Para meus amigos internautas "virtuais e reais", compartilhando uma reflexão sobre a nossa virtualidade no natal:
Hoje estou escrevendo de uma maneira diferente: abandonei o micro, peguei um caderno qualquer, vim para a sala, coloquei um som de fundo e afundei no sofá, como fazia adolescente,tentando dar um sentido no papel, ao sentimento que me percorre...
Descobri agora que a minha letra não é mais a mesma. (De repente me chegam lembranças de elogios desde a infância, geralmente até motivos de ciúmes entre os coleguinhas: "vejam como a caligrafia dela é linda"!)
Com a era da informática, as ondas virtuais inundando nossas vidas, ganhamos muito, mas perdemos algumas coisas preciosas...Troquei a caneta pela digitação e mal reconheço os garranchos que se desprendem dela agora; troquei os cartões de natal, antes escolhidos em horas agradáveis pelas papelarias, por cartões digitais (alguns dos quais eu mesma adoro produzir); agora economizo o selo postal usando o famoso e-mail que a um clic atravessa continentes.
Mas voltando ao que me devolveu à caneta!
Hoje é um dia particularmente especial: o carteiro me entregou SETE cartões de natal!
Não os cartões comerciais ainda tão usados, mas cartões feitos à mão, por 7 amigos caros e especiais. Eles chegaram em dias alternados e só hoje a portaria me entregou. Cheguei a esboçar uma reclamação quando vi as datas, mas o número 7 me calou. 7 de mágico, de reflexão, de mistério, de renovação...
Eu me senti uma menina com um brinquedo novo, de tão feliz, lendo e relendo aquelas palavras carinhosas, acariciando com o olhar aqueles traçados conhecidos, que revelavam traços tão queridos...E ao pensar num meio de retribuir, o digital não me surgiu como um deles,por um motivo muito simples: esses amigos simplesmente são avessos à internet! "Que façam bom proveito seus funcionários, suas namoradas, esposas, seus amigos!" - é o que dizem.
Alguns até sabem navegar na rede, mas não foram contaminados pelo vírus dos jornais, revistas, poesias, grupos de discussão, Orkuts, e-mails e negócios virtuais.
Lembro que quando gastamos DDs ou DDIs para matar a saudade, vez por outra comento sobre esses programinhas de comunicação, tipo Skipe, MSN, etc. Digo que ficaria feliz em tê-los mais próximos, falando mais vezes, e religiosamente escuto a mesma negativa; não os convenço a trocarem o custo dos pulsos pela gratuidade dos kbytes.
Não que meus amigos internautas (reais ou só virtuais) também não tenham importante valor... arquivo com o maior carinho cartões e mensagens digitais que recebo, mas em boa parte do tempo nós só existimos uns para os outros "Undisclosed-Recipient"...especialmente em datas comemorativas. (E aí me dou conta que poderia ocorrer o mesmo com esses 7! risos)
A internet quebra barreiras, aproxima almas distantes, cria aprendizados, gera energia e muitas vezes, aquele simples bilhetinho nos alegra: "passei para dar um alô e estou escrevendo rapidinho, porque estou correndo!"
Mas hoje, esses 7 cartões de natal aquecendo minhas mãos, me fizeram repensar a virtualidade...Essas 7 pessoas me reacenderam o desejo de esperar pelo carteiro, de por uma pétala de rosa em um envelope selado com uma marca de batom; de escrever bonito ou resgatar as linhas desenhadas da minha escrita, ultimamente usada apenas em assinaturas necessárias.
Hoje, acima de tudo redescobri a importância de diversificar, de fazer o simples,comunicar mais meu sentimento como faziam minha avó e meu pai, até bem poucos meses, antes de partirem desse mundo.
Agora, o nosso contato é só via coração, não recebo mais seus telefonemas ou suas letras escritas com a energia das próprias mãos e só me resta lamentar as cartas que não escrevi, os cartões que não enviei, enquanto guardo deles como tesouro, tudo o que recebi. Não há risco de "delete" por descuido, ou queima de hd.
Em uma dessas cartas, enviada lá do pantanal e já meio amarelada pelo tempo, meu pai dizia:"façamos um trato, me escreva duas vezes ao mes, e em um ano, entro nessa tal de internet com voce!"
Eu não consegui cumprir o trato e ele nunca pôde (ou não quis) cumprir essa promessa...
Fiquei pensando nisso, quando encontrei em suas gavetas algumas cartas não enviadas,(pirraça, preguiça?) e importantes palavras não ditas... Ele era como eu - nem sempre revelava seus sentimentos a viva-voz; mas escritos, podiam ter o efeito de uma explosão atômica ou a leveza de uma pena no ar...Naquele momento, a "leveza de suas palavras" me fizeram em pedaços, senti voarem estilhaços da minha alma para todos os lados. Por que não as enviou, por que?
Se eu tivesse recebido aquelas cartas, certamente teríamos colorido de luzes alguns dias a mais de nossas vidas...
Mas...Vasculhando-me em busca da franqueza, vejo que certamente eu teria telefonado e não respondido por escrito - ele não usava a internet!...
Talvez eu esteja carente, talvez seja a dor egoísta da ausência neste natal, de duas pessoas que eu amava e eram meus pilares seguros, e por isso, a minha árvore piscante também sinta-se tão carente de cartões...
Agora, repassando meus garranchos, acho que encontrei um sentido para esses 7 cartões de natal, sinto que eles me chegaram como um recado divino...
Vou compartilhar meu sentimento com os seus remetentes, escrever com as minhas mãos que OS AMO, resgatar vínculos com outros tantos que não são internautas, mas tão pouco gostam de escrever, e claro, compartilhar com meus amigos virtuais! (mesmo que às custas do "Undisclosed-Recipient" ou de um recanto poético)
xxxxxxxx
Então, alma preciosa que está aí do outro lado do monitor! Se você não precisa receber 7 cartões importantes num só dia para chegar à conclusão óbvia que cheguei, parabéns, você é um internauta moderado. Mas cá entre nós, se sentiu algum eco em seu coração, que tal tirar as mãos do teclado, usar seus envelopes guardados (feito peças de museu) e carimbá-los com selos postais para ao menos 7 pessoas especiais?
Não...nem de longe estou propondo uma corrente! (risos) É que não resisto aos meus 50% de kbytes!
E agora, com a sua licença, os outros 50 irrigados com sangue, vestidos de pele, aura e alma têm cartas à sua espera para serem enviadas, (quem sabe para vc, minha amiga (o) que me lê?) mas, antes precisam treinar a "caligrafia"!(rs)
Eu lhe desejo um natal radiante de alegria...Que voce possa se aproximar mais de quem ama, com as palavras do seu coração, enquanto o outro ainda "vive aqui", para vibrar com o som da sua voz, ou adoçar os olhos em suas letras bem ou mal contornadas...
Que a luz de Cristo espalhe ondas de amor divino em nossos corações e que possamos devolver esse amor de presente ao aniversariante, não só no natal, mas a vida inteira, refletindo-O ao nosso redor...
Mônica Martinsyyt
(dezembro/2005)
Se voce quiser ver esse texto ilustrado e com fundo musical, visite o link abaixo!
http://www.centaura.mhx.com.br/monologos/sete_cartoes_especiais.htm
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