Receber um convite de uma agência de São Paulo para trabalhar como modelo, aos trinta e dois anos, mexeu com Liz. Ela é casada e tem um filho de seis anos, não se imaginava fazendo isso a esta altura de sua vida. Ela fez alguns trabalhos na região de Ribeirão Preto até seus vinte e quatro anos. Mas agora?! E em São Paulo?! Não, ela não pensava nisso. No início pensou em descartar a possibilidade, mas o pessoal da agência insistiu e ela decidiu tentar.
Seu marido a apoia, disse que ela deve sim ver se dá certo.
Ela é professora e tem medo de deixar suas aulas para se aventurar nessa profissão incerta com a idade que tem. Mas passar por isso sem ao menos tentar... Colocou sua insegurança para os responsáveis pela seleção das garotas, sim, as selecionadas têm no máximo vinte e cinco anos, Liz é a mais velha. O que eles disseram é que ela tem perfil para trabalhar bastante, mas como não quer se mudar com a família, assim como sugeriram, pode aproveitar as férias de julho para ver se dá certo, pois em janeiro não aparecem trabalhos.
Liz explicou sua situação no colégio onde trabalha com esperança de conseguir conciliar as duas coisas. Ela pode deixar algumas aulas, concentrar as outras em três dias da semana e viajar nos que tem livre. Mas as conversas atravessadas já surgiram, claro. Ela ouviu que essa história de modelo pode resultar em separação! O que é um absurdo. Não sabem como são as coisas e falam! Seu marido sabe o que pode lhe tirar Liz. Não vê perigo nisso. Não tem preconceito. E Liz já sondou para ver se a agência é séria. Só obteve boas informações. Estão tranquilos. Não será a nova profissão ou um modelo bonitinho que fará Liz deixar tudo. As pessoas não sabem o que falam. Esse é o problema.
Liz não tem ilusões, é até um tanto negativa. Não se imagina fazendo caras e bocas para uma sessão fotográfica. Não sabe se suportará as exigências. Pensou, mais de uma vez, em ficar como está. Pode ser que até julho ela ainda desista. Mas, no momento, ela pensa que não pode chegar aos cinquenta, se Deus permitir que ela viva até lá, olhar para trás e pensar: nem tentei.
Como disse um amigo seu, escritor muito inteligente, em um de seus textos: "... chute todas as bolas que puder... "
E é o que ela pensa fazer, chutar essa bola, se vai fazer um gol ou não...
