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Cronicas-->Aviões e cicatrizes -- 23/04/2001 - 13:01 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não é raro nestas rodas de conversa fiada, iniciar-se algum comentário sobre acidentes de avião, ou quase acidentes, como é mais comum. Assaltos, acidentes de carro e outras mentiras também são comuns, mas os episódios aéreos sempre causam mais sensação. Mesmo para viajantes experimentados, qualquer variação da rotina configura um quase acidente. Tais eventos exercem um fascínio e são contados com requintes de quem vive no país do Pai da Aviação ou de quem tenha pessoalmente projetado o avião. Nos acidentes de automóvel a velocidade nunca é menor que cento e cinquenta, mesmo que o falastrão tenha um fusquinha 68.

O primeiro a puxar o assunto tem direito a contar sua história até o fim ou até muito pouco antes disso. Sempre há o risco de um chato interromper com um "e eu então, foi muito pior...". Dito isto, destrambelha a falar até que alguém interrompa e inicie sua história. E assim a vez de falar vai percorrendo a roda e cada um conta sua tragédia ou quase tragédia. Como ninguém se dá por vencido, as histórias aumentam em perigo e importància sempre que troca o contador. Não é possível ficar pra trás. Por crença ou educação a conversa é entrecortada de "Ohs!" e "Ahs!" ditos pela platéia não raro embevecida com certos relatos de heroísmo, perigo ou dor.

O problema maior destas conversas é quando começam a mostrar cicatrizes, provas irrefutáveis, como se alguém acreditasse nestas histórias. O primeiro mostra um sinal na mão e o último já quer mostrar as safenas todas, unhas encravadas, pinos de platina, próteses variadas. Pior, quando a cicatriz é na boca ou a tragédia envolve dentes. Os mais afoitos abrem o bocão na cara do pessoal e ficam apontando.

- Ali, ó, bem ali ó. Quebrou. Tá vendo? Tá vendo?

Se for necessário, para provar que está em vantagem, há mesmo quem baixe as calças e mostra uma cicatriz, sabe Deus onde. Ainda que pareça impossível, há sempre muitos que queiram ver, alguns ameaçam tocar mesmo que tenham uma fatia de pizza na mão. Parece um impulso incontrolável.

E assim segue a conversa, interminável. Não fosse assim, a indústria a do chope estaria fortemente comprometida.


Escrito em 25.01.2001

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