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cronicas-->Quando se dançava de Pau duro -- 31/07/2011 - 17:06 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 

Quando se dançava de Pau Duro

 

Quando eu tinha trinta e dois anos, doze quinze anos passados pareciam uma eternidade, hoje aos sessenta e cinco anos um passado de trinta e dois parece acontecido ontem e, foi realmente a trinta e dois anos quando eu tinha trinta e três, quando falando nas diferenças dos bailes quando eu tinha dezoito anos e os da época que eu ouvi do Major Paulo:

Seu Viégas o senhor lembra-se dos bailes do nosso tempo?

Com um ano morando em Cruz Alta e a onze dos bancos escolares, um dia resolvi encarar a Faculdade. Num transe sai de casa indo até a faculdade perguntar o que seria necessário para inscrição do vestibular de Economia. Acompanhava-me a certeza da necessidade de uma pilha de documentos e um alto custo monetário. Qual não foi a minha surpresa? Todo o necessário estava na minha bolsa de mão até mesmo as três por quatro. Mecanicamente inscrevi-me. Inscrevi-me sem pensar nas conseqüências. Na bobagem feita. Como enfrentar um vestibular com menos de quinze dias para preparar-me? A reprovação era certa. Melhor seria perder a inscrição.

Pensando assim. Conversei com um colega de CEEE, Técnico mecânico da velha guarda Oriundo da Escola Técnica de Pelotas, formado sete anos antes de mim e estudante de Economia, Elautério Lopes o qual me perguntou:

A pior coisa que pode te acontecer não é a reprovação? Será alguma surpresa para ti não ser aprovado no vestibular?

Se nada pior do que não ser aprovado pode te acontecer, então vai la e presta o vestibular. Ao menos ficaras sabendo como é um vestibular.

Segundo suas sabias palavras, paguei para ver. Sendo aprovado em quadragésimo lugar. Estava realizado era só cursar.

Foi um feliz retorno. De volta à sala de aula, Com uma variedade de colegas, variedade de idades. Alguns bem mais velhos do que eu como o Aristeu Lamaison o David, outro muito mais jovens como a Martinha, de quem gosto muito de reconhecer como colega com somente dezessete a ninhos. As profissões mais variadas possíveis. Militares, no primeiro e segundo semestre dois, no terceiro e quarto, onde tinha uma cadeira ministrada pelo tenente Coronel Germano.

Os primeiros militares, feitos na forma da escola da ditadura militar. Bem como o professor a lembrar os oficiais alemães da segunda guerra. Tenente Botti recém chegado das agulhas negras e o Major Baraúna. Retinto de preto. Um dia no bolinho do recreio. Falando em armas, a minha grande fixação, por alguma coisa qualquer, ainda sem saber o que ele era vida perguntei-lhe o senhor atira? Recebendo a resposta:

Com qualquer arma da pistolinha vinte e dois ao canhão

Pouco tempo depois, descobri que era da pistolinha 22 ao canhão passando pela besta e quiçá, pela catapulta, sendo também esgrimista, alpinista e paraquedista. Dizia-se nos meios militares, que nos desfiles, só para transportar as suas medalhas seria necessário um Jeep.

Na época, quando ainda não havia películas, ele tinha um Chevrolet, Opala, com vidro fumê.

Conta a lenda que um dia ele mandou lavar o carro pedindo que o entregassem no quartel. O manobrista encarregado de entregar o carro, um negrão forte como ele, não resistiu à tentação, ao ver seu quepe no banco de traz, colocou-o provocando continências de toda a milicada quartel adentro.  

Na passagem para o terceiro trimestre, estes dois desapareceram ou por desistência ou por transferência. Com certeza, ao menos uma transferência a do Major Baraúna, pois aparece outro Major um carioca, ao que tudo indica “não querendo nada como basquete.” Quem sabe lá se alguém o visse fardado não ficaria pergunta-se se não era uma brincadeira ou o capelão.

Um dia numa rodinha de conversa, por algum motivo ele deixou transparecer a sua profissão:

Provocando a Pergunta do Lamaisou:

O senhor é militar?

Com a resposta afirmativa fez a segunda pergunta sargento?

Recebendo a resposta, naquele sotaque carioca e sem nenhum entono provocando a risada e gozação de todo o grupo:

Major

Por alguma coisa, até por sermos praticamente os mais velhos da aula, criamos uma certa afinidade.

A pergunta dele arremeteu-me aos idos tempos de estudante, e aos bailes da Associação dos trabalhadores lá no Capão do Leão. Ao Sabino Silva e ao seu Belinho Isabelino Beiro, que nos facilitavam a entrada nos Bailes. Normalmente encarregados de atender a portaria do baile, reuniam uma turma de guris para atendê-la ou trabalhar na copa do café. Eu sempre encarregado do caixa. Na época eu ainda não aprendera como escapar da copa. A exemplo do Marquinhos da Ferrô:

Numa das minhas últimas participações da diretoria de uma escola de samba, a Ferrô, quando quisemos escalar o dito cujo para trabalhar de caixa na copa de um baile ele saltou ligeiro colocando uma carta muito alta:

“Eu não posso, pois ou alcoólatra e cleptomaníaco”

Gostei da saída e fui aplicando sempre que tinha de escapar do serviço de bebida ou tesouraria até que quando pertencia a comissão Social da Coxilha Nativista, eu fui informado, pela hoje vereadora e então presidente da comissão, Sonia de Bortoli, que seria uma grande terapia trabalhar na Copa, pois se eu recaísse em qualquer dos males, as mulheres, dar-me-iam uma cossa de laço tão grande que eu nunca mais arriscaria a recair novamente. Não trabalhei, porém, só de lembrar-me disso nunca mais me recorri de tal desculpa.

Eu me recordo daqueles idos tempos, dos bailes la na Associação dos trabalhadores da Pedreiras do Capão do Leão. Enquanto vou ouvindo o Major Paulo, de longe, vem até mim o som do Jaz Espanha, o que havia de melhor em matéria de conjunto além de “José Iates e seu bandonião, O xodó mesmo era o jaz Espanha, iniciando e encerrado o baile com o Mambo Espanha, o vocal dava o inicio:

 

“Vocês nos contrataram para tocar para vocês dançarem e nós vamos tocar cinco horas sem parar. Agüente quem puder”

Dando a sequencia com todos contando cadenciadamente:

“Um, dois, três, quatro,cinco,seis,sete,oito,nove, mambo”

Na palavra mambo rompia o Mambo Espanha, estava começado o abaile até a madrugada quando tocavam “Vem chegando a Madrugada precedido da mesma contagem progressiva e Mambo Espanha.

 

 

 

Diz-me o Major Paulo, naquele tempo agente pegava a mina e ia brigando para chegar ao miolinho do salão e de lá a gente não saia nem por decreto. 

Guri mal de dinheiro, estudante da Escola Técnica de Pelotas, estudante de manhã e de tarde, não tinha como trabalhar, além de que, meu pai, assim como vendeu o campo para não pegarmos o gosto pelo cavalo acabando como peões de estância ele não queria que trabalhássemos para, pelo gosto do dinheiro, não viéssemos a parar de estudar. Sem dinheiro para o entre do baile, muito pouco podia disputar o meio do salão, pois quando já estava a meio caminho tinha de parar para revezar um dos outros na portaria.     

A Sociedade pressiona o estudante de parcos recursos familiares. Como naquele tempo não havia, nem conselho tutelar, nem ministério publico da infância e da juventude, e nem estatuto da criança e do adolescente, aos quatorze quinze anos os meninos já podiam iniciar a trabalhar na pedreira, praticamente a única fonte de emprego no Capão do Leão. Com um ganho acima do salário mínimo. Isso fazia uma diferença enorme. Como além da entrada dos bailes, poderem comparecê-los esnobando o “cigarro feito” ou até alguns, o luxo de muito pouca gente os cigarros, com filtro, logicamente somente nos bailes. Para alguns estudantes o ingresso no esporte, trazendo além do dinheiro as regalias todas na escola, principalmente abono das faltas em aulas de educação física ou treino de marcha para o desfile da “Semana da Pátria”. Muito poucos jovens dessa época resistiram aos atrativos das benesses do seu próprio dinheiro.

Ainda para manter-se, na equipe era necessário, algum sacrifício, como ter de trabalhar nos bailes de Negro. Naquele tempo, branco não era aceito nos bailes de negros e negros não eram aceitos nos bailes de brancos. Com raríssimas exceções impostas pelo dinheiro, como o caso do seu Cavalcante em Vacaria, uma sociedade então bastante minada pela ultra preconceituosa colonização Italiana, que era sócio dos dois mais aristocráticos clubes da cidade, Jokey Clube e Clube do Comercio. Assim nosso grupo trabalhava divido entre a portaria e a copa do café.

Num desses bailes eu notei um da parceria disfarçadamente arrastando a assa para uma pretinha. Esta de namorado, mas iniciou de olhadinhas e, quase no fim do baile, enquanto o namorado permanecia na mesa com os pais dela, deu uma fugidinha la pela copa. Não sei como, talvez um bilhetinho, mas, creio ter havido assim uma combinação. Terminado o baile o parceiro, de fininho, desapareceu, da turma. Preocupado o pai do rapaz foi procurar o seu Belinho para saber alguma coisa recebendo a resposta:

Seu Vito, O Vitinho foi a Rio Grande correndo atrás de uma pardinha. Ele volta pelo trem das sete da noite.

Mas como se ele estava sem dinheiro?

Pergunta o pai

Ora seu Vito, a pardinha valia a pena. Era um pecado atrapalhar a vida do Rapaz. O namorado iria acompanhá-la até a estação, deixando assim o Vitinho sem nenhuma chance. O que seria uma lastima, por isso dei-lhe o dinheiro.

Eu me lembro bem daquele tempo, quando na parada da musica só dava rapaz de mão no bolso. Com exceção do “Estação”, apelido dado pelas gurias, que já chegava aos bailes em “Estado de Graças” e parava no meio do salão com as pernas meio abertas as mãos nas costas a moda “Pedro e Paulo” e o remendo volume nas calças.

Enquanto dou esse passeio pelos meus longínquos dezoito anos o Major Paulo continua

Hoje nos bailes a rapaziada fica dançando, solto entre eles num canto do salão, enquanto as gurias ficam dançando entre elas num outro canto do salão. Não se vê mais como nos tempos de então o Cuera apertando a mina por baixo e sussurrando baboseiras ao se ouvido  

 

   

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