Usina de Letras
Usina de Letras
209 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62149 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20022)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140784)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6176)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cartas-->UMA CARTA BEM ATUAL SOBRE DESARMAMENTO -- 22/10/2005 - 11:50 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O SIM E O NÃO NA VÉSPERA DE UMA VOTAÇÃO SOBRE O DESARMAMENTO

João Ferreira
22 de outubro de 2005
Acredito que a maior parte dos cidadãos, apesar de estar debaixo do fogo da propaganda, ainda não pensou em algumas coisas simples que desmistificam a questão pomposamente levada para as urnas.
Eu aposto que todo o mundo desejaria viver pacificamente. Todo o mundo desejaria viver numa sociedade desarmada, como num Paraíso, como no Éden ou como numa Pasárgada, sem vizinhança agressiva, sem perturbadores da ordem, sem assassinos, ladrões, bandidos... Eu sou um desses. Sou um cidadão que desejaria viver numa sociedade pacífica. Numa sociedade evoluída, dentro de uma escala de valores essencialmente humanos, sem violência, na busca democrática do bem individual e comum, cada um respeitando cada um e cada um respeitando todos.
Mas esse pacifismo, essa democracia de valores, esse paraíso ainda não chegou à Terra. Estamos numa sociedade meio bárbara, sem democracia verdadeira, onde impera a lei do mais forte, como na selva.
Por estarmos na selva, as sociedades se organizam em defesa própria. Teoricamente, o Estado seria, o guardião de todos. Na teoria do Estado, nossa segurança estaria garantida. Há forças policiais, há justiça, há legislativo, há executivo. Teoricamente o cidadão estaria protegido, cercado, defendido. Não teria por que se preocupar.
Mas na prática, o cidadão se preocupa. Não tem em cada esquina, sempre, um delegado da ordem nem um protetor dos inocentes, dos justos e dos amigos da ordem, em nome do Estado... Por nossa experiência, sabemos que o Estado, mais do que tudo, é um ser abstrato que chega onde não deve e que sempre está ausente onde não devia. Quando muito, o Estado é aparato, aparência teatral. Não é garantia, não é defesa, não é proteção. Geralmente é apenas cobrador de impostos. Uma máquina econômica que não resolve nem os problemas da fome nem da exclusão social. O cidadão se desabituou do Estado sempre que tentou buscar proteção. As forças policiais são poucas e não chegam para resolver os casos sérios da segurança social. O Estado, por isso, não é garantia de nada. A não ser uma garantia teórica, de farda, de símbolo institucional.
O Estado é uma concentração de poderes ainda não organizados com eficiência social. Pelo fato de o Estado não ter conseguido se organizar na prática social, o cidadão fica em sua solidão, perigosamente, com sua família e suas crianças, inseguro em sua vida ...E isso porque não há proteção do Estado para ele. O cidadão tem apenas a lei de cão, a lei do pontapé, da injustiça, da incúria. E quando chegamos ao capítulo da segurança, tudo são problemas, buracos e vazios.
Em vista disso, haveria que fazer algumas reflexões muito rapidamente.
Amanhã, dia 23 de outubro de 2005, teremos nosso plebiscito sobre a não comercialização de armas. Pensando bem, aparentemente, um dia destes seria, no horizonte da esperança, um autêntico dia de libertação. Dizer sim ao desarmamento, se fosse mesmo para valer, seria uma coisa incrível, de autêntica libertação nacional.
Mas as coisas não são apenas o que parecem. As coisas têm mais profundidade. Para além das aparências tem o que está escondido. E o que está escondido, geralmente é mais importante do que o que aparece.
Oh! Como eu desejaria uma sociedade pacífica em qualquer parte do mundo. Meu Deus!!!Sou um pacifista por natureza. Mas sou um pacifista adulto. Penso. Analiso. Vivo com os pés na terra. E tenho um poder de raciocínio e de experiência que desenvolvi na vida e do qual não posso abdicar.
Por esse motivo, gostaria de conversar com meu leitor sobre algumas coisas importantes sobre segurança cidadã. No estado atual da sociedade brasileira, como todos sabemos, se o sim do referendo desarmasse, de verdade, seria maravilhoso. Pelo voto do “sim”, amanhã, o cidadão está decidindo a proibição do comércio “legal” de armas. É verdade! E aí? Mas...com este “sim” à proibição da comercialização das armas, fica resolvido o problema da segurança do brasileiro? Desejara... Mas não acredito, evidentemente. Todos sabemos que depois do “sim”, o contrabando e o fornecimento de armas, seja pelo Paraguai seja por outras fronteiras, não cessará e continuará naturalmente mais intenso e mais agressivo...
O raciocínio é o seguinte: o Brasil não ficará desarmado com o sim. Quem tem arma, continuará com ela. Nos últimos meses, a compra de armas, diante do medo, triplicou. As pessoas estão se armando para aproveitarem o período em que ainda podem comprar... exatamente para não ficarem desprevenidas e à mercê da sorte. Por outro lado, dizem as pessoas e é verdade que o Estado Brasileiro não garantirá segurança. Cada um por si e Deus por todos...
A luta pelo mercado de armas continuará, como a luta pelo mercado de drogas. São coisas parelhas. As gangues continuarão. Os grupos de extermínio continuarão, os sequestros, as matanças, as desonras, a bandidagem, os movimentos violentos de invasão de propriedades agrícolas e urbanas continuarão. E é lógico que as pessoas não vão se desarmar se há estes problemas e o Estado não garante que os resolva. Os problemas do Brasil continuarão iguais, mesmo que haja um “sim” sobre a proibição da venda de armas. Os problemas continuarão, porque há algo mais profundo...que não está sendo colocado no referendo...
Temos nosso tipo de sociedade. Pelo “sim” do referendo não iremos melhorá-la. Há outros meios mais sutis e de maior valia. Esses, sim, melhorarão a sociedade brasileira. E terão a capacidade de desarmar o cidadão. Esses meios são a melhoria do padrão ético do cidadão, a melhoria do nível de educação, do nível de cultura, do nível de organização de grupos que busquem melhor desenvolvimento social, melhor nível der escolaridade, com base numa luta moral e ética contra a violência. Esses meios, sim. Eles merecem nossa luta. E é por eles que a sociedade brasileira aspira, antes e depois do referendo...
A propósito do sim e do não do referendo, há porém, uma perguntinha que me tem incomodado nos últimos dias. Eis a pergunta: Por que esse interesse do Estado em promover este referendo de não comercialização de armas?
Haverá várias respostas possíveis. Mas há uma que vou querer destacar. Meu amigo, minha amiga, a promoção subterrânea do “sim” no referendo, feita através de certos órgãos parece estar muito clara.
Eis meu raciocínio: se a população ficar proibida de se defender, de buscar sua própria defesa pelos meios comuns até hoje disponíveis, haverá muito brasileiro desde que tenha posses para isso que irá contratar uma empresa de segurança... Este é o ovo de Colombo. Não parece a você que este é o fundo da promoção que veladamente se faz pela votação do “sim”?
Ninguém é tão inocente a ponto de pensar que o Estado está convencido que a sociedade brasileira vai ficar desarmada com a votação do “sim” . Há mais do que isso. Camuflado, há aqui um lobby a favor das empresas de segurança... Como no voto do “não” há um lobby por parte das fábricas de armas e dos vendedores de armas.
O “sim”, portanto, na promoção oficial pode significar uma forma hipócrita de decretar campo livre e espaço garantido para que as empresas de segurança se criem, se desenvolvam, ganhem o mercado e passem a ser as guardiãs oficiais da vida civil brasileira...
Como no trânsito, em nossas estradas, os pardais não estão ali para regular a velocidade ou proteger o cidadão, nem para evitar mortes na estrada. Estão ali para faturar, sob a falsa aparência de protegerem a vida do cidadão. Da mesma forma parece estar camuflada a propaganda do “sim”. Um caminho para a oficialização, em escala, das empresas de segurança privada...
Num mundo apenas mercantilista, esta é a arma que sob o pano está escondida para matar nossa ingenuidade, nosso espírito de paz, nossas finanças e quem sabe, aumentar o tom guerreiro de nossa sociedade.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 73Exibido 1165 vezesFale com o autor