Aqui é bom. Tenho amigos para conversar e brincar. Jogamos palitinho, tômbola, baralho, dominó e damas. Conversamos sobre nossas vidas e a cada dia descobrimos que muito temos em comum.
Particularmente tive uma vida feliz. Casei-me com uma pessoa maravilhosa que hoje mora no céu. Tive dois filhos, um menino e uma menina. E vivemos em harmonia até o dia em que perdi minha velha querida. Fiquei triste e muito nervoso. Nervosismo esse que me fez começar a sofrer de pressão. Somando isso aos cigarrinhos que sempre me acompanharam, o resultado só poderia ser aquele tal de DKV, KGB, AVC, não me lembro mais das siglas.
Só sei que passei a ter dificuldades com meu lado esquerdo, tanto para falar quanto para andar. Também foram necessárias fraldas geriátricas. Comecei a dar trabalho e, com isso, parece que o amor que tinham por mim acabou.
Fui hospedado aqui, no recanto, resort, pousada, hotel, ou qualquer outro eufemismo que usem.
Depois de tantas fraldas lavadas à mão por mim e por mim velha, ter sido largado por usar fraldas me parece ingrato. Mas cumpri a minha parte. Ele é doutor e ela também não fez feio. Aparecem sempre em colunas dos jornais e não têm tido muito tempo para me visitar. Pelo menos assim estava escrito na última cartinha que recebi, dois anos atrás.
O fato é que fui bem recebido pelos hóspedes daqui. Foi como se uma nova família me fosse apresentada. Tomara que as outras pousadas também sejam assim.
Caminho devagar e tenho dificuldades para tomar meu chá. A xícara precisa ter duas asas. Grito truco e o pessoal entende cuco, mas mesmo assim, ainda considero-me um ser humano.
Wagner –
P.S.: Obrigado pela leitura e pelo carinho de todos aqueles que me mandaram e-mails perguntando porque eu parei de escrever. Deus abençoe todos vocês.