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Cartas-->POR QUE A POESIA FICA SEMPRE NO RODA PÉ DAS LIVRARIAS? -- 13/09/2005 - 23:03 (Edmir Carvalho Bezerra) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Escrevo agora sem rascunhos. Não vou colar texto. Estou digitando direto, só para vê o que vai sair.

Mas a pergunta é a poesia. Reparem como nas fileiras dos escritos elas não se erguem como primeiras, como mais lidas, no entanto há tantos que se manifestam em preferência por poetas. Ah! para mim o melhor é Vinicius de Moraes, disse a mim outro dia uma leitora amiga. Eu falava de Mário Quintana, fez uma carinha sem coragem de dizer que nunca o lera. Quando se publicou o único livro de poemas de Guimarães Rosa "MAGMA", enlouqueci, três dias depois o livro estava em minhas mãos, vindo direto de Belo Horizonte.

Coleciono todos os poemas de Fernando Pessoa e há quem não consiga lê-lo. Outra no noite fui tomar água de coco e dei com o poeta que vende livros na praça - acho que toda cidade tem um, assim como toda cidade tem uma padaria chamada UNIÃO ou um barco ancorado no cais onde se lê DOIS IRMÃOS, a excessão das cidades que não possuem cais, que falta de solidão - o poeta me dizia que Thiago de Melo é o maior poeta brasileiro, fiquei sem o que dizer, pois o leio muito pouco. Insisto em Pablo Neruda, em Ilton Ribeiro (desconhecidíssimo)esse é dos melhores, é quase meu irmão, a respeito dele tem um defeito perfeito para poetas. Leu Sartre demais e anda pensando suicídios deliciosos. Cada vez que toma a decisão de se suicidar, sempre me liga e me presenteia com um belo poema. Fico sempre torcendo pelo próximo suicídio do Ilton, que, aliás, ultimamente não tem se suicidado. Quando meu telefone toca às duas da manhã, já sei que é ele se suicidando. Eu sou o guardador de seus poemas.

Triste, tristíssimo mesmo foi minha tentativa de venda de meu livro DIZERUDITO a uma jovem - não gosto de poesia, isso é coisa meio gay! - falou alto em público. Silenciei com tanta pena de vê-la ali em alto som, assinando publicamente seu atestado de iletração.

Entro na livraria, procurando um livro de poema "O homem e sua Hora" de Mário Faustino e tenho que ficar de cócoras porque a poesia está rés ao chão, lá por cima os auto-ajuda, que só ajudam os que os escrevem, a embolsar seus níqueis de ouro. Não é ciúme, nem inveja, não quero deixar ninguém sem sua razão, mas da razão à lucidez, bem, aí são outras quilometragens.

A poesia que a um só verso faz descarrilhar um trem, faz mudar as estações, vive quase ao chão, talvez porque seja dali que se ergue e não a entende quem empina o nariz, expreme os olhos, buscando algo além - eu não entendi o que quer dizer esse poema - já ouvimos isso. Quando ouço, digo só comigo, graças a Deus, não entendeu. Nunca encontrei um poeta pedindo para ser entendido, vi poetas tentando enteder a si mesmo e o mundo dos homens.

Lê um poema é tão fácil, mas daí a vê-lo é outra história, é preciso ter os pés no chão. É preciso cismar, cismar, cismar para encontrar a imagem ali dentro dele, em algum lugar do poema há uma imagem, essa imagem é a poesia do poema. Pode esfregar o poema contra os ouvidos, não adianta, não vai sair nada.

Não obstante, para mim o gênero conto ser dos mais difíceis, a poesia é dos mais dolorosos, exige engenhosidade, paciência. Todos sabemos em quanto tempo foi escrito o romance "Amor de perdição". Pergunto-me sempre quanto tempo Saramago levou escrevendo "Todos os nomes" ou Gabriel Garcia Marques "Cem anos de solidão". Certamente algum tempo, mas quando se pega o ritmo as coisas vão fluindo e é questão de passar ao papel, depois a revisão, romance nas mãos.

Poesia? paciência, procura, palavra, parole, rascunho, rabisco. Não, a imagem ainda não é esta, a palavra pefeita ainda não veio, a metáfora está sem brilho, sem lapidação. Volta ao começo, recomeça, de volta ao nada no nada nas mãos, fica para amanhã. Está bem aqui, diante de meus olhos, mas não sai, não desabrocha, que agonia, que nascer doloroso. Quando nasce fica rés ao chão.

Por isso ao entrar em livrarias, reparem que há em todas, sem excessão, jardins de poemas pelo chão.

Edmir Carvalho Bezerra
Poeta do DIZERUDITO
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