Era uma véspera de Natal chuvosa e eu saí do meu trabalho as 19:30. Então peguei o microónibus que estava lotado, principalmente, de pessoas carregadas de compras natalinas. Logo reparei que havia uma menina brincando com aqueles cartões musicais "made" em China. Toda a vez que esta criança abria o cartão tocava a música Jingle Bell da forma mais desafinada possível. Então pensei:
- Serei obrigada a escutar esta música a viagem inteira?!
De repente, antes do ónibus partir, subiu uma mulher estranha: com shorts de "funkeira" e top digno de uma "maria-chuteira". Apesar da forte tempestade esta moça não parava de se abanar com as mãos. Desta maneira, após dez minutos de viagem, a encalorada abriu o pequeno capó na parte da frente do ónibus. Assim gotas de chuva começaram a cair nas pessoas. Mais dez minutos depois, a mesma dama que parecia estar dominada por um encosto de bicho-carpinteiro, foi até a parte de trás do coletivo e parou em pé ao meu lado. Ela olhava para o capó da parte de trás com intenção de abri-lo. Porém eu encarei a mulher com olhar de reprovação. Então a jovem percebeu que eu não queria que ela abrisse a pequena estrutura. Assim toda a vez que as mãos da dama encalorada escorregava para o capó de trás, eu fazia uma careta. Numa destas escorregadas, cheguei até a colocar o capuz da minha japona na cabeça para ver se a tal encalorada se mancava. De repente, o senhor que estava sentado na minha frente desceu. Deste jeito eu, que estava de pé, fiz sinal para a dama, do rabo quente, sentar e graças ao Papai-Noel ela sentou. Desta forma pensei que o único transtorno que eu enfrentaria naquele coletivo seria escutar a canção Jingle Bell do cartão musical que a menina não parava de abrir e fechar.
Porém o problema não tinha acabado, pois no banco em frente à moça encalorada, uma senhora tentava amamentar uma criança. Mas o bebê não conseguia fazer com que sua boca acertasse o bico do seio. Como o ónibus balançava demais a cena não deixou de ser patética. O pior é que no meio de tantos balanços e freadas, a mulher ao tentar colocar o seio na boca do filho, acabou espirrando leite materno na minha japona. Confesso que senti um grande nojo. Após isto ela virou a criança para trás, que acabou vomitando e espirrando o liquido na minha roupa, novamente, ao som de Jingle Bell de cartão musical.
Aquela viagem durou mais meia-hora então, quando cheguei ao meu ponto, refleti:
- Hoje fui uma verdadeira sardinha de Papai-Noel!
Ao chegar na minha residência me alimentei, fiz as tarefas domésticas e me deitei. Porém quando eu tentava pegar no sono, aquela melodia de Jingle Bell desafinado não saía da minha cabeça.
Luciana do Rocio Mallon