O CRIADO DO SENHOR PADRE*
Numa certa freguesia do sul um padre contratou um trabalhador e mandou-o lavrar um cerrado com o seu cão. Deu-lhe um pão todo inteiro e disse-lhe: “Toma, trabalhador, come o que tiveres na vontade, enche a barriga ao cão e traz o pão inteiro para trás.”
O trabalhador pegou no pão, foi para o cerrado e começou a lavrar. Lavrou, lavrou até que lhe pareceu serem horas de matar a fome, porque sentia a barriga vazia. Mas como poderia ele comer sem desobedecer as ordens do padre? Porém, com a fome não se brinca, ela ensina um homem a ser manhoso. E assim o trabalhador teve uma ideia. Tirou a crosta de cima do pão, tirou-lhe o miolo todo, encheu a barriga e deu de comer ao cão. E depois repôs a crosta tal como estava dantes. Pôs-se de novo a lavrar e lavrou até ao cair da noite, todo contente, como se nada tivesse acontecido. À noitinha voltou para casa.
O padre foi esperá-lo ao portão e perguntou: ”Bom, trabalhador, encheste bem a barriga?” O trabalhador respondeu: ”Enchi, sim senhor” O padre perguntou: “E deste de comer ao cão?” O trabalhador respondeu: “Dei, sim senhor” O padre perguntou: “O pão está inteiro?” O trabalhador respondeu: “Está inteiro, Senhor Padre. ” Depois de examinar o pão, o padre riu-se e disse: “Ah, tu és um espertalhão. Vejo que nos vamos dar bem. Gosto da tua esperteza, fica comigo. Preciso dum trabalhador como tu.” E ficou com ele, aumentando-lhe o ordenado que tinham combinado, porque estava contente de ter um criado assim esperto. O trabalhador passou a comer pão com manteiga e a viver tão bem que desejava nunca mais morrer.
*Adaptado dum conto popular russo .
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