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Cartas-->CARTAS DE BRASÍLIA -- 06/09/2005 - 10:23 (Hull de la Fuente) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Querida Verinha,

São lindos os ensinamentos contidos na sua mensagem. Tomara, pudéssemos gravá-las nas nossas memórias. São palavras cujo significado deveríamos usar como adorno, ao pescoço, como está dito lá em Provérbios. Eu mesma acabo de chegar à minha sala de trabalho e aqui encontrei a moça da faxina, viu? "A moça da faxina"... Confesso, não é por desprezo ou mesmo por falta de educação, reconheço que a vida nos leva a agir desta forma impessoal com todos. As pessoas não são mais identificadas por seus nomes, mas pelo que elas fazem. Eu mesma não tenho mais nome para muita gente, sou apenas a secretária do chefe de gabinete. No prédio onde moro, sou a vizinha que ao piano só sabe tocar “Pour Elise”; "a cheirosa". Sim, uma vez minha irmã tomou o elevador e o filho da vizinha do quarto andar, também entrou. O garoto, ao vê-la tocar o botão do 3º andar, exclamou: "você vai pra casa da cheirosa?" Curiosa, minha irmã perguntou por que ele me chamava daquele modo. A resposta veio sem hesitar: "Porque ninguém sabe o nome dela, mas quando ela entra no elevador o perfume fica. É por isso que nós a chamamos cheirosa". Viu só? Aqui em Brasília, particularmente, este comportamento se acentuou muito. Eu também não sei os nomes dos meus vizinhos. O pior é que quando preciso me referir a alguém, costumo fazê-lo por suas características. “A peituda do 6º andar”, “a viúva do tartaruga”, “A cantora lírica”. Aliás, a cantora lírica alegra o prédio com seus cantares, eu gosto dela. Até a senhora viúva é muito simpática, mas o falecido era uma besta, também o que eu queria? Tartaruga não fala. Tinha também o “Sr. Porrada nos Cornos”, um homem violento que além de ameaçar, realmente dava “porrada”, nos filhos e na mulher. Às vezes eu faço propósitos comigo mesma de ser mais próxima, mais chegada aos meus colegas, às antigas amizades... Mais sabe o que acontece? Ocorre um fenômeno muito atual, se você toma a iniciativa de procurar alguém, pelo telefone mesmo, a pessoa se desculpa, diz que a vida está muito corrida, que seus afazeres dobraram depois da aposentadoria, que mal tem tempo de falar ao telefone. Ninguém tem mais paciência ou prazer em ouvir a voz de um amigo, é o que parece. Será que foi a informática que destruiu, irremediavelmente, os laços de aproximação? Por que falar ao telefone se um e-mail resolve? O pior é que nem os e-mails são escritos por nossos amigos, são sempre mensagens com frases feitas, repetidas desde que o mundo é mundo. Os amigos mais “prolixos” ainda escrevem: "REPASSANDO”, e basta. Está feita a cordialidade. Assim ficamos sabendo que a pessoa ainda vive. É apenas um novo modo de viver e nos consolamos dizendo a nós mesmos: pelo menos o(a) fulana(o) ainda pensa em mim. É um consolo? Não sei. Eu gosto tanto de gente. É tão bom escrever nossas próprias mensagens, é tão bom ler o que um amigo escreve. Nada se compara à troca de notícias do dia-a-dia. Ainda que sejam coisas corriqueiras, como as tolices que eu disse acima (risos). Se não tem assunto, conte, por exemplo, que a receita do bolo não deu certo, que o cachorro fez xixi no tapete arraiolo que a mãe tão carinhosamente teceu, que no trânsito foi chamada de barbeira, que o cara a mandou ir pra cozinha... Essas velhas coisas que fazem à diferença de cada minuto de nossas vidas.

Verinha, querida, você deve estar se perguntando o que aconteceu comigo, por que estou chata, não é mesmo? Não se preocupe, não aconteceu nada de diferente. Talvez, hoje seja um daqueles dias que, motivada pelo conteúdo da mensagem que você me enviou, veio essa vontade de dizer coisas que ficam caladas, guardadas no fundo da gente. Mas eu estou bem, um pouco mais gorda, mas estou bem. Deixa ver que mais eu fiz que você ainda não soubesse: ah! Fiz cirurgia de cataratas, foi um saco, achei que ia ficar cega (risos), agora tá passando. Sabe aquele tratamento de dentes, caríssimo, que eu fiz durante todo o ano passado? Pois é, já começou dar problemas, dinheiro e tempo jogados fora. Estou pendurada e totalmente dependente do cheque especial, bom né? Sócia do BB.

Sonhos? Sim ainda tenho sonhos. Principalmente um dia voltar a Europa. Mas como? Só se eu me candidatar a algum cargo político. Sim, os políticos são as únicas pessoas que têm dinheiro. Tudo pra eles sai de graça, até os selos das cartas que eles nunca enviam (mas embolsam o dinheiro correspondente). Cruzes! Me deu enjôo.

Querida Vera, por hoje eu já aluguei você demais. Obrigada por ler minha mensagem. Você chegou até aqui? Então parabéns! O mundo não está perdido, ainda existem pessoas que lêem.
Beijos da amiga de Brasília.

Ulli
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