Parada em frente a uma padaria no bairro Jardim Paulista, aqui em Ribeirão Preto, enquanto espero meu irmão, que compra um lanche para a tarde, vejo uma mulher se aproximar de um homem que, embora mostre semblante alheio, imagino estar com ela. Noto que ele faz um gesto de negação com a cabeça, mas não entendo bem o que se passa. A cena é obscura para mim.
A mulher de rosto triste e cansado, talvez cansada de tristezas, volta para a padaria, de onde sai uma criança, que apresenta uns seis, sete anos, chorando desesperadamente. O menino grita sua sede e faz-me entender: sua mãe pediu dinheiro à quele desalmado para lhe comprar água. E o que foi que ele fez? Negou!
Como se fosse o filho seu fardo mais pesado, a mulher começa a arrastá-lo pela mão e, querendo competir com o pequeno, grita mais: eu não tenho dinheiro! De quebra, ainda dá uns safanões no pobrezinho! Ele tem sede, meu Deus!
Já estou agitada, quero interferir, no entanto como fazê-lo? Demoro um pouco para organizar minhas ideias e pedir, de dentro do carro, para que o Raul, meu irmão, compre rapidamente uma garrafa de água para mim. Ele me traz a água e eu dou partida em busca da mulher que vai para o ponto de ónibus da esquina. Quando chego ao ponto, vejo a mãe com o filho, ainda chorando de sede, embarcar!
Olha, meu coração parou de doer faz pouco, viu! Fiquei com tanta raiva... Raiva de não ter compreendido logo o que se passava. Raiva do homem que negou o dinheiro, que eu tenho certeza: não lhe faria falta. Raiva da mãe que não pediu água da torneira na padaria. Raiva das balconistas que não ofereceram água, da torneira que fosse, para o menino. Raiva do meu irmão que não viu nada disso acontecer. Raiva do motorista daquele ónibus que chegou antes de mim...Uma raiva infinita.