Se vocês me permitirem
vou aqui dar meu pitaco
não berro para me ouvirem
porque não tenho bom taco
mas se mexem com meu povo
grito e uivo feito lobo
e tiro a viola do saco.
Pra cantar o sofrimento
desse povo brasileiro
que é forte que nem jumento
mas anda sem padroeiro
só vive em meio à tristeza
nem percebe a natureza
nem mais crê no Juazeiro.
Não é só nas minhas bandas
cá do Rio de Janeiro
que existe gente malandra
com sangue suja o dinheiro
é justamente quem manda
quem detém poder na manga
que se mostra traiçoeiro.
Desde os tempos do reinado
propina fala mais alto
foi lutando com safados
que o cangaço fez seu palco
hoje em dia Lampião
não assustava nem peão
dos jagunços do Planalto.
É interesse do cão
que o povo fique abestado
não dão saúde e instrução
pra modi ter bico calado
um homem sem ganha pão
sem saúde e condição
não pode viver sossegado.
Na Bahia, ACM
em Brasília, senador
em Sampa, crème de la crème,
corrupção e terror,
no Amazonas, prato feito
explora a inocência no leito
criança paga com "amor".
Classe média, sem amparo
tá sem tempo pra pensar
venda os olhos com regalo
do sonho que pode comprar
se mal vive pra comer
não tem hora nem pra ler
como vai se organizar?
Velho clichê tá dormindo
escola, saúde, emprego
o poder vai consumindo
na droga, na dor e no medo
nadando em corrupção
o bandido suja a mão
que o "paizão" lavou no esterco.
Pra mudar triste figura
que assola todo o país
a família é que assegura
o futuro mais feliz
se não cuida dos seus filhos
os deixa em locais sombrios
garante o pó do nariz.
Mas se não encontra chance
de prover o seu sustento
o homem de bem se cansa
de esmurrar sozinho o vento
precisa da dignidade
de viver com hombridade
e alimentar seu rebento.
A saída é união
das cabeças mais pensantes
que não aceitam o "não"
como parte do instante
se eu não sou coronel
ao menos tenho o cordel
pra ecoar qual berrante.
