Quando era um garotinho costumava ter medo de raios. Vê-los cortando o céu e caindo no mar me causava arrepios e pesadelos. E ficava também preocupado se eles atingiriam algum peixinho.
O trovão era pior. Ameaçador, parecia que estava destruindo o mundo. Meu mundinho parecia que desapareceria depois daquele absurdo som da natureza. Assim como desapareciam meus castelinhos de areia após uma onda malvada derrubá-los.
Cresci um pouco e passei a ter medo de perder meus pais. Pensava a respeito e logo as lágrimas chegavam. Parava de pensar sem conclusão alguma tecer. Incrível meu poder de inconclusão.
Medo de altura também me domina até hoje. Só de subir em uma cadeira para trocar a lâmpada ou a resistência do chuveiro já tenho vertigens.
Medos e fobias sempre fizeram parte de nossas vidas. Às vezes é apenas uma aversão, às vezes é medo mesmo.
Como estamos em outubro, sou categórico ao dizer que sofro de amhainofobia, ou seja, aversão ao halloween. Festinha mais besta, sem razão de ser.
Talvez seja o avanço da idade que não me permita compreender a festa, assim como não me permita ter tolerância com gente bêbada, por exemplo. Caso típico de methyfobia.
E quem nunca teve odynofobia, ou para ficar mais claro, medo da dor?
Hoje tenho medo de ficar sozinho. Passei perto de me casar, mas ela foi mais esperta e desamarrou seu burrinho da minha sombra. Mais do que ficar sozinho, tenho medo de não realizar meu sonho de ter um filho.
Após ser mordido duas vezes por cachorros passei a ter medo deles também. Medo que cultivo até hoje. Sempre adorei gatos e passei a entender porque eles têm medo de cães. Não dá pra cofiar nesse bicho. Qualquer canino me faz mudar de calçada ou desviar meu caminho.
E quantos caminhos são abandonados ou desviados ao longo de nossas vidas devido aos medos que sentimos? Medo de amar, de ser feliz, de chorar, de se mostrar, de viver.
Tenho medo de ser medroso.
