Usina de Letras
Usina de Letras
22 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62280 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50667)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6207)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Semiologia aplicada ao texto -- 26/06/2003 - 15:40 (Paulo Machado da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA





Trabalho de Semiologia





Professora Maria Geralda





Por Paulo Machado da Costa













Rio de Janeiro



2003









INTRODUÇÃO



Este trabalho tem como objetivo analisar o conto O homem que sabia javanês, do escritor Lima Barreto, à luz da Teoria Semiótica do Texto, estudo empreendido pela professora Diana Luz Passos de Barros, do Departamento de Letras da Universidade de São Paulo. A seguir, um breve relato da vida do autor do conto.



Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 13 maio de 1881 no Rio de Janeiro e faleceu em 10 de novembro de 1922 na mesma cidade. Iniciou os seus estudos primários com sua mãe, que era professora.

Aos 7 anos de idade, por morte de sua mãe, entra para a escola pública. Ingressa posteriormente no Liceu Popular Niteroiense, e depois se matricula no Colégio Pedro II. Tornou-se bacharel em Ciências e Letras. Este curso foi custeado pelo Visconde de Ouro Preto, que era seu padrinho de batismo. Em 1903, por ocasião da loucura de seu pai, teve que abandonar a Escola Politécnica no terceiro ano, para assumir os deveres de chefe-de-família.



Foi professor particular e depois funcionário público na Diretoria do Expediente da Secretaria da Guerra, deixando estas funções em virtude da desordenada boêmia a. que se entregara, o que lhe arruinou de forma prematura a saúde, com indisfarçáveis reflexos em sua carreira literária. Ainda assim, colaborou com assiduidade na imprensa carioca.



Candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, tendo obtido apenas dois votos. De dezembro de 1919 até fevereiro do ano seguinte, esteve novamente em tratamento no Hospício Nacional. Se candidatou mais uma vez ao prêmio da ABL, com a "Vida e Morte de M J Gonzaga de Sã". Obteve menção honrosa, e acabou falecendo, vítima de um colapso cardíaco.







ANÁLISE TEXTUAL





O texto será analisado sob três níveis, a saber: nível fundamental ou das estruturas fundamentais; nível narrativo ou das estruturas narrativas e o nível do discurso ou das estruturas discursivas. Começaremos pelo nível fundamental:



No nível fundamental teremos as oposições semânticas que ordenam de forma geral as diferentes idéias do texto, por exemplo: vida versus morte, bom caráter versus mau caráter etc.



No conto em questão, o senhor Castelo começa a narrar a sua história ao amigo Castro em uma confeitaria, dizendo que embora fosse bacharel, era preciso aplicar os mais variados golpes para poder viver em um “Brasil imbecil e burocrático”, onde a pessoa obtém empregos por indicação de outras mais influentes na vida nacional, revelando uma tensão entre espaços sociais: de um lado o poder; de outro, a falta de oportunidades e a miséria (o senhor Castelo vivia trocando de pensão, sem dinheiro). O personagem principal deseja “poder viver” bem, de uma forma digna, saldando suas contas, mas para isso, opõe a necessidade de pregar “partidas” às “convicções” e “respeitabilidades”. Entende-se como partidas, o engano, as mentiras, o seu lado malandro, que objetiva o dinheiro que o mundo burguês tem, representado pelo barão de Jacuecanga, um homem rico e respeitado pela sociedade. Aqui se pode identificar as primeiras oposições semânticas do texto: verdade versus mentira, honestidade versus desonestidade, pobreza versus riqueza.



Outra oposição que se pode analisar é o ser versus o parecer. O senhor Castelo é um bacharel, enganador, vigarista, apenas conhecendo o alfabeto e pouquíssimas expressões em javanês, mas apresenta-se ao barão como um respeitável, pobre e jovem professor de javanês; constrói sua vida através de mentiras, almejando possuir riqueza O barão é um velho, nobre e rico senhor, provavelmente por herança, que pode significar o pouco esforço para vencer na vida; apesar de tudo isto está infeliz, estagnado e deseja adquirir a felicidade através do que ele considera um “talismã”, o manuscrito em javanês, passado de geração em geração, que ele não consegue ler. Estas duas personagens revelam contrastes sociais e acabam interagindo, um ajudando o outro, numa troca de favores mútua e progressiva: um tem a malícia e obtém a riqueza; o outro tem dinheiro, poder e respeitabilidade e ganha “alma nova” com as “aulas” de javanês.



Segundo a professora Diana Barros, as “categorias fundamentais são determinadas como positivas ou eufóricas e negativas ou disfóricas”. No conto, observa-se que inicialmente Castelo considera errada a vida que levava, sentindo remorsos por enganar o barão; mais tarde, quando conta sua história ao amigo, seu ponto de vista parece ter mudado: no fundo desejara “arranjar belas páginas de vida”, num mundo de “aventuras” e “uma vida bem engraçada”, em oposição ao “Brasil imbecil e burocrático”. Assim, a mentira – as “partidas” – e a aparência que levava acabam recebendo uma avaliação positiva diante das malandragens que fazem com que enriqueça e se torne famoso naquela sociedade.



No nível narrativo organiza-se a narrativa, do ponto de vista de um sujeito: o sujeito, Sr Castelo, tem como ação a mentira e a enganação, justificando-se isto pelo segundo parágrafo do texto em que esconde as suas qualidades de bacharel, objetivando mais confiança dos seus clientes como adivinho e feiticeiro, mais tarde passa-se por professor de javanês com as mesmas intenções. Ao ver que o homem a ser enganado é um idoso, sente remorsos, pensa em retroceder, porém resolve continuar com o seu plano ambicioso: “Tive vontade de ir-me embora. Mesmo se não fosse ele o discípulo, era sempre um crime mistificar aquele ancião, cuja velhice trazia à tona do meu pensamento alguma coisa de augusto, de sagrado. Hesitei, mas fiquei.”



Neste nível “os elementos das oposições semânticas fundamentais são assumidos como valores por um sujeito e circulam entre sujeitos, graças à ação, também de sujeitos”. Trocando em miúdos, não se trata mais de afirmar ou de negar conteúdos, de garantir a mentira ou de recusar a pobreza, mas de transformar, pela ação do sujeito, esses estados. Assim:



. Enunciados de Estado: “é estabelecida uma relação de posse ou de privação entre um sujeito e um objeto qualquer”. No conto, Castelo não é rico. Temos um sujeito Castelo em relação de disjunção com o objeto riqueza. A transformação, segundo Fiorin, é a mudança de relação entre sujeito e objeto, o que acontece neste conto.



. Enunciados de Ação: “São aqueles em que, em razão da participação de um agente qualquer, indicam a passagem de um enunciado de estado para outro”. No texto, Castelo realiza uma série de ações para mudar o seu estado inicial. Vai à biblioteca para procurar um livro sobre javanês, e descobre que a ilha de Java pertence ao arquipélago de Sonda, colônia Holandesa. Aprende o alfabeto inteiro, a sua pronúncia figurada e algumas expressões idiomáticas em javanês. Apresenta-se como professor do tal idioma, dizendo que realizou seus estudos na Bahia, e era filho de um próspero comerciante de origem javanesa, ludibriando o barão em uma época difícil de se confirmar a veracidade de quem chegava à sua porta. Consegue o emprego como professor de tal idioma, graças a um texto em inglês do livro (o “malandro” é letrado), tem depois o seu salário aumentado devido às histórias que inventa. Dizendo que está traduzindo o livro, vai morar na casa do barão, que lhe consegue um emprego na diplomacia. Quando o barão falece, deixa-lhe uma herança. Graças a ela, Castelo viaja para congressos, é nomeado cônsul e mais tarde segue para Cuba, a fim de dar prosseguimento aos seus estudos das línguas da Malaia, Melanésia e Polinésia, conseguindo assim fama e fortuna. Afirma para o amigo que poderia ser, se desejasse, um bacteriologista eminente, provando que a mentira vale mais que a verdade.



Segundo a apostila da Professora Geralda, um texto é formado de vários enunciados que podem ser agrupados em quatro fases distintas: manipulação, competência, performance e sanção. Na manipulação, “um personagem induz outro a fazer alguma coisa”, por vontade ou dever. Na competência, “o sujeito do fazer adquire um saber e um poder”. Na performance, o sujeito do fazer executa a ação. Na sanção, “o sujeito do fazer recebe castigo ou recompensa”. O sujeito do fazer é o Castelo, que não é manipulado por ninguém, antes manipula um saber que não possui, enganando o barão e a própria sociedade, que passa a acreditar nele. Castelo não tem a competência lingüística requerida pelo cargo, ainda que estude, mas tem competência para ludibriar os outros, ou por ser esperto e inteligente, ou por a sociedade ser constituída de pessoas tolas, imbecis, ingênuas ou movidas apenas pela aparência. Ele realiza a performance: burla, adia, foge, não responde aos compromissos. Não enfrenta situações que poderiam desmascará-lo. Ilude, persuade, sendo aceito e reconhecido pelas outras pessoas. Termina recebendo a recompensa.



No nível do discurso, “as estruturas discursivas devem ser examinadas do ponto de vista das relações que se instauram entre a instância da enunciação, responsável pela produção e pela comunicação do discurso, e o texto-enunciado. (...) As oposições fundamentais, assumidas como valores narrativos, desenvolvem-se sob a forma de temas e, em muitos textos, concretizam-se por meio de figuras”. No texto, percebem-se dois eixos: o primeiro é a história vivida no passado entre Castelo e o barão; o segundo é a história contada por Castelo a Castro.



No primeiro, Castelo é um personagem que faz das malandragens o seu meio de sobreviver num país sem grandes perspectivas, burocrático, aplicando “golpes aqui e ali” onde as vítimas são pessoas ignorantes ou ingênuas, a ponto de serem enganadas. Quanto ao barão, deveria ser uma pessoa de grande cultura para que não fosse ludibriado com tanta facilidade. Porém, o sofrimento na terceira idade, a dor, a amargura e a esperança de dias melhores fazem dele uma vítima fácil para o homem que sabia javanês.



No segundo, Castelo narra ao seu amigo Castro, em uma confeitaria, toda a sua forma de viver, aplicando golpes e se achando o máximo, dizendo “– Olha: se não fosse estar contente, sabes que ia ser? - Que? - Bacteriologista eminente. Vamos? - Vamos.”



Em “O homem que sabia javanês”, utilizam-se recursos discursivos para fabricar a ilusão de verdade. A história é contada por um narrador em primeira pessoa (eu) a um amigo que a conhece parcialmente e que endosa a vida levada pelo Sr Castelo, quando diz que poderia ser bacteriologista eminente, mesmo sem ter formação para tal.



No conto, desenrolam-se várias leituras temáticas: o tema da luta pela sobrevivência; o tema da mentira prevalecendo sobre a verdade; o tema de uma sociedade que valoriza a aparência em detrimento da essência do ser.



Esses temas concretizam-se por meio de figuras, criando um efeito de realidade através da “construção de uma cena real, com pessoas, animais, cores, etc., apresentando assim o mundo no texto”, segundo a apostila. No conto, temos o espaço da confeitaria, onde acontece a conversa entre Castelo e Castro, ambos bebendo cerveja; as perguntas do amigo, interrompendo a narração de Castelo, criam também um efeito de realidade, fazendo com que o leitor não se esqueça de que aquela história está sendo narrada em uma mesa, a goles de bebida. Ao contar a sua aventura, Castelo vai configurando o cenário, os diálogos, a biblioteca, as ruas por onde precisa caminhar até chegar à Conde de Bonfim, o velho calhamaço “encadernado em couro, impresso em grandes letras, em um papel amarelo e grosso” que o barão desejava ver traduzido.







CONCLUSÃO





Analisar o conto O homem que sabia javanês, do escritor Lima Barreto, à luz da teoria semiótica do texto permite múltiplas visões, várias formas de interpretação como, por exemplo, dependendo da visão do leitor, o Sr Castelo está corretíssimo, aplicando golpes para levar a vida em diante. Para outros, um malandro, estelionatário, aplicando contos do vigário e que mereceria uma sanção como resultado de todas as suas mazelas.









BIBLIOGRAFIA





MIRANDA, Maria Geralda. Apostila de Semiologia (Coletânea de Textos), UNISUAM, 2003/1.



BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria Semiótica do Texto. São Paulo: Ática, 2002.



FIORIN, José Luiz. “A Noção de Texto na Semiótica”. In: Organon/URGS, Instituto de Letras. Porto Alegre: Faculdade de Filosofia, 1995. vol. 9, nº 23.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui