Meu querido e bom velhinho,

Espero que esta o encontre cheio de saúde, energia e o seu peculiar e contagiante bom-humor.

Perdoe-me por estar escrevendo assim de última hora. É que já faz tempo que parei de lhe escrever que acredito que o senhor já não se lembra mais de mim... Parei de escrever não por falta de vontade, mas por falta de tempo e, talvez um bocadinho de falta de fé mesmo...

Na minha última cartinha que lhe enviei o meu pedido não foi atendido. Fiquei magoada, pois eu tinha sido obediente (na maioria das vezes), tinha passado de ano (como sempre entre os primeiros lugares), e o senhor nem uma passadinha em casa deu... Será porque na nossa casa não tinha lareira? Não podíamos ter, era uma casinha muito humilde. E também, numa cidade tão quente, uma casinha tão pequenina, o que faríamos com lareira?

Agora que a minha mágoa acabou, são tantas coisas que quero lhe pedir que nem sei por onde começar...

Mas sabe amiguinho, muitas coisas boas aconteceram desde a minha última cartinha. Não sei se é ao senhor que devo agradecer por essa graça obtida, mas nesse pedaço de tempo conheci pessoas boas e também pessoas más. Algumas me machucaram muito, mas no final das contas, estes dois tipos de pessoas acabaram por me fazer um grande bem. Amadureci. Aprendi a ter mais paciência, valorizar e praticar a bondade.

Também tive dois filhos que são simplesmente maravilhosos. Eles são a luz de meus dias, meu motivo de sorrir. E é por eles que quero lhe fazer o meu primeiro pedido de hoje - um pedido especial. Não permita nunca que eles deixem de ter esperanças, de levarem a alegria estampada no olhar e de terem sempre um gesto educado, de amizade e carinho, mesmo com aqueles que não o façam por merecer...

Sabe o porquê de estar pedindo isso? Porque algumas pessoas parecem não merecer amor, porque não aprenderam a amar. Nunca foram amadas. Cresceram e amadureceram a custa de sofrimentos e isso as tornaram amargas, sem fé em Deus, na vida e nas pessoas. Será que daria também para o senhor fazer algo por essas pessoas? Não acredito que sejam felizes assim..

Finalizando, não quero pedir presentes para mim.  Sou pobre, mas acho que tenho tudo o que preciso (tirando os meus frascos de perfume que estão todos acabando.... O senhor sabe o quanto gosto de perfumes...), mas está tudo bem, dá para eu viver sem isso também.

O que me preocupa mais é que aqui na terrinha tudo segue o mesmo curso, para pior... Os rios secando, o povo desempregado e passando fome. A corrupção ainda impera. Andaram caçando o mandado político de alguns só pra jogar areia no olho do povo e tentar fazer com que os eleitores parassem de tantas cobranças de atitude para moralizar o País.

Sei que muitos estão lhe escrevendo e dizendo para nem passar por cima do Brasil, mas eu lhe peço exatamente o contrário. Gostaria realmente que o senhor passasse por aqui com muita calma, pode ser até mesmo depois do Natal, quando a sua vida estiver mais tranqüila, pois os problemas aqui são muitos.

Na verdade eu queria mesmo era que o senhor ao passar por aqui, por esta terra que todos chamam de “abençoada”, espalhe aquele pozinho mágico que é capaz de preencher os corações vazios (especialmente dos nossos governantes) com amor, bondade, fé e honestidade.  Só isso já ia fazer-nos um bem danado. Porque o que eu queria mesmo ver era:

· Todas as crianças nas escolas, nenhuma delas precisando trabalhar em carvoarias ou se prostituindo – para isso precisamos de mais escolas e uma família capaz de se manter.

· Todos os pais empregados e ganhando o suficiente para sustentar a família com um mínimo de dignidade,

· Todas as pessoas doentes ou idosas (incluindo aqui as diversas etnias – sempre as mais prejudicadas) tendo direito a saúde e a um tratamento digno, sem a hipocrisia e demagogia dos programas de saúde estabelecidos lá na Ilha da Fantasia (Brasília).

Sinceramente não sei se o senhor sozinho será capaz de tanta proeza, mas eu me disponho a ajudar no que for preciso, dentro das minhas limitações. E como eu, sei que muitos aparecerão para oferecer ajuda. Pois nos recusamos a aceitar que o Brasil continue como está: sem nenhuma mudança para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. Mas para podermos ajudá-lo, precisamos de respostas para alguns questionamentos, entre eles:

·  Temos tanto potencial, o que precisamos fazer para ajudar o Brasil a sair deste buraco de corrupção? Aprender a votar? Como é que se aprende isso? Na TV eles só ensinam como apertar as teclas certas e os candidatos fazem um discurso tão bonito... Como saber quem estará mentindo?

·  O que nos resta fazer para que os governantes se recordem de que nós, simples eleitores, precisamos de salários dignos para sobreviver?  Não queremos mensalão, precisamos de salário pago em dia e reajustado de acordo com a inflação.

·  O que precisamos fazer que ainda não tenhamos tentado, para convencer os governantes de que precisamos não só de prédios bonitos com o nome: ESCOLA, gravado na placa da frente, mas sim de boas escolas públicas e de bons professores que ganhem o bastante para manterem seus conhecimentos atualizados?

·  Sei que estou pedindo demais, mas como eu disse anteriormente, me disponho a ajudar, caso o senhor venha a precisar.

Sem mais nada para o momento, agradeço-lhe pela gentileza e paciência em ler esta enorme cartinha, e aguardo ansiosamente a sua resposta.

Atenciosamente,

Sandra L. Felix de Freitas/2005