Conflito
maria da graça almeida
Há uma fase da vida em que não mais sabemos se bravamente resistimos à velhice, ou se de vez nos rendemos a ela.
Às vezes, dá uma vontade danada de calçar umas pantufas macias e de camisola rodopiar pela casa; de deixar os cabelos brancos pulularem em paz, no centro e ao lado da cabeça; de permitir que sobrem gordurinhas nos quadris, ou ainda de lançar, sem desgosto, olhares sobre as primeiras e desavisadas ranhuras da face.
Deixar mesmo a peteca cair e não se sentir infeliz.
No entanto, após um simples olhar ao companheiro, certa sirene invisível
alardeia o perigo. Atenção, a postos!
Homem é que tem uma baita sorte.
Se grisalho, puro charme. Certa barriguinha, sinal de vida financeira equilibrada. Rugas, sinónimo de experiência .
Pronto, a pulga já se instalou atrás das orelhas -como diziam as avós-.
Mulheres jovens dando sopa por aí, homens em extinção...melhor não folgar. Novamente, hasteiam-se as bandeiras da vaidade; outra vez,
começam as batalhas contra o amargor da velhice.
Agarra-se a peteca... Unhas e dentes.
Malhação, caminhada, clínica de estética, plástica, dieta, uff... e nada...
a beleza aposentada não volta à ativa, o tónus da juventude não dá sinal de vida
e os artifícios, além de esvaziarem os bolsos, exibem uma cara esticada, mas velha; um corpinho esbelto, mas idoso; uns lábios carnudos, mas anciãos.
E a dona de tais dotes carrega a tola ilusão da recuperação da mocidade e as pretensões de uma moçoila... fora de tempo.
Ai! Luta ou entrega... decisão dura!
Insistência ou desistência...eis o conflito.
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