Lembro - depois de ter esquecido por tanto tempo - que fui oradora da turma na minha formatura de ginásio (sim, sou do tempo em que se dizia ginásio ).
Eu vestia uma saia rodada, cintura larga e uma blusa branca, com renda na golinha e duas tirinhas por baixo dela que terminavam em nozinho meio artístico. Lembro do palco e do público. E da minha tremedeira. Dos joelhos até o queixo, era um tremelique só. Lembro também de manter as três folhas de papel almaço (como este adjetivo veio saltando à minha memória assim? já não digo esta palavra há séculos)... mantive as folhas de papel bem firmes. Sabia até de cor ou quase de cor tudo o que tinha de dizer. Desculpem, sei que vocês estão ansiosíssimos para saber o teor do meu discurso como oradora de turma, mas não me lembro do que falei ... :-) Só sei que me recusei a usar chavões. Lembro da professora de português - Dona Elvira? - que me elogiou muito enquanto me preparava para falar em público pela primeira vez. Mas quando se encontrou com meus pais, não disse nenhuma palavra elogiosa a meu respeito. Fiquei chateada com ela. Mas já a perdoei. Mesmo porque, acho que ela já faleceu, até prematuramente.
Também lembro de um professor que nos chamou de rubis , porque usávamos uma toga vermelha. Não sei seu nome. Do contrário, faria uma homenagem a um homem tão inspirado assim.
Estou aqui navegando no barco da saudade. Lembrando tudo isto porque meu sobrinho acaba de me convidar para a cerimônia de formatura dele, do Segundo Grau. E ele vai ser o orador da turma.
Deve ser genético. Com a diferença que o garoto já atuou em pecinhas teatrais, não tem o menor problema em falar em público e desconhece as palavras tremedeira e tremelique .
Mas que saudade que tenho da tremedeira... nenhuma das que vieram depois tiveram o mesmo gosto daquela... menos uma. Mas isto eu conto depois.