Sábado oito de outubro, cinco da manhã, estarei em frente à Igreja de São Miguel Arcanjo, olhando na direção de Bom Jesus de Iguape, para cumprir o que tenho de cumprir. Eu conseguirei!
Nem sei explicar, mas não nego a ansiedade, coisa de primeira vez, ainda mais num lugar onde tantos já cumpriram e em vezes. Estou no corredor, esperando a porta abrir-se e ver o que tem lá dentro. Têm cento e oitenta quilómetros de chão, asfalto, planalto, serra e baixada. Uva, mata, banana, rios e biquinhas. E tem, principalmente, uma vontade a ser realizada. Estou lembrando do meu pai e do Mercedes carachato, quantas vezes passou por essa mesma espera. Na semana, ele confirmava com o pessoal do Rincão, arrumava alguma coisa do caminhão, dava uma limpada, varria bem a carroceria e separava as madeiras da torda. Dia inteiro montando, desaperta parafuso, encaixa ali no canto, Fião. Segure aqui, Toy e Gilson corra lá. Depois de tudo colocado, as madeiras, era hora de apertar tudo e ainda passava as cordas, para ficar no encaixe certinho. Sem falar nos bancos de madeira. Aí, só por a lona. Que capricho. Acho que era a forma dele segurar a ansiedade. Minha mãe, só nas paçocas e esteirinhas e roupa de frio.
Como não tenho caminhão, menos torda, fico passando Calminex na minha coxa esquerda, para acalmar uma dorzinha chata no músculo e experimentando sapato e tênis, qual será o mais confortável para andar. O bom conselho é usar um bem amaciado e meio folgado. Comprei mochila e fiz uma lista das coisas necessárias, parecendo que não existe nada no caminho. Só de comprimido, um monte. O certo, nessa caminhada, não é o antes ou depois, é o durante. Só que hoje, o durante me parece distante, quase um depois. Só ouvindo "Michael row the boat ashore" e Ike & Tina Turner para relaxar.
Em maio passado, fiquei doze horas e meia dentro de um avião da KLM, quando tive a oportunidade de refletir sobre mim e da saudade da caminhada nunca feita. Aterrissado, andei uma semana por terras nunca andadas. Outra vez doze horas e meia, mais saudade da caminhada. Cumprirei!
Algumas pessoas estão nesta ansiedade comigo e não vêem à hora do depois chegar, para o assunto encerrar. Eles não sabem o como e quanto terei para contar, assim espero. Tenho que chegar, entrar na Igreja, subir as escadas, olhar ao Santo e dizer - Cumpri e obrigado pela força e pelo esforço e pela paciência, aqui estou!
Bão pessoal, tem milhares de coisas a se dizer, imagens a passar, fotos a comentar, sons a ouvir, etc a eteceterar... No entanto, nesse domingo, dois de dez de onze, quero chegar logo no sábado oito e melhor ainda na quarta doze. Inté. Ah, Eu Conseguirei!!
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