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Cronicas-->A Vulgarização da Moeda -- 29/03/2011 - 13:44 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Estou no supermercado quando ouço alguém reclamando de ter de mostrar a identidade para pagar com cartão de credito/débito:
“Será que estão me achando com cara de ladrão?”
O ilustre cidadão vestindo, camiseta e bermudas surradas e sujas, calçando chinelos de dedos, pensando ainda estar num passado remoto, achava-se muito gente por ter um cartão. O coitado estava enganado tão enganado quanto os Generais e Coronéis logo após a queda da ditadura, ainda sem darem-se conta estarem a caminho de serem comandos por um político cívil, ao perguntarem:
“Tu sabes com quem estas falando?”
Vivemos a era da moeda virtual. A menos de três décadas um cartão de crédito era coisa seletiva. Hoje tem cartões de todo e qualquer tipo, tem cartões de lojas, supermercados, postos de gasolina e o “O Diabo a Quatro”. Creio que num futuro bem próximo estes cartões serão tão desacreditados quanto os cheques. Certa feita eu ouvi de um ‘gringo’ fanfarrão como todo o bom gringoque se preze::
“Cartão de crédito não quer dizer nada mais nada menos que seu portador esta falido, o que vale mesmo é dinheiro no bolso”.
Mero engano, para a época. Simples despeite por não conseguir um. Então só tinha carão de crédito quem provava ter posses para tal. Cartão de Crédito era um luxo de rico ou remediado. “Pé de Chinelo” só conseguia vê-lo nas mãos dos portentosos. O porte dele dava credibilidade ao seu portador. Alguém de chinelo de dedo e bicicleta, portando um estava sujeito a dar explicação em uma delegacia.
Como nos tempos áureos do cheque, em sua decadência, substituídos pelos famosos cheques especiais e contas empresariais.
Lembro do primeiro talão de cheques do meu pai, do Banco da Lavoura de Minas Gerais,produto do deposito em conta da venda de uma casa, ele vinha acondicionado em uma capinha de couro com o nome do banco impresso. Os talões de cheque de então eram guardados em casa, somente alguns do andar de cima ousavam sair a rua portando um. Os cheques eram preenchidos sobre a mesa, com o emitente confortavelmente sentado. A não ser em algum caso excepcional, citados como símbolos de poder:
“O Doutor Pedro Mariano de Pimentel Labareda lascou ali mesmo sobre o capô do Cadilicac um cheque de cem contos de réis (cem mil cruzeiros)”
Ou como corria a lenda sobre a passagem de uma tropa, contrabandeado do Uruguai, pelo contrabandista Germano Martins, lá dos confins de Pedras Altas e Arroio Malo:
“Ali mesmo, ainda montado, com a perna cruzada por cima do lombilho, sobre o cano da bota, Germaninho lascou um cheque de quinhentos contos de réis para os guardas.”
Os primitivos cheques eram compostos de três partes, a folha e dois canhotos, um ficava no talão para controle e o outro ia para o banco acompanhando a folha, sendo destacado ao ser entregue ao conferente, permanecendo em mãos do portador como senha, para ser entregue ao caixa quando chamado pelo número.
O cheque primeiro passava pelo conferente, para verificação de saldo e conferencia de assinatura em alguns casos até como o auxilio de uma lente.
Certa vez, tendo entrado em férias, oportunidade em que se recebia o salário do mês, o adiantamento do salário do mês seguinte e metade do décimo terceiro, eu fui ao banco e pedi a minha ficha. Não sei como se gerou a confusão. O meu dinheiro havia desaparecido completo, meu saldo beirava quase a zero. Abri o berreiro, quando o conferente trouxe os cheques emitidos foi pior. A assinatura era completamente diferente da minha. Passando pelo contador acabei na mesa do gerente, pedindo que um buraco se abrisse em baixo dos meus pés quando ele perguntou:
“O que esta acontecendo de errado seu Borsói?”
No susto  e encanzinado, pelo desaparecimento do dinheiro, pior ainda ao verificar um firma totalmente diferente da minha nos cheques emitidos, nem eu nem o conferente reparamos a troca das fixas, a fixa que foi parar na mesa do gerente não era de Sérgio Olimpio da Silva Viégas, mas, sim de Sérgio não sei das quantas Borsói.
Nessa época, inicio da década de setenta, já pela vulgarização dessa espécie de moeda, o Banco do Brasil lança o primeiro cheque especial, cheque com garantia do Banco do Banco, garantia até por ali, ele era uma forma de empréstimo de um certo limite de valor. É bom lembrar que empréstimos, só eram obtidos mediante negociações diretas com os gerentes dos bancos e muito dependentes das boas relações com eles.
Recentemente os bancos haviam acabado com os santuários dos gerentes. A salinha de porta sempre fechada la no fundo do corredor dos caixas. Onde quem saia de lá era olhado por todos como um alto figurão, um verdadeiro Demi Deus, com direito a adentrar a aquele restrito local. Eles foram trazidos, para um lugar destacado dentro do Banco. Sua mesa e sua cadeira eram sobre um estrado de uns quinze centímetros acima do piso onde ficava a cadeira dos suplicantes. Cadeira usada somente por quem tinha boas relações com ele, ou quem tinha essas mesmas com alguém muito chegado a ele.
O cheque especial do Banco do Brasil, com o pomposo nome de Cheque Ouro, fazia luzir os seus portadores, ao contrario dos seus percussores, ele não mais ficava na gaveta, era portado ostensivamente. Era o legitimo símbolo de poder e das boas relações com o gerente. Quem o tinha fazia questão, de mostrar as dificuldades de se conseguir um principalmente em suas relações. Assim como conheci na CEEE alguns Maçons que não apadrinharam nenhum colega, quiça, como forma de status.
Seguindo no rastro do Banco do Brasil em meados da década de setenta o Banco do Estado do Rio Grande do Sul, lança o seu cheque ouro, com o nome de Cheque Expresso. Muito antes de seu lançamento veio a propaganda e os comentários de quem poderia ser agraciado. Lembro como se fosse hoje dos comentários do chefe dos Serviços Técnicos da Gerencia da CEEE, em Vacaria:
“Esse cheque será por convite, para pessoas especiais. Aqui, com certeza o gerente será convidado e não creio que mais ninguém”
Realmente já no lançamento o Gerente Jorge Machado apareceu com o seu e logo depois ele também. Isso significava a sua boa relação com o gerente do Banco, apesar de que com a saída do Seu Armando de Gerente, não havia acontecido só a troca de gerente, mas sim a mentalidade. Enquanto o primeiro parecia dono do dinheiro e, emprestá-lo era um favor, o novo gerente, Felipe, fazia questão de mostrar que o dinheiro estava ali para negócio. E o negocio dele era emprestar dinheiro. Não quis me rebaixar a pedir para nenhum deles apadrinhar-me.
Em 1977 quando fui transferido para a Manutenção de linhas de Cruz Alta, descobri que o chefe dos Serviços de Manutenção de Subestações, Dirceu Augusto dos Passos era detentor de um Cheque Expresso. Nessa altura outros bancos, como o Unibanco, as Caixas Econômicas, entre outros, também criaram os seus cheques especiais. Recém chegado, na posição de “Lugar Tenente” ou “Mão Esquerda do Diabo” do outro chefe de serviço, abri-me com ele e pedi-lhe para apadrinhar-me no meu intento, recebendo a seca resposta:
“Não”
Não tinha pedido aos outros para não receber a humilhante negativa e errara ao pedir para alguém também arrogante, mas, ele continuou perguntando-me se eu dispunha de reservas bancarias e ao ouvir-me dizer dispor da entrada de um automóvel ele continuou:
“Eu não vou te apresentar a ele porque aqui não é com ele é direto com a secretária e funciona assim, tu fala com ela e diz a tua intenção ela vai encaminhar um estudo da tua situação e em um ou dois dias te libera. Com esse teu saldo é bem possível que te contemplem com o limite máximo”.
Não tive o limite máximo por ser o contrato inicial.
Apareci no meio da turma de manutenção de linhas provocando admirações. Dois meses depois tudo que era ‘Arigó’ da manutenção linhas tinha Cheque Expresso. Eu lhes disse o que me foi dito pelo Dirceu e fiz um pouquinho melhor acompanhei cada interessado até a secretária.

Joaquim Soares de Brito foi um deles apezar de mater uma certa desconfiança pelo perigo de afundar-se como bem exemplifica esta frase dele:

"A gente tem de se cuidar com este chequezinho de tomar no c..."
Com a vulgarização do cheque expresso veio a conta empresarial, já na decadência dessa forma de moeda. Hoje a maioria do comercio só recebe qualquer tipo de cheque com idade acima de um ano, e existem inúmeros estabelecimentos principalmente postos de combustíveis que só trabalham a dinheiro ou cartão de Credito/Débito

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