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Cronicas-->Rei dos Bailarinos -- 17/02/2011 - 19:48 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Rio Sagrado existia há muito tempo. Tanto tempo que ninguém sabia realmente se ele existira sempre e fizera surgir aquelas casas ou se eram as casas filhas de seu natural curso,à beira de seu leito e elas é que haviam existido sempre, muito antes do rio surgir. O povo sempre contava histórias, nas noites de grandes luas, quando se ouviam os pios das corujas e os silvos das serpentes que se arrastavam nos campos floridos e perfumados das cercanias do povoado.

A voz da velha senhora se ouvia, todos em silenciosa reverência. Por ser a matriarca e a mulher mais velha dali, todos a respeitavam, inclusive os velhos anciãos e também os que estavam livres dos grilhões da matéria agora...

--Ele era muito bonito. Tinha uma pele escura, morena. Como se fosse assim queimado de sol mas era uma pele também aveludada. Tinha brilho na pele. Sei que quando ele olhava, transmitia uma sensação de poder e glória.

Todos riam e ela dava uma olhada em torno, como se a provocar os meninos e os rapazes que sorriam compreensivos. As mulheres se ajeitavam, as atrasadas entre risinhos se sentavam para ouvir mais uma história a respeito daquele que as visitara há muito tempo atrás...

--No entanto, eu me encontrava em casa pois havia coisas a fazer que eu jamais deixei que fizessem por mim. Tinha de moer os grãos e cuidar das meninas; tinha de molhar as sementes que gerariam os mais deliciosos sabores assim que crescessem suas mudas. Tinha de perfumar a casa para que minha família chegasse, porque era a mais bela das flores dali e sempre coube a mim esta tarefa, para que jamais perdesse minha humildade. Sim, a beleza pode ser um fardo!

Pequenos risos se elevavam da multidão; as que eram as mais belas, as mais cortejadas, as mais voluptuosas, refletiam meneando as cabeças: Sim, a beleza pode ser um fardo. Porque os homens às vezes se sentem mais seguros com uma mulher menos atraente que lhes seja mais fiel ou com aquela que simplesmente torne suas casas mais agradáveis sem exatamente ecnherem seus olhos de uma beleza isnuportável. As mais belas, pensavam todas elas, às vezes estão fadadas à solidão! Um paradoxo.

--A beleza, minhas caras, pode levar à ruína se não for sabiamente utilizada. Se existir por sí, somente por ela mesma sem que algo a mais lhe recubra as capas de ilusória desdita, quando se extinguir, o que sobrará? Só Maya. A ilusão, a grande e falsa realidade criada pelo ego que a tudo sobrepuja, toldando a grande verdade que se encontra oculta dentro de cada um de nós.

Dessa vez eram os sábios, os velhos desdentados, os coxos, os pobrezinhos desvalidos que viviam em choupanas miseráveis que balançavam as cabeças. Tudo é ilusão, tudo é Maya. Tudo, mesmo o mais tenro graveto, tem sua percepção abrandada pelos olhos da mente. Olhamos apenas aquilo que queremos ver, construímos somente aquilo que desejamos; a grande Realidade, esta sim, permanece oculta dentro de nós mesmos, como uma cssca de noz, sem ser perturbada a não ser que nós ousemos encará-la com seriedade e humildade.

--A riqueza também pode ser um fardo. Quanto mais tivermos, mais o nosso ego pedirá. Mais e mais coisas nos cercarão e nunca mais viveremos sem a melhor tàmara, nem sem o melhor pano ou as mais finas jóias, sendo que a mais fina delas jaz em nosso mais íntimo esconderijo; jamais sairemos da prisão inevitável que é a riqueza e as vicissitudes que ela provoca...

Os que assim eram, os mais abastados que ali se dignaram a ir, se entreolharam aturdidos pois como aquela velha mulher assim ousava falar deles abertamente, sem nenhum véu de pudor ou temor? No entanto, ninguém arredava pé de suas histórias, ninguém ousava deixar a pequena ilha formada pela curva do manso rio onde, de quando em vez, se ouviam os peixes pularem(pois que ali sabiam estarem seguros) e pequenos sapos coaxarem de olhos fixos nos mil pirilampos que levantavam vóo em busca de novos parceiros para continuar a saga de sua espécie. Uma ou outra criança apontava o dedo para a margem coalhada de pequenas fosforescências.

--Assim estava eu, mulher jovem, atarefada com o que haviam me designado a fazer, varrendo a casa e espalhando as flores para perfumar os diversos aposentos da linda casa que vivia, por ser eu filha de um rico comerciante da região, sempre convidada a ir às festas...E sempre deixando de ir a elas por amor à minha família, desde que mamãe se fora na pior e mais triste noite daquela casa, vitimada pela febre dos pàntanos que grassava na região por aquela época. Enquanto eu varria a casa, tirava pó das coisas, errumava os pequenos objetos espalhados pelas minhas irmãs menores, ouvi um ruído no jardim que dava para o rio. Pensei que fosse um pequeno roedor, ou talvez uma serpente que eu não ousava matar proque era sagrada. Novamente o ruído se fêz ouvir, um farfalhar de folhas. Eu seguramente não estava mais sozinha em casa. Não temi por mim, sabia que podia me proteger; porém, quem produzia aquele ruído não se mostrava. Pensei ter visto um brilho, como se fora um reflexo da lua na superfície calma do rio. Ou talvez um roçar de metal contra metal. Sem temer, abri a porta que dava para a sacada, acima do rio que carregava làminas de luz para sua foz.

As mais jovens, empertigadas, ouviam atentas. As crianças paravam de se distrair, suas mães as mandavam calar. Os anciãos olhavam atentos suas mãos e os rapazes imaginavam embevecidos o que ela descrevia, talvez com inveja do momento que um dia viveriam ou talvez jamais pudessem viver...

--Ví um lindo jovem. Era seguramente o homem mais bonito que eu já tinha visto. Seus olhos se fixaram nos meus. Na cabeça, havia uma meia lua. Carregava uma serpente no pescoço e em suas mãos um tridente. Sua pele era morena. Aveludada, mais escura que a nossa. Morena, como que queimada de sol. Longos cabelos encaracolados se mesclavam em seu peito e suas pernas formosas tinham a leveza de movimentos de um grande dançarino. Eu abaixei os olhos, o coração aos pulos. Será que eu, uma simples mortal, seria a escolhida por ele? Ele se aproximou de mim, tomou-me o rosto nas mãos e o que senti foi o toque morno e suave da pele de um deus. Ele me forçou a fitá-lo; não pude resistir àquele olhar avassalador. Eu, justo eu, que nunca ia ás festas, que respeitava minha família, que ouvia as palavras dqueles mais antigos, que seria de mim?

Na multidão, notavam-se os olhares das mais belas jovens e das mães embevecidas; as meninas envoltas em roupas coloridas; as garotinhas de respiração suspensa. Os homens jovens, arrebatados pela visão que se lhes assemelhava...Os adultos, os homens mais velhos, os que trabalhavam nos campos, os mais humildes intocados, os liberados da matéria, todos a ouviam. Todos sorviam suas palavras porque sabiam que naquela noite, plena de luz da lua, como se fazia há anos, ela lhes lembrava que um dia, há muito tempo atrás, visitara aquela aldeia o Rei dos Bailarinos.

--Eu me sentei, ao seu olhar imperioso. fitei os seus olhos, que se abrandaram. Ele então deixou seu tridente, colocou a serpente numa árvore próxima, tirou o manto de estrelas que vestia e dançou para mim, como que flutuando, sem tocar os pés em parte alguma, flexionando seu corpo esguio contra o chão, sempre sorrindo para mim, cada vez mais maravilhada com o que eu via. Em determinado momento, ele me convidou a dançar com ele e então, senti que poderia ser a rainha daquele lugar, porque na dança que se seguiu, eu fui para ele o que nunca havia sido até então, a escolhida para dançar sobre as estrelas do Universo.

Todos olharam para cima. Na noite maravilhosa e sem nuvens daquele lugar mágico, miríades de estrelas se adensavam num caminho que todos percorriam com os olhos atentos.

--Desde então, há muito tempo, eu quando acordo de manhã, digo obrigado ao vento que me cerca, à água que flui no rio, ao alimento que sai do solo. Digo obrigado ao deus que dançou para mim e que deixou suas pegadas no céu...

Sábias palavras.



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