Usina de Letras
Usina de Letras
298 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62165 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50574)

Humor (20028)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4754)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Textos_Religiosos-->Padre Antônio Vieira, pregador e missionário -- 06/06/2008 - 11:25 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pe. Antônio Vieira, pregador e missionário (I)

Entrevista ao Pe. Geraldo Antônio Coelho de Almeida, S.J.


Por Alexandre Ribeiro

SÃO PAULO, terça-feira, 3 de junho de 2008 (ZENIT.org).- Em momentos em que se celebra em Portugal e no Brasil o IV centenário de nascimento do Pe. Antônio Vieira, considerado por Fernando Pessoa o «imperador da língua portuguesa», Zenit conversou com um jesuíta sobre o legado do pregador e missionário.

Quem concede a entrevista é o padre Geraldo Antônio Coelho de Almeida, S.J., reitor do Pontifício Colégio Pio Brasileiro em Roma, que foi diretor do Colégio Antônio Vieira em Salvador (Bahia, Brasil).

--Por que não tem se falado tanto do quarto centenário do nascimento do Pe. Antônio Vieira?

--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Não se fala muito do quarto centenário de nascimento de Vieira porque onze anos atrás já se celebrou um centenário, o terceiro de sua morte. Vieira teve uma vida longa. Diante disso, onze anos depois já estamos celebrando o quarto centenário do seu nascimento. A probabilidade maior é que ele tenha nascido no dia 6 de janeiro de 1608 e morrido no dia 18 de julho de 1697. Portanto, viveu 89 anos e alguns meses. Vida longa para a época.

--Como foi a vida de Antônio Vieira?

--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Ele teve uma vida muito movimentada. Nasceu em Lisboa e ainda criança veio para o Brasil. A família passou pelo Rio de Janeiro, depois se fixou em Salvador. E ali ele fez os estudos primários e secundários. Com 15 anos, ele já ingressava na Companhia de Jesus. Depois do noviciado, fez os outros estudos, de humanidades, filosofia e teologia. Tudo no Brasil. Tudo que Antônio Vieira estudou regularmente, digo regularmente porque ele era um aficcionado por biblioteca, onde encontrava livros ia lendo. Evidentemente, quando ele foi para Portugal, depois para Itália, vasculhou tudo quanto era biblioteca que havia naquele tempo. Os livros eram um produto muito raro e caro. Mas havia bibliotecas selecionadas. E certamente por conta própria, ele estudou a vida toda. Porém, todos os estudos regulares foram feitos no Brasil. Ele chegou aqui com cerca de 7 ou 8 anos e estudou no colégio da Companhia de Jesus que havia em Salvador. Era o principal dos colégios no Brasil naquela época. Entrou no noviciado lá mesmo.

--Como se manifestou seu talento como escritor?

--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Durante a invasão holandesa em 1624-1625, ele foi encarregado de escrever um relatório sobre a invasão, e o fez num estilo caprichado, em latim, com muitos pormenores. Esse documento atualmente é considerado um dos mais importantes para se compreender o que aconteceu durante aquela invasão a Salvador. Portanto, desde jovenzinho, ele já se revelava uma pessoa com grandes dotes literários e com grande inteligência.

Existe uma lenda que diz que ele tinha grande dificuldade para argumentar, e que ele chegava à aula e, na hora de argumentar, não sabia. Então todo dia ele passava pela igreja do colégio e, diante da estátua de Nossa Senhora das Maravilhas que existe lá ainda hoje, ele fazia uma oração pedindo a graça de compreender as coisas com mais rapidez, mais inteligência. Um belo dia teria dado um estalo na sua cabeça e, a partir daquele instante, ele chegou à aula e pediu para argumentar. Para surpresa de todos, foi um assombro. Isso se conta na biografia dele. Mas ninguém sabe se é uma lenda.

Pode até ter sido que um dia ele tenha sofrido algo especial e a partir desse momento tenha dado uma guinada na sua vida em termos de compreensão das coisas. O certo é que desde cedo se manifestou seu talento. E há provas disso, como o documento que eu citei, que data do noviciado.

--E a sua atividade como orador?

--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Antônio Vieira, quando se ordenou, já tinha se revelado um grande orador. Ele já tinha surpreendido as pessoas em Salvador com a sua oratória. Em Portugal, naquele tempo, assumiu o trono o duque de Bragança, que passou a se chamar Dom João IV, terminando assim a dominação espanhola, que tinha começado em 1580, e seguiu até 1640. Então Dom João IV assume em 1640.

Para prestar a homenagem da colônia, foi criada uma comissão, e Vieira foi incorporado no grupo. E quando chegou lá, ele impressionou tão bem o rei que a partir dali assumiu importante papel junto da nova etapa do reino de Portugal, depois daquele eclipse de 60 anos da dominação espanhola. Durante o período em que ele esteve assessorando o rei, ele recebia missões cada vez mais empenhativas. O rei o nomeou em dado momento embaixador plenipotenciário junto a várias cortes da Europa, com a função de apresentar o novo governo de Portugal. Havia muita dificuldade de aceitação do novo governo, porque a Espanha era muito poderosa, e vários países não queriam criar problemas com ela. Antônio Vieira tinha como missão ir à França, aos Países Baixos, à Itália, para apresentar o rei de Portugal. Não podemos dizer que ele teve sucesso, porque não tinha nenhum preparo diplomático específico. Baseava-se só em sua capacidade dialética e na sua retórica, mas isso não bastava. Como sacerdote, ele não tinha experiência nessa área. Diante disso, algumas missões não foram bem sucedidas. Mas, de qualquer maneira, ele teve esse papel passando por essas várias cortes.

--Depois disso ele voltou ao Brasil?

--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Mais tarde em Portugal ele consegue vir para o Maranhão (Brasil). Ele começou a missão no Maranhão. A missão já estava engatinhando, no lugar que hoje não é o Maranhão apenas, pois chamava-se Maranhão e Grão-Pará. Era o norte do Brasil, que compreendia os estados do Maranhão, Pará e por extensão também a Amazônia, cujos contornos não estavam ainda bem definidos. Então ele vai para o Maranhão. É a alma da missão dos jesuítas no Maranhão. Ali ele escreve cartas, documentos. O regulamento das missões que é atribuído a ele. O certo é que ele encontra também muita inimizade lá, porque os colonos não aceitavam interferência. Ele ficou do lado dos índios e enviava para Portugal cartas narrando os maus-tratos dos índios, a não observação das normas reais que existiam. Três vezes ele foi expulso de lá e também os jesuítas. Vieira foi até preso nesse tempo tumultuado. Finalmente, ele é mandado de volta para Portugal.

Nessa nova fase, o rei morre. A rainha é a regente, mas as coisas não estão mais como antes. Nesse tempo, os seus inimigos o acusam de várias coisas, de favorecer os judeus, quem ele realmente sempre defendeu. Pedia que Portugal desse um tratamento diferente aos judeus, que eram perseguidos em toda península ibérica, pois os judeus podiam com o seu dinheiro ajudar na retomada do reino no vigor anterior à dominação espanhola. Baseado nas posições de Vieira, que foram mal interpretadas, seus inimigos montaram um processo e o acusaram perante o Santo Ofício de Portugal. Cada país tinha o seu tribunal do Santo Ofício, que muitas vezes era dominado pelos governantes locais, só que a culpa viria depois a cair sempre sobre a Igreja. Às vezes, a Igreja era alheia à composição daquele tribunal, que era instrumentalizado pelo Estado. No caso em questão, fizeram um processo. O próprio Vieira se defende das acusações, e se defende muito bem. Nessa época, sua fama de grande orador já extrapolava. Naquele tempo que ele veio para o Brasil, ele também brilhou. Há muitos sermões famosos de Vieira que foram feitos no Maranhão, no Pará. O certo é que depois do processo ele foi condenado, mas uma condenação que não era plena. Ele foi proibido de fazer certas coisas, mas não ficou na cadeia. Então ele conseguiu se livrar do processo, porém tinha penas, como, por exemplo, a de não poder pregar. Os jesuítas portugueses, vendo que não havia tanto espaço para Vieira em Portugal, decidiram que era melhor afastá-lo de lá. E arranjaram um motivo. Tinha havido o martírio dos 40 mártires do Brasil, mortos por protestantes franceses em 1570 nas Ilhas Canárias enquanto se dirigiam para o Brasil, e estava em andamento o processo de beatificação desses mártires. Então deram a ele a incumbência de ser o postulador da causa e o enviaram para Roma.

[A segunda parte desta entrevista será publicada esta quarta-feira]


***

Pe. Antônio Vieira, pregador e missionário (II)

Entrevista ao Pe. Geraldo Antônio Coelho de Almeida, S.J.


Por Alexandre Ribeiro

SÃO PAULO, quarta-feira, 4 de junho de 2008 (ZENIT.org).- Nesta segunda parte da entrevista a Zenit, o padre Geraldo Antônio Coelho de Almeida, S.J. --reitor do Pontifício Colégio Pio Brasileiro em Roma, que foi diretor do Colégio Antônio Vieira em Salvador (Bahia, Brasil)-- continua a falar do legado do Pe. Antônio Vieira, pregador e missionário.

Celebra-se em Portugal e no Brasil este ano o IV centenário do nascimento de Pe. Vieira, considerado por Fernando Pessoa o «imperador da língua portuguesa». A primeira parte da entrevista pode-se ler em Zenit, 3 de junho de 2008.

--Foi em Roma que a fama de pregador do Pe. Antônio Vieira ganhou ainda mais força, não?

--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Em Roma, Vieira começa a se manifestar, inicialmente não ainda com sermões, mas por meio da participação em academias. A rainha Cristina de Suécia tinha renunciado ao reino na Suécia. Ela era católica e o clima ficou conturbado de tal maneira que ela não pôde mais governar. Então a rainha levou a corte para Roma e ali promovia grandes saraus literários. O Pe. Vieira foi convidado a participar. Ele brilhou de tal modo que isso lhe valeu a suspensão de todas as penas do Santo Ofício, inclusive um salvo-conduto que o Papa lhe deu, pelo qual ele não poderia ser condenado por nenhum tribunal do Santo Ofício sem que Roma fosse ouvida. Com isso ele ficou livre. E dessa fase há alguns sermões importantes que ele pronunciou em igrejas de Roma, sobretudo na igreja de Santo Antônio dos Portugueses. Lá ele pregou o famoso sermão de Quarta-feira de Cinzas. Este é um sermão paradigmático, um modelo de sermão. Até hoje é considerado uma obra-prima pelos cursos de literatura: «lembra-te homem, que és pó, e em pó te hás de converter». Em um outro sermão que ele faz na mesma igreja, no ano seguinte, ele faz o contraponto: «lembra-te pó, que és homem...», e aí ele argumenta de outra maneira para mostrar que o pó virou homem e foi redimido pelo sangue de Cristo. Na academia de Cristina de Suécia também existia um tipo de disputa entre discursos. Em uma ocasião, foi colocado em disputa quem era mais feliz, Heráclito que chorava ou Demócrito que sorria. O adversário ficou com a parte de que era mais feliz quem sorria e pronunciou um sermão muito bonito. Vieira ficou com a parte que dizia que era mais feliz quem chorava. E aí começa assim: felizes os que choram, porque serão consolados. A partir daí ele faz todo um jogo de palavras, numa linguagem barroca, e no fim ele vence.

--Qual foi a próxima etapa de sua vida?

--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: De Roma, Vieira retorna a Lisboa. Alguns amigos dele já tinham morrido, outros, caído na desgraça. O certo é que o clima não estava favorável para ele. E aí Vieira volta definitivamente para o Brasil e vai para a Bahia, onde era a sede da província dos jesuítas. Ali ele gasta o resto dos seus anos, a um tempo que prega e pronuncia sermões em Salvador, tendo como atividade principal arrumar os sermões para publicação, para a qual ele já tinha encontrado patrocinadores. Alguns textos até já tinham sido publicados e traduzidos para o espanhol e o italiano. Então ele passa o fim de sua vida trabalhando nisso e também escrevendo outros livros.

--Fale-nos da importância literária de Pe. Vieira.

--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: A qualidade literária dos sermões de Pe. Antônio Vieira é tamanha que Fernando Pessoa o chamou de o «imperador da língua portuguesa». Às vezes, uma regra estabelece um modo de fazer. Mas se Vieira disse de modo diferente, a gente pode usar, porque ele é um clássico da língua. Por exemplo, o verbo alumiar. Você deveria dizer «alumia». Mas muitas vezes se vai ao interior e ouve-se «alumeia». Então alguém pergunta: «Alumeia» está certo? Vieira tem uma frase que diz: «o preguiçoso e a candeia assim queima e aos outros alumeia». Ora, se Vieira usou «alumeia», eu também posso usar. E assim por diante.

Mas Vieira não foi importante apenas porque é o imperador da língua portuguesa. Foi o maior orador da língua portuguesa, porque escreveu com grande propriedade e deu forma à língua portuguesa, que ainda estava se estruturando. Além disso, Vieira foi um grande missionário, um ardoroso missionário. O sermão era um instrumento. Tinha grande importância o que ele queria pronunciar no sermão, a sua capacidade de convencer o auditório. Às vezes ele investia contra os poderosos, até contra o rei, usando artifícios de linguagem.

Tem um sermão em que ele diz assim: «se eu estivesse no confessionário e não no púlpito, eu diria aos funcionários do rei...», aí ele diz tudo, os defeitos, as coisas que eles não faziam. Isso na frente do rei, na frente dos ministros que estavam naquela celebração. Depois, ele continua, «mas como eu estou no púlpito e não no confessionário..., admiro-me com as turbas». Então ele prosseguia: «se eu estivesse no confessionário e não estivesse no púlpito, eu diria aos ministros do rei...», e dizia todas as falhas da atuação dos ministros nas províncias. E finalmente ele vai chegar ao rei, que estava presente, e diz: «se eu estivesse no confessionário e não estivesse no púlpito, eu diria ao rei...», aí ele faz várias advertências, e então prossegue: «mas como eu estou no púlpito..., admiro-me com as turbas» - Et admiratae sunt turbae. Por meio dos artifícios de linguagem, ele mandava seu recado e tentava mover os corações para uma prática cristã que fosse mais coerente com o Evangelho.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui