Não me orgulho em dizer que não sou cinéfila. Mas não sou. Porém, descobri que um dos meus maiores medos eu devo ao Steven Spielberg.
Na minha infància eu assisti, ingenuamente, várias vezes ao filme Tubarão. Digo que assistia com ingenuidade porque ignorava os meus futuros pesadelos com esse temido animal.
Meu medo começou quando ainda criança. Se brincando na piscina alguém dissesse que era um tubarão e vinha para o meu lado, eu saía rapidinho da água.
Mergulhar em uma piscina que tenha uma boia baleia eu não mergulho até hoje. Você deve ter se perguntado agora: não era medo de tubarão? Era. É. O problema é que eu não suporto bem o que vive no mar. Suporto mal. Às vezes não suporto. A sensação de passar embaixo dessa boia é horrível! Você já experimentou? Graças a Deus nunca vi uma boia tubarão. Agora me recordo de ter visto, uma vez, voltando da praia, em uma loja, umas toalhas enormes penduradas, que tinham como estampa quem? Ele mesmo. Eram estampas bizarras. Saí da loja em pànico(mas sem alarma), parecia que sairiam das toalhas para me atacar. Isso é horrível!
Eu entro no mar, só que não abuso. Não deixo a água cobrir meu corpo todo. E procuro não pensar, o que não quer dizer que eu consiga sempre.
Um dia comentei com uma psicóloga da família que eu já cheguei a jogar uma revista no chão ao ver a imagem de um tubarão com a boca aberta. Ela disse que esse bicho está dentro de mim!
Sei que pirei de vez faz um mês. Fui ao cinema com meu marido e meu filho para assistirmos ao desenho "Meu malvado favorito". Há um personagem que tem em sua casa um enorme aquário. Dentro desse aquário passeia tranquilmente um tubarão. É sinistro, sério. Tentei me poupar das cenas, mas não deu certo. O que vi foi suficiente.
Suficiente para que depois de uma semana eu passasse por uma situação patética, que eu decidi dividir. Meu marido pediu para que eu fosse ao subsolo pegar uma pasta em seu carro. Era noite já. Eu fui sossegada. O problema é que, quando saí do elevador, as luzes da garagem não se acenderam. Apenas uma luz vermelha acendeu-se na minha cabeça me dizendo que era para eu tomar cuidado com o tubarão! Pasme. Eu fiquei com medo de ir do elevador até o carro no escuro. Não conseguia dar um passo. Travei. Fiz movimentos com os braços para ver se alguma luz clareava um pouco aquele aquário, ops, aquela garagem... nada.
Voltei para meu apartamento sem a pasta do João, que me perguntou o que tinha acontecido, pois meu rosto me entregava. Ele riu muito ao saber. Foi ele buscar o que queria.
Depois aconteceu de novo. Quando o João viaja eu guardo meu carro no prédio. Meu filho quis leite e eu tinha esquecido de comprar. Pedi para meu irmão, que estava em casa comigo, ficar com ele que eu ia ao mercado. Era noite... Novamente eu não consegui me aproximar do carro. É incrível, eu não tirava a imagem daquele bicho passando no aquário. Vinha também aquela clássica cena do filme, ele emergindo da água pronto para abocanhar quem estivesse à sua frente. Nesse caso, eu. Fiquei com medo do que a minha cabeça foi capaz de criar. Lembrando a amiga psicóloga: onde é que está esse tubarão?
Meu irmão desceu para que eu pudesse sair. Ridículo! Quando voltei, deixei o portão aberto até chegar ao elevador, aproveitei a luz da rua com medo de que as luzes da garagem falhassem e com esperança de que o tubarão resolvesse sair para dar uma volta e se perdesse pelo centro de Ribeirão Preto. Ele só não poderia se esconder no Colégio Metodista, onde eu trabalho.
Contei essa história para um amigo que trabalha comigo, o Cleido. Ele me disse que já sentiu medo de tubarão em um lugar improvável, num rio. Eu brinquei dizendo que pelo menos no medo dele tem água, e o meu que é numa garagem!
Agora eu pergunto: quem é que vai tirar de mim o tubarão que o Steven Spielberg colocou? Sim, porque ele fez toda uma geração pensar duas vezes antes de colocar um dedo no mar, foi o que li no meu livro "1001 Filmes para ver antes de morrer", e fez também que uma criança se tornasse mulher com medo de tubarão na garagem de um prédio!
