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Cronicas-->Olhos miúdos -- 04/11/2010 - 18:38 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O gotejar contínuo o desagradava. Ping, ping, ping, contínuo. Os seus olhos vasculhavam o teto, à busca do inseto maldito que o apavorava. Da última vez que a vira, cheia de pernas, as antenas de pé, os olhinhos astutos, perscrutadores, ele se agitara inutilmente. Os outros já sabiam destes períodos dele, até porque ninguém lhe dava importància.

Ele era um corpo inerte. Nada nele importava. Ele apenas respirava, ou melhor, o aparelho respirava por ele. Era incrível como ele tentava dizer algo: O mais que conseguia era peidar. Daí o xingavam de gambá.

--Ufff, parece um urubu.
--Gambá, isso sim.

Viravam-no de lado, limpavam seus excrementos e tudo o que ele queria era falar algo. Dizer algo, fazê-los sentir como se sentia apavorado com o inseto que sempre na mesma hora, na calada da noite, aparecia em seu campo de visão, grudada ao teto, cheia de pernas. Ele podia divisar os pequenos pelos eriçados nas ranhuras do corpo e das asas.

Ela devia se divertir, porque era no silêncio que ela se vingava. Dava um jeito de sair de sua toca, descer lentamente pela parede, gorda e satisfeita e olhar a todos que ali jaziam, elevando suas antenas marrons e sondando o ambiente a todo momento. Assustadiça, esperta, fétida, malemolente. Ela descia. Ele sabia que era a hora deserta, porque ouvia os roncos, os silvos dos respiradores, o ressonar dos atendentes.

Ela o olhava, três horas da manhã (um rádio ao fundo, baixinho, denunciava a hora em sons altos e baixos, cheio de estática) e ela surgia. Ele não podia dormir, não agora que ela o mirava. Um tremor de nojo o sacudia , ele não podia deixar de sentir asco.

--Lá vem ele de novo!
--Ê, gambá do caraca.

Não, esperem um pouco, ela está ali, perto de minhas pernas. Já andou com suas pequenas patas sobre meu corpo inútil. Já se deleitou com minhas secreções, já sugou meu néctar. E vem de novo. Deixem-me em paz.

--Que há com esse cara?
--Sei lá. Nós jogamos muita pedra na cruz.
--Sabe que eu pensei muito nisto? Devemos ter sido muito, muito maus! Esse camarada fica mole feito uma geléia, agita toda hora, fica causando...
--Causo sério!(risos). Dá sister morphine.
--Fã dos Stones hein?
--Velhos de guerra. Outro dia Keith falou que ele é um exemplo para as novas gerações, e que a droga faz bem à saúde. Fumar faz bem! Veja, esse aqui não fazia nada e do nada virou gelatina...(risos)
--Putaqueopariu, quem peidou?
--Adivinha!

Não, desta vez juro que não fui, saiam para lá com essa seringa, ela me deixa tonto...A barata maldita cresce, fica colorida e em suas asas eu vejo o destino do Universo, as ranhuras escondem a supercordas, seus olhinhos são pequenos buracos negros que sugam as almas dos moribundos...Não, as ondas invadem a praia de minha infància, ondas de seis metros de altura, uma parede branca de espuma varrendo casas...prédios...barcos...redes de pescadores cheias de sereias mortas, golfinhos trepando com moças nuas...Não, não.

--Aquietou.
--Que porra é essa?
--Fico pensando.
--Era dentista, não?
--Era.
--Nunca mais ele faz um sofrer(risos).

O som do rádio agora anuncia: A nova música do Sibemol e Sizenando.
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