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cronicas-->Bacalhau com Vinho -- 02/01/2011 - 19:33 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sei que não é agradável começar a contar assim a coisa toda, mas ontem vomitei muito. Acho que tinha uma coisa estranha no bacalhau ou o vinho talvez azedasse, ou ainda foi aquele mousse. Eu já sei, mas tenho de contar, escrever é uma forma de vomitar idéias, pensamentos, pequenas coisas do dia a dia, não é? Você escreve, a justa forma da palavra enxuta se reveste de um sentido, as frases formam um texto e você convence quem lê do seu oposto, se você tiver a brilhante idéia de escrever frente a um espelho. Sim, eu vomitei e a cada vez que ia ao banheiro lembrava de você, porque sempre me deu engulhos e náuseas essa sua arrogància imperial, essa falsa vista de uma pele que já não lhe serve. Estou absolutamente convencido disto e eu em convulsos movimentos lembro-me de ter ainda um resto de orgulho para disfarçar o que sinto e em educados pulos, chegar ao vaso sanitário para expelir o que ainda me sobra de fluido vital. Que adianta engolir um sapo se ele é indigesto? Ah, as pessoas não gostam muito de falar de bílis, de coceiras que não passam, de dores surdas e estranhas. Preferem falar de coisas agradáveis, ricos ornamentos para suas vidas que se medem em quanto podem ter e não o que podem ser. Eu prefiro a sarna para me coçar; sou adepto de procurar mais embaixo. Daí, a náusea me invade de novo e lembro do ser submerso que me causou esta tempestade esverdeada e de seu humor instável, das falsa aparências e dos suaves murros que você me dava quando sentia que eu talvez virasse o carro na direção errada e talvez batesse na guia, tal o meu desespero de corrigir o mal feito. Não, não é agradável lembrar que da obscura lembrança de uma barriga nasce um milagre que dá náuseas, sempre no início. Já que comecei a contar, tenho de dar um sentido a essa coisa toda. O vinho era de uma boa safra, eu não saberia dizer de quando; jamais soube qual a diferença que uma safra faz em relação à outra. Sei que era verde; o que talvez explique em parte este fenómeno natural que passa pela minha medula e me curva feito um cão raivoso... Sempre comprei briga, nunca fui um santo. Talvez de príncipe eu não tenha nada e você o descobriu a tempo (diferente de outras pessoas que ainda se fiam no que eu digo e faço); Não importa. Saber ser um príncipe sem engolir um batráquio talvez seja o segredo mais importante deste mundo em que vivemos caramba! Tanto é que todos abominam quando você chega com aquela cara de triste no lugar mais alegre do mundo. Tem gente que faz pose, fica blasée, só para contrariar o espírito da coisa e receber os comentários todos depois, como se isto lhes trouxesse um adicional de alma. Que nada, ficam errando na festa com aquela máscara mortuária e ainda se acham importantes. Sei que é bom não contar essa coisa toda, sei que posso me permitir umas divagações a respeito do sexo das tartarugas ou talvez do mantra das baleias. Eu sei disso. Mas tinha de introduzir o assunto, que o resto fica por conta de vocês, eternos debatedores da moral alheia, especialistas em escarafunchar os sentidos mais profundos na mais bela tas tolices. Ninguém gosta de ouvir um pouco que seja da verdade, ninguém. Não conheço ninguém, está me ouvindo? Nunca fui de boa safra mesmo, de príncipe eu virei um sapo faz tempo, que é o que todos abominam afinal, feito um cão raivoso no lugar mais alegre do mundo. Ricos ornamentos de uma triste era, sei que nunca é bom provocar assim as pessoas. Dá náuseas, elas se irritam e talvez até parem de ler; Sei que era verde o que eu sentia por você e não era bílis.

Maldito bacalhau.
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