Gabriel Marcel(1889/1973), filósofo francês é considerado assim como Soren Kierkegaard(1813-1855),Martin Heidegger((1889/-1976)Jean Paul Sartre(1905-1980), dentre outros, como um dos maiores expoentes da filosofia da existência do Século XX, filosofia da existência essa entendida, em geral, como o modo de ser próprio do homem no Mundo, sempre em uma situação determinada ou concreta que pode ser analisada em termos de possibilidade. As possibilidades puras e radicais dependem das opções que sendo um risco geram angústia.Nesta perspectiva, nasceram algumas temáticas, características para as filosofias da existência: a angústia como a relação do homem com o mundo; o desespero como relação do homem consigo mesmo e o paradoxo como relação do homem com Deus.
Segundo Kierkegaard, a existência é liberdade, é poder ser, isto é, possibilidade: possibilidade de não escolher, de ficar paralisado, de escolher e de se perder - possibilidade como "ameaça do nada". Isto leva à angústia que é o puro sentimento de que aquilo pode acontecer , poderá ser mais terrível que a própria realidade.Enquanto que a angústia típica do homem na sua relação com o mundo, para o filósofo dinamaquês, o desespero é próprio do homem na sua relação consigo mesmo. Para Kierkegaard, o desespero é a culpa do homem que não sabe se aceitar a si mesmo em sua essência, profundidade.O desespero é "o viver a morte do eu". Assim, todo homem é desesperado. E, talvez mais do que qualquer outro, o seja aquele que não sente em si nenhum desespero. Entretanto, afirma ele, todo homem é desesperado exceto quando , "orientando-se em sua própria direção, querendo ser ele mesmo, o seu eu emerge, através de sua própria transcendência, na potência que o colocou. O desespero brota no não querer aceitar-se como estando nas mãos de Deus. Mas, negando a Deus, o homem aniquila-se a si mesmo, pois separar-se de Deus equivale a arrancar suas próprias raízes e afastar-se do único poço do qual pode se obter água".
Gabriel Marcel, tido como um existencialista cristão por pensar o homem não apenas no âmbito da existência, mas vocacionado para a dimensão do Divino, associa-se ao pensamento Kierkegardiano no que tange ao transcendente. Para o filósofo francês, o homem não está preso à camisa de força da angústia, do desespero, nem voltado à vida sem sentido, sem Deus, à morte e ao nada, como asseveram alguns existencialistas ateus, tais que Sartre, Heidegger e outros. Em seu entendimento, apesar de todas as adversidades e sofrimentos inerentes à vida existencial, há no homem uma lacuna que ele mesmo busca incessantemente prenchê-la através da fé, da esperança e do amor, que são os antídotos naturais da angústia, do desespero e da morte.
Em toda a sua atividade filosófica e literária, Gabriel Marcel evidencia a significação humana, o respeito pelo outro e o valor espiritual. O homem descobre-se como uma exigência de transcendência, como um ser suscetível à realidade. Pela existência, busca suas experiências no mundo; aos outros, pela intersubjetividade, e re-ligado a Deus como fundamento último de seu ser. Deus, segundo o filósofo, é uma direção dada ao amor.
Marcelo Rocha Bezerra
Mestre em Filosofia pela UFPE
(Artigo publicado no Diário de Pernambuco - Recife, 15.07.2003), e ora transcrito pelo que encerra de verdade. |