OS MEANDROS DO PODER
Filemon F. Martins
O Advogado Enéas Athanázio, em artigo publicado recentemente no jornal PÁGINA3TRÊS, de Balneário de Camboriú, Santa Catarina, registra sua decepção inicial com algumas atitudes do Governo Lula, entre outras, “a recusa do Governo em rever as normas baixadas por FHC, que estenderam o prazo de conservação em segredo de certos documentos oficiais. Para quem sempre defendeu uma democracia de verdade, não apenas formal, é atitude surpreendente, reveladora de evidente incoerência. O Governo tem receio de quê ?”
No mesmo artigo, fala da contradição do Partido dos Trabalhadores, cujo “Governo inicia nova cruzada contra aposentados, funcionários e empregados. Primeiro, quer taxar os inativos, praticando aquilo que considerava imoral e injusto. Passou a falar em “faxina” na CLT, dando outro nome à “flexibilização” desejada por FHC, mas sempre na linha de suprimir ou reduzir os direitos duramente conquistados pelos trabalhadores.”
Num País de milhões de desempregados, o Partido dos Trabalhadores, que prometeu gerar milhões de empregos, quer, agora, reduzir a aposentadoria, aumentando o limite de idade de 53 para 60 anos (homens) e 55 anos (mulheres). Quer taxar os inativos, suprimindo a paridade. Em outras palavras, não terá aumento igual aos trabalhadores da ativa, sofrerá desconto e com o passar do tempo, o aposentado estará condenado a viver de pires na mão. Um desrespeito ao cidadão que, num determinado momento da vida, prestou concurso para o serviço público, trabalhou a vida inteira, mas ao chegar aos 53 anos, não terá direito à aposentadoria, porque os vampiros do capital financeiro internacional disseram que ele pode continuar trabalhando até aos 60. Nossos governantes, que outrora achavam um absurdo, agora dizem amém.
Nos tempos atuais, vale destacar a figura ímpar do Estadista RUI BARBOSA. Conforme o pesquisador Abel Beatriz Pereira, de Florianópolis, Santa Catarina, em “1907, designado para representar o Brasil na Segunda Conferência da Paz, em Haia, na Holanda, Rui Barbosa deu uma lição ao mundo. A proposta do representante americano, Joseph Choate, era formar uma Corte de Justiça Internacional, onde os países seriam classificados conforme o Poderio Militar de cada um. Era essa a posição das grandes nações européias. Mas um delegado do Brasil, baixinho e de cabeça grande, levantou-se e pediu a palavra. Era Rui Barbosa. E todos imaginavam que ele apoiaria a tese americana. Enganaram-se. – Não poderá o senhor esperar a tradução do intérprete ? – Não. Ele antes ouvirá a minha resposta. Assim traduzirá os dois discursos de uma só vez. E, falando em inglês, mostrou as contradições das grandes potências: “Reunimo-nos para discutir a paz entre as Nações, e propõe-se uma diferenciação baseada na força dos Exércitos e das Armadas; numa conferência de paz, estimula-se a corrida armamentista ?”
Uma vitória indiscutível no campo do Direito Internacional, com a adoção do princípio de Igualdade Jurídica das Nações contra o propósito das grandes potências. Para Rui Barbosa, todas as Nações eram iguais perante a Lei. E discursando, ora em Inglês, ora em Francês, o representante brasileiro tornou-se o líder dos pequenos países, que ousava enfrentar os poderosos, com os argumentos da paz. Daí ter sido chamado de “A ÁGUIA DE HAIA.”
Mas, e o que vemos hoje ? Após ter acenado para o brasileiro com o sentimento da Fé e da Esperança, prometendo qualidade de vida para o povo, o Partido dos Trabalhadores e seu líder, dizem amém aos exploradores estrangeiros. Como é triste sentir que nossos filhos e nossos netos terão um futuro de submissão, de dependência, justamente por faltar coragem e grandeza aos nossos governantes.
Tudo começou com o então Presidente Fernando Collor, que se intitulou “caçador de marajás”. De então, a difamação contra o servidor público se transformou em perseguição. A mídia faz a sua parte, colocando a culpa da incompetência administrativa nas costas dos servidores públicos. Quem ouve o Presidente Lula falar sobre os altos salários, pensa que todo servidor ganha uma fortuna. Confundem a opinião pública, da mesma forma como confundiram no caso das privatizações. Entretanto, no bojo da Reforma da Previdência não estão os deputados, senadores e militares. A propósito, quanto ganha um deputado ? Qual o salário de um senador ? E por que os militares foram excluídos da Reforma ? O Governo Lula deve explicações ao povo brasileiro.
O Brasil é um País exuberante, honrado, com um povo bom, trabalhador e honesto, mas está na hora de termos um governante de coragem, que não seja usado pelo capitalismo estrangeiro. É hora, Senhor Presidente, de fazer uma pesquisa com os seus amigos. Ligue e pergunte se era isso mesmo que eles esperavam do seu Governo. A continuação da política recessiva adotada por FHC, o desemprego crescendo e o Ministro do Trabalho afirmando que o “alarme é maior que o drama.” Reformas que subtraem direitos dos servidores públicos, que já estavam há oito anos sem reajuste e agora com o Governo Lula foram contemplados com 1% de “reajuste.” Se forem sinceros, dirão a verdade.
O cidadão comum, hoje, está diante de um dilema: desapontado, desiludido, inconformado, indignado e sem entender por que o Governo Lula mudou, não sabe se rasga o título de eleitor ou se o guarda para a próxima eleição. O meu e de minha família já estão guardados.
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