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Infanto_Juvenil-->OUTRO CONTO POPULAR RUSSO -- 26/01/2007 - 19:44 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A RAPOSA CONFESSORA E O GALO PENITENTE
A raposa confessora viu um galo pecador empoleirado numa árvore.
—Ó chanticler, meu querido filho, estás empoleirado aí em cima cheio de maus pensamentos e de desejos pecaminosos. Vocês, os galos, são poços de luxúria. Têm sempre muitas esposas, às vezes dez, ou vinte, ou trinta, alguns chegam a ter quarenta. E, quando se encontram uns com os outros, brigam como danados por causa das vossas esposas e concubinas. Desce, meu rico filho, e vem confessar os teus pecados. Eu venho do deserto de fazer grandes penitências e jejuns... Venho santificada e sou a mais santa confessora destas redondezas. Ando a salvar as almas dos pecadores. Desce, meu querido filho, para eu ouvir a tua confissão e te perdoar os teus terríveis pecados.
—Ó santa confessora, eu não estou preparado para me confessar, não jejuei nem rezei, nem sequer fiz exame de consciência...
—Ó querido filho, mesmo sem jejum e sem exame de consciência, desce, vem confessar os teus pecados e salvar a tua alma. Arrepende-te, pobre pecador, ou morrerás em pecado mortal.
—Ó santa confessora, as tuas palavras são doces como o mel... mas quem julga há-de ser julgado e cada um colhe aquilo que semeia... Tu queres que eu me confesse não para salvar a minha alma, mas para devorar o meu corpo...
—Ó chanticler, meu querido filho, como podes tu falar assim? Não leste a parábola do publicano e do fariseu onde o publicano se salva e o fariseu se perde por causa do seu orgulho? Querido filho, se não te arrependes sinceramente e não fazes penitência, morrerás aí em cima e a tua alma será condenada à perdição eterna. Desce, vem confessar os teus pecados, serás perdoado dos teus maus pensamentos, dos teus desejos impuros, da tua luxúria. Absolver-te-ei e serás admitido no reino dos céus. Vem, meu pobre pecador!
Convencido das suas culpas e roído de remorsos e de arrependimento o galo foi descendo de ramo em ramo até chegar ao chão. Acocorou-se aos pés da confessora, lavado em lágrimas de contrição e penitência.
A raposa estendeu as mãos e prendeu o penitente entre as suas fortes garras. E sem a menor piedade, rangeu os dentes prontos para o devorar.
—Ó santa confessora, são doces como mel as tuas palavras, mas como salvarás tu a minha alma comendo o meu corpo?
—Olha, meu galucho sensual, o teu corpo pouco me interessa o que realmente me interessa é pagar-te um favor que me fizeste aqui há tempos, lembras-te? De madrugada, eu consegui entrar na tua capoeira, apanhei um franganito que lá dormia e ia comê-lo sossegadamente a um canto, quando tu acordaste e deste por mim. Foi o fim do mundo. Deste em gritar esganiçado, batendo as asas como um possesso, acordaste as tuas esposas todas e elas, da mais velha poedeira à mais fresca franganita lá do teu harém entraram aos berros em cacarejos histéricos e a esvoaçar dum lado para o outro, numa balbúrdia infernal. Daí a nada a dona lá do lugar, desgrenhada e histérica também, entra na capoeira em camisa de dormir e de vassoura em punho... Meu cacaricó descarado, ainda trago a cauda derreada das pancadas que lá apanhei...
—Ó santa confessora, é justa a tua indignação, mas nada ganhas em me matar agora. Olha eu canto no coro da Sé Catedral, e sou muito estimado pela minha voz e pela minha plumagem. Ontem o bispo fez-me diácono e vai encarregar-me da despensa do paço episcopal... Se não me comeres agora, eu ainda te hei-de dar muitas hóstias e presuntos e capões... e cozidos e fritos e assados...
A raposa, esfaimada, imaginando toda aquela fartura, abrandou um pouco o gadanho com que prendia o galo penitente que, num esforço supremo, se escapou e voou para o ramo mais alto da árvore.

Cócarócócó
Raposa ruim
Come a tua avó
não comas a mim

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