a Menina aqui. A turma não estava acreditando que ela viesse. Salve Menina “brasiliana”!

– Salve! E você quem é? Como é o seu nome?

– Eu sou o “Mìciolo”, primo do Bola. Somos parentes do seu gato “brasiliano”. A andorinha “Rondinella” contou-nos suas histórias.

– Muito prazer, Mìciolo. Você é muito parecido com o meu gato Paizinho, é rajado como ele e da mesma cor, caramelo e preto.

– Por que você o chamava de “Paizinho”?

– Ele é que me chamava de “Paizinho”. Meu gato pensava que eu era um garoto, porque eu usava as roupas do meu irmão.

– Usava? Pra quê?

– Porque meu irmão só tinha irmãs. Aí eu fazia de conta que era menino, pra brincar com ele, compreende?

Menina olhava cada um deles com especial atenção. Eram todos gordos e bonitos. Nem pareciam gatos de rua. Bola de Neve assoviou alto e os dois gatos pretos que dormiam no alto da prateleira, saltaram do armário protestando: “Qual é meu? Não podemos dormir mais?” Os dois usavam gravatas de fita xadrez, em forma de laço, eram bonitos e apresentaram-se à garota:

_ “Salve! Tu sei la bambina che parla con i gatti”?

Menina olhou-os divertida e respondeu:

_ Sim! Eu sou a menina que fala com os gatos. E vocês quem são? Vocês são idênticos.

_ Nós somos gêmeos! Somos dançarinos e trabalhamos na noite milanesa. Você quer nos ver dançar? – um deles fez sinal para a gata do pandeiro – “Prego”! - disse.

A gatinha, que havia parado de tocar, para ouvir a conversa dos amigos dançarinos, tocou com o pandeiro no gato cinza e juntos pularam do armário. A seguir, recomeçaram a tocar. Os gatos pretos pegaram suas bengalas e iniciaram a dançar, ao lado da cadeira, onde o Mìciolo jogava cartas com os outros três gatos. Faziam movimentos graciosos. Menina tinha a sensação de que estava dentro de uma revista em quadrinhos. Tudo ali era possível. Curiosa, perguntou a Bola de Neve:

– Todos eles falam?

– Só o “Batuffolo” que não – respondeu, apontando para o gato que tocava o violino sem cordas – Ele é surdo mudo.

– Então é verdade! Existe gato mudo. – Disse a garota admirada - A gatinha do meu irmão também não conversava com ninguém. Nem comigo. Eu achava que ela era boba. Então era por isso que o meu gato Paizinho cuidava dela... E a gatinha do pandeiro?

– A “Rosella” é irmã do “Batuffolo”. Ela tirou as cordas do violino, porque o Batuffolo é muito desafinado. Ela toca pandeiro e dança lá na Praça do Teatro Scala. As “gentes” gostam...
Impressionada com tudo que via, Menina Perguntou a Bola de Neve:

– Por que você me trouxe aqui?

– Porque nós queríamos conhecer uma “gente” que fala com gatos.

– Eu já falei pra você! Não é “uma gente”. Você deve dizer: “uma pessoa”.

– Então você não é gente? – perguntou-lhe Miciolo, enquanto passava cartas para um bichano creme, de pelos curtos ralos e arrepiados, de cujas orelhas pontudas saiam chumaços de pelos pretos e que tinha um palito entre os dentes – O que você é então?

– Gente! Eu sou gente! Mas eu sou uma pessoa, é outra maneira de falar. Na linguagem das pessoas existem muitas palavras com o mesmo significado. Por exemplo: gente, pessoa, ser humano. E têm mais outras de que não me lembro agora. Gente é só o tipo, entendeu?

– Não! Mas não importa. Nós já vimos que tem gente que fala com gatos. E nós pedimos para o Bola trazer você aqui só pra ver se era verdade. Tem também outro motivo. É verdade que no seu Brasil as “gentes” pegam gatos pra fazer tamborins?

Apanhada de surpresa, Menina ficou sem ação. Rossella, a gata cinza, parou de tocar para ouvir a resposta que a garota daria. O gato quase pelado, que mais tarde soube chamar-se Silvestro, parou de jogar, firmou o palito no canto da boca e ficou à espera da resposta dela. Os outros jogadores também. Com receio, tentou ganhar tempo e gaguejando perguntou:

– Ffooi aa andorinha carrteira que faalou isto?
Bola de Neve percebeu o medo da nova amiga e entrou na conversa.

– Não tenha medo, Menina! Nós só ficamos curiosos. Como é um tamborim com rabo? Tem cabeça também? Conta pra gente, conta.

– Eu nunca vi um tamborim feito de gato. – Disse após respirar fundo – Tamborim é feito de matéria sintética. Nunca vi ninguém tocando um gato no carnaval. Na minha casa tem revistas e DVDs do carnaval no Brasil. Por que não vamos todos para lá? Eu mostro pra vocês. Vocês verão que não é verdade. Vamos à minha casa?

– E os cachorros da velha surda? Como vamos entrar lá? – Quis saber Rosella.

– E a senhora mãe da Menina? Ela vai deixar nove gatos entrar na casa dela? – Perguntaram ao mesmo tempo, Bonni e Gastão, os gatos pretos, dançarinos. – Na sua casa tem leite? E biscoitos? Se tiver, podemos ir todos? Subiremos pela sacada do segundo andar, você deixa a janela da sua sacada aberta e nós entraremos. Os pequineses das caras amassadas, nem vão perceber.

_ A minha mãe não vai dizer nada. Ela gosta quando em tenho amigos. E nós temos biscoitos também, e leite. Vamos?

E assim de acordo, o grupo todo se encaminhou para o labirinto do velho abrigo antiaéreo, rumo à casa da garota. Menina abriu a porta e correu para seu quarto. Lá chegando, abriu a janela e ficou a espera dos amigos. O primeiro a entrar foi Bola de Neve e o último foi o gato Silvestro. Menina ligou o DVD e colocou o disco dos desfiles das Escolas de Samba. A Beija-flor era a primeira a desfilar. O sambódromo estava lotado. Silenciosos, os gatos olhavam tudo, admirados. Menina foi à cozinha e trouxe biscoitos recheados e um pirex com leite. Os gatos nem deram bolas para a comida. Seus olhos não se desviavam do vídeo. Finalmente a bateria apareceu. Menina apontou para os tamborins e vitoriosa exclamou:

– Vocês estão vendo? Não tem tamborim com rabo.

– A Menina está certa. É melhor comermos. Deram uma notícia falsa pra andorinha Rondinella. – Disse Bola de Neve.

Naquele momento Menina viu a mãe abrir a porta do quarto e arregalar os olhos ao deparar com tantos gatos, comendo biscoitos com leite no seu pirex predileto.

_ MENINA! De onde vieram esses gatos todos? Por onde eles entraram aqui?

_ Não se assuste, mamãe! Eles são meus amigos. Eu os chamei aqui pra que eles pudessem ver o carnaval do Brasil. Agora eles já sabem que tamborim não tem rabo.

_ Por onde eles entraram? Eles são gatos de rua?

_ Não! Eles moram na cantina! Eu fui lá. Eles são legais. Eles dançam, jogam cartas e contam histórias. Eles não são de rua.

_ Está bem, Menina! Você pode brincar com os gatos, eles parecem saudáveis. Mas por favor, mande-os embora antes do jantar. Você deve banhar-se antes de ir pra cama, ok?

Após fechar a porta atrás de si, a mãe de menina sorriu e sacudiu a cabeça: “Que imaginação tem essa minha filha. Imagine! Gatos que dançam e jogam cartas”.

Bola de Neve foi o primeiro a se pronunciar após a saída dela:

_ CASPITA! Ainda bem que você não disse que falamos. A senhora mãe da Menina não entenderia.

_ Não se preocupe, Bola de Neve. A mamãe sabe que eu falo com gatos. Só que ela pensa que é de brincadeira.

Os gatos continuaram por mais algum tempo vendo outras escolas de samba. Depois desse domingo, Menina e os amigos gatos viveram muitas aventuras no abrigo antiaéreo e também em outras partes de Milão. Sarah, a filha do porteiro, não entendia mais sua amiguinha “brasiliana”. Pra ela, era inadmissível o contato com os gatos abandonados. Coisas de europeu. E assim foi o primeiro encontro de “Palla di Neve”, o gato milanês, com a “bambina brasiliana”.

FIM


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