Tem dia que a noite é fogo! Minha professora dizia isso. E hoje meu dia foi daqueles de moer o esqueleto. Estou um trapo. Dormi nada essa noite. Levantei para trabalhar à s 6h00. Pensei que não fosse conseguir dar as dez aulas. Não estava me sentindo bem. E quinta é um dia puxado. Tenho apenas meia hora de almoço. Mas deu tudo certo. Às vezes é melhor do que ficar em casa. Saí do colégio quase cinco da tarde. Tinha pilates das 17h00 à s 18h00. Não deu. Não fui. A Dai, minha professora, acabaria me matando!
Tomei banho e coloquei uma roupa rapidamente. Levei minha mãe para a casa dela. Peguei o Carlo na escola. Levei à psicóloga. Aproveitei esse tempo para acabar de me arrumar. Busquei o Carlo. Depois da sessão com a Mariana, o aniversário da Mariana, amiga da escola. Corri com ele ao shopping, para variar eu deixei o presente para o último minuto. Onde é a festa? No Gorilão! Lá precisamos ficar atrás das crianças. Confesso que sou tranquila em aniversários, mas ficar sentadinha o tempo todo só ouvindo minhas amigas falarem, sem fazer o menor esforço... sonho. De vez em quando uma voltinha faz bem. Nunca se sabe o que pode acontecer. E entre uma volta e outra, desliguei-me do mundo real. Enquanto o Carlo brincava no bate-bate, eu me deixei... desligar. Acho que é essa a palavra. Sim. Eu sou desligada por natureza, mas hoje... olhei para o lado esquerdo e vi aquele Barco Viking em minha direção. Não gostei muito do que senti. Cansada, precisando dormir... não foi agradável a sensação de ver um brinquedo enorme como aquele sobre minha cabeça... Me senti em alto-mar, sozinha, desprotegida. Segundos de alucinação. Depois disso ele resolveu brincar numa indecência de brinquedo. Um tal de Hip Hop. As crianças precisam segurar forte numa barra de ferro que fica nas costas delas, na altura dos ombros. O brinquedo gira enlouquecidamente! Isso é um absurdo! Deveriam proibir esses brinquedos sem sentido. Aquilo apenas gira! Depois de salgadinhos, refrigerantes, bolo e docinhos... que inveja desses estómagos infantis. Vê-lo girar me deixou tonta. Desejei estar em casa. Por um instante cheguei a sonhar com meu longo travesseiro com o qual durmo agarrada. Decidi chamar o Carlo para pegar a bendita bola de cada ida ao Gorilão. Não foi tão fácil. Precisaram desligar os brinquedos para que as crianças aceitassem sair de lá. Saí carregada: bola, pipoca, lembrancinhas, minha bolsa, a chave do carro e a mão do Carlo. Em estacionamentos andamos de mãos dadas. Quando me sentei para dirigir foi que notei a baita dor nas minhas pernas. Que dia foi esse?!
Graças a Deus, minha casa! Decidi escrever. Eu gosto. Gosto de saber que, daqui a alguns anos, lerei esse meu diário e sentirei saudade de tudo isso. Eu construo saudade todos os dias. E isso me satisfaz. Feliz é aquele que pode sentir saudade. Se a sentimos é porque vivemos bem. É porque foi bom. E, mesmo muito cansada, valeu ter vindo aqui. Esse dia não poderia ficar sem registro. Mesmo que simples. Agora vou me deitar. Meu travesseiro está me chamando. Boa noite!