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Cronicas-->Ferro de Passar -- 19/02/2000 - 21:49 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A despeito de toda a conhecida evolução tecnológica e também a dos costumes, cada dia mais liberais, ainda há quem passe a ferro. E não são poucos. Não me refiro a nenhum núcleo interiorano. Passa-se a ferro nas principais capitais, na minha casa e na sua também.

Com tudo o que se viu nas últimas décadas era de se esperar que não fosse mais necessário passar as roupas a ferro. De um lado já deveriam ter inventado um sabão em pó que entregasse a roupa passada. Naturalmente, também seria aceitável um sabão líquido. Seria um sabão inteligente. Eles já prometem tanta coisa, incluindo tira manchas e família feliz, não custava entregar a roupa passada, preferencialmente já distribuída pelas gavetas, armários e cabides conforme o caso. De outro lado, os costumes já deveriam ter nos dispensado desta obrigação infame. A questão do conforto seria resolvida pelos amaciantes, passantes, atenuantes e todo o arsenal da química moderna. É bem verdade que já não se cobra o esmero no trajar como antigamente, mas ainda há um certo patrulhamento. Um senador, por exemplo. Quem votaria num senador que não andasse todo engomadinho, incluindo o gel nos cabelos? Amins a parte - estes devem andar, por assim dizer, lustrosos.

Mas não, ao contrário. A indústria de ferros de passar vai muito bem, obrigado. Os ferros aí estão com um número cada vez maior de botões, compartimentos e acessórios variados. Outro dia, muito a contragosto em função do impacto no meu fluxo de caixa, fui comprar um. Não pude conter o espanto, vendo a variedade de modelos e funções. A compra de um simples ferro de passar tem que ser precedida de um estudo minucioso, uma comparação acurada de funções e botões disponíveis, volumes de água, esguichos e vapores. Frente à complexidade da questão, resolvi consultar minha carteira de habilitação para saber se eu mesmo poderia usá-lo (como se alguma vez na vida eu tenha encarado tal atividade).

A consulta à carteira de habilitação não melhorou muito minha situação. Lá diz categoria B, o que significa que sou um condutor amador. Não creio que isto se estenda a estes novos ferros. Restou-me então uma consulta ao CREA. Nova negativa. Fui informado que para usar os modelos mais sofisticados eu deveria cursar pelo menos mais uns três semestres de termodinàmica. Exagero, aposto que em um semestre eu já estaria habilitado. Não tendo também a prática, devo então valer-me de pessoas experientes que, tendo a prática em lugar do diploma específico, podem ser enquadradas como práticos licenciados. Confesso que eu não chego a ficar triste.

Claro que para estes ferros mais modestos, como o que eu tinha em casa, não há restrição. Mas com tantos botões, vapores, esguichos, quem quer um ferro modesto? O que diriam os vizinhos? Que estou na idade da pedra. Que o ferro de passar não tem vapor, que não sou aderente às novas tecnologias. Acho que eu não suportaria as crianças na rua apontando quando eu passasse. Muito humilhante.

Tem até um modelo que pode ser ligado à Internet. Você vai mexendo com o mouse no escritório e o ferro, em casa, vai passando sua camisa de amanhã.

Uma beleza.

Escrita em 14.02.2000
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