Iludam!
Se quiserem,
com os licores que amiúde a vida lhes traz.
Ou talvez,
com as flores,
que do passado não voltam mais.
Iludem-se!
Deixem a vida
escorregar por entre os dedos
e em sarcásticos sorrisos ou em delírios de insanidade,
façam uso da reminiscência
com os seus contos de martírio ou laboriosas anedotas.
Iludem-se:
com os sonhos, os versos
ou com o timbre de uma nota mais grave
que o brilho da orquestra toca em grandes enlaces.
Depois,
quando o véu for retirado
e vier a lembrança
estará lá a sua companheira,
a doce ilusão.
E perguntarão seus descendentes:
- O que é a vida?
E diante dos infrutíferos anos,
só lhes restarão responder
que são vagos momentos,
vividos concretamente no âmago da memória.
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