Caro Poeta,
maria da graça almeida
Ciente da inspiração do artista, imagino a dificuldade da escolha dos textos,
a indecisão ao optar por este ou aquele poema.
E ainda assim o poeta não pecou.
Os tópicos traçaram a feliz caminhada, ou a caminhada traçou o bom destino da obra.
A cada instante a surpresa do descobrimento, que se despojava de um traje suntuoso e exibia-se em elegante nudez.
O que dizer de um trabalho tão primoroso? De um retrato interior de tão nítida resolução?
Pudesse ter eu vivenciado mais da literatura para fazer uma análise consistente, verdadeiramente, à sua altura.
Quisera ter o dom da palavra fotográfica para revelar com precisão uma obra que perpetuará o questionamento passado de um menino-poeta e as verdades presentes do homem-poesia.
Homem, este, que enquanto se proclama servo, faz jorrar no poema-senhor os vocábulos que escorrem ricos, precisos, na denúncia dos vazios, das lembranças, das renúncias... Intercalando ou alternando rimas milionárias, não poupou erudição, estilo e beleza.
Ao dizer de um deus que desconhecia, assombrava-se com o "assombro daqueles tempos" e assombrava-me com a clareza do verbo...
Poeta Augusto, augusto poeta, a longa viagem que seu livro empreendeu não foi vã! Trouxe-me a possibilidade de enfronhar-me mais e mais em suas letras e, através de sua percepção, suas dúvidas e certezas, entender melhor o homem do mundo e o mundo do homem.
Com muita admiração, deixo-lhe aqui um grande e carinhoso abraço,
Maria da Graça Almeida
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